A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 15% da população mundial em idade fértil sofre de problemas de fertilidade. Pensando nisso, o mês de junho ganhou reconhecimento como o mês da Conscientização da Infertilidade. Por isso, junho traz uma campanha que busca promover a prevenção do problema em todos seus estágios e alertar homens e mulheres para essa causa. Além disso, são realizadas diversas ações para alertar sobre o problema e falar sobre os tratamentos disponíveis para preveni-lo ou revertê–lo. Também é uma data dedicada para dar apoio aos casais que passam por dificuldades para engravidar e precisam de um tratamento especializado.
Segundo a União Europeia de Urologia, 15% dos casais afetados procuram tratamento para infertilidade e, deste número, apenas 5% continuam sem filhos. Isso se deve ao avanço a passos largos da medicina reprodutiva, que atualmente dispõe de técnicas que elevam consideravelmente as chances de um casal gerar um filho.
As técnicas de fecundação assistida evoluíram muito desde o nascimento do primeiro bebê de proveta, em 1978. Há menos de duas décadas, a taxa de sucesso da fertilização in vitro (técnica de reprodução assistida mais complexa e eficaz), era de, aproximadamente, 30%. Atualmente, as clínicas brasileiras trabalham com uma taxa de 40% a 45%. Atrelados a isso, está uma grande diversidade de fatores. Um deles é o alto grau de conhecimento e preparo dos profissionais — que não se limita ao médico. Os equipamentos e a competência dos profissionais são essenciais para tentar atingir o objetivo da gravidez por meio das técnicas de fertilização. Daí a importância de casais procurarem por clínicas de referência.
Avanços
O sucesso da reprodução assistida não é medido apenas pela porcentagem de nascimentos. Mas também pela possibilidade de congelar, adequadamente, o embrião para implantá-lo na hora em que o útero está mais preparado. Nos últimos anos, outro fato observado foi a quantidade de gestações múltiplas, ou seja, quando nascem gêmeos, trigêmeos ou quadrigêmeos, que caiu consideravelmente, pois os progressos permitiram implantar menos embriões no útero sem diminuir a chance de ao menos um se desenvolver.
No passado, até 50% das fertilizações in vitro bem sucedidas resultavam em ao menos dois bebês. Atualmente, esse número caiu para menos de 30%. Segundo o médico especialista em medicina reprodutiva, Daniel Diógenes, o nascimento de gêmeos duplos é aceitável, porém o ideal é o nascimento de um único filho por vez. “O corpo da mulher é preparado para gerar apenas um filho por vez. Por mais que muitas delas sonhem em ter gêmeos, a gravidez múltipla pode colocar em risco a mãe e os bebês. Quanto maior o número de fetos, maior o risco para ambos”, explica Daniel.
Medicina Reprodutiva no Brasil
No Brasil, a legislação permite que se transfiram somente de 1 a 4 embriões por vez, dependendo da idade da paciente. Segundo Daniel, em mulheres acima de 40 anos, podem ser implantados até quatro embriões a cada tentativa de engravidar. Já no caso da inseminação, a estimulação da ovulação é menor e espera-se que a mulher ovule entre um a três folículos. Mais do que isso, o tratamento é contraindicado pela chance alta de gestação múltipla. “Até três folículos, a taxa estimada de gravidez múltipla é de menos de 10%”, afirma Daniel.
De acordo com o 9º Relatório do Sistema Nacional de Produção de Embriões (SisEmbrio), publicado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), somente em 2015, 35,6 mil ciclos de fertilização in vitro foram realizados no Brasil. No ano anterior, o número havia sido de 27.871. A Anvisa considera como ciclo de fertilização in vitro os procedimentos médicos aos quais a mulher é submetida ao estímulo ovariano e retirada de óvulos para realizar a reprodução humana assistida.
Em dezembro de 2012, o Ministério da Saúde passou a oferecer o tratamento para infertilidade pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Os serviços oferecidos são: indução da ovulação, coito programado, inseminação intrauterina, fertilização in vitro e injeção intracitoplasmática de espermatozoides. Os tratamentos podem ser feitos através do SUS, dependendo apenas da disponibilidade deles em cada centro de saúde. Os exames necessários para o diagnóstico e tratamento do casal, como espermograma, histerossalpinogradia, ultrassonografia, dosagens hormonais e sorologias infecciosas, também nem sempre são oferecidos pelos hospitais.
Porém, talvez a maior dificuldade enfrentada pelos casais ao buscar tratamento para infertilidade gratuito é a fila de espera. O número de unidades saúde que oferece os serviços não é suficiente para atender a demanda pelo procedimento no país. O limite de idade para as mulheres que querem fazer o procedimento pela rede pública é de, no máximo, 40 anos.
Em alguns hospitais, a mulher ainda não pode sofrer de doenças crônicas, como diabetes descompensado, cardiopatias, entre outras, nem ser portadoras dos vírus HIV, hepatite e HTLV I/II, além de não poder ter tido três ou mais cesáreas anteriores. Vários estados do País, incluindo o Ceará, não contam com nenhum local que ofereça o tratamento de infertilidade através do SUS.
Quando procurar ajuda especializada
Segundo Daniel Diógenes, o casal que está tentando engravidar há mais de um ano sem êxito deve procurar ajuda. Ele explica que a mulher nasce com 1 a 2 milhões de óvulos e, já na puberdade, esse número cai para 300 mil. Por isso, no caso das mulheres, a idade é um fator primordial para as chances de gravidez. “Em pacientes com mais de 35 anos, a chance de engravidar cai consideravelmente. Além disso, quanto maior a idade, menor a qualidade do óvulo”, afirma o especialista. Além disso, o médico explica que as técnicas de reprodução assistida mais utilizadas são a inseminação intrauterina e a fertilização in vitro.