Sete da noite, avenida movimentada. Acidente de trânsito com vítima. O celular disca 192, chamada atendida. Tem início uma bateria de perguntas. “Mantenha a calma”, insiste a atendente. E repete, à exaustão, os questionamentos. O protocolo exige paciência de quem precisa de socorro, mas busca evitar que a ambulância dê uma “viagem perdida” – um dos efeitos graves dos trotes passados ao Serviço de Atendimento Móvel de Urgência. Em média, chegam às centrais dos dois órgãos 5 chamadas falsas por hora, 129 por dia e 3.879 por mês. Só em Fortaleza, que tem serviço municipal e exclusivo para a capital, foram 25.643 trotes no ano passado; os outros 183 municípios somaram 20.910 ligações falsas.
Nos últimos anos, as ações criminosas deste tipo têm diminuído, mas seguem numerosas e prejudicando o andamento do serviço essencial. O Samu Ceará alerta, inclusive, que “uma ligação de mentira vira um problema de verdade”. Em agosto de 2021, um dos períodos mais intensos da pandemia de Covid, entrou em vigor no Ceará a Lei que determina identificação e punição de autores de trotes ao Samu, órgãos de segurança e outros serviços públicos de urgência e emergência. “Anotado o número do telefone de onde se originou o trote, o órgão encaminhará os respectivos relatórios à Polícia Civil para devidas providências”, prevê o dispositivo legal. Ligações feitas em telefones públicos “serão anotadas em separado para futuro levantamento de incidência geográfica e posterior identificação, pelo órgão competente, do responsável pela sua realização”.
A prática de trotes ao serviço de urgência em saúde impacta não só em deslocamentos desnecessários, mas nos próprios protocolos adotados pelos órgãos. Em Fortaleza, o Samu municipal adota o projeto Samu Júnior como uma das estratégias de combate aos trotes. A iniciativa capacita crianças de 7 a 12 anos sobre técnicas e comportamentos na prevenção de acidentes e situações de urgência, além de reforçar a seriedade do serviço.