O poupador brasileiro é conservador e pouco afeito a diversificar suas escolhas de investimento. Dados apurados pelo Indicador de Reserva Financeira da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) mostram que 60% dos brasileiros que costumam guardar dinheiro aplicam esses recursos na caderneta de poupança. Outros 24% de entrevistados disseram manter o dinheiro na própria casa, enquanto 22% optaram pela conta corrente.
Outras modalidades de investimentos menos tradicionais e com mais rentabilidade foram menos citadas dos que as três primeiras colocadas, como fundos de investimentos (6%), previdência privada (6%), tesouro direto (6%), bolsa de valores (4%) e CDBs (3%).
Questionados sobre a razão de terem escolhido a poupança, conta corrente ou a própria casa para guardar o dinheiro que sobrou do orçamento, 30% dos entrevistados alegaram desconhecimento sobre o que fazer para investir em outras modalidades. Já 29% disseram preferir meios em que seja fácil sacar o dinheiro para casos de necessidade, enquanto 24% afirmaram possuir pouco dinheiro para aplicar em outros tipos de investimentos. Há ainda 19% de poupadores que acreditam ter escolhido os meios mais seguros para guardar seus recursos.
Para a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, a preferência majoritária pela poupança ou por guardar dinheiro em casa demonstra que até mesmo entre aqueles que têm o hábito de guardar dinheiro, há um certo acomodamento ou falta de informação.
A escolha de uma modalidade para investir deve sempre levar em conta o propósito da reserva. Se o objetivo é de longo prazo, o poupador deve buscar o melhor rendimento. Essa busca implica, muitas vezes, disciplina e um esforço de pesquisa dos melhores tipos de investimentos existentes. Já se o objetivo é constituir uma reserva contra imprevistos, será mais conveniente optar por um investimento com maior liquidez, isto é, com facilidade de saque, como é o caso da poupança e dos CDBs, analisa a economista.
Poupadores guardaram, em média, R$ 592 em outubro; imprevisto é principal motivo para poupança e 39% tiveram de sacar ao menos parte do que possuíam guardado
De modo geral, o Indicador de Reserva Financeira da CNDL e do SPC Brasil observou um aumento no percentual de brasileiros que conseguiram guardar dinheiro, embora siga em baixo patamar. Em setembro, ele estava em 17% e passou para 22% em outubro. Já a quantidade dos que não pouparam caiu de 74% para 68% em um mês. As pessoas das classes A e B pouparam mais que das classes C, D e E (43% contra 17%, respectivamente). Em média, aqueles que conseguiram poupar guardaram R$ 591,70 em outubro.
Entre os brasileiros que não pouparam nenhum centavo em outubro, 41% justificam receber uma renda muito baixa, o que inviabiliza ter sobras no fim do mês. A falta de renda também pesa, sendo mencionada por 22% desses entrevistados. Há ainda 14% de consumidores que disseram ter enfrentado imprevistos e 13% que reconhecem ter dificuldades para controlar gastos e manter a disciplina de poupança.
Considerando os poupadores habituais, a preocupação com o imprevisto lidera como o principal motivo de terem dinheiro guardado, com 50% de citações. Em seguida, aparece a intenção de garantir um futuro melhor para a família (30%), prevenir-se caso fiquem desempregados (28%). As aspirações de consumo só aparecem a partir da quarta opção, como realizar uma viagem (20%), comprar ou quitar um imóvel (12%) e adquirir um automóvel ou moto (12%). A preocupação com a aposentadoria não é algo que se destaca, citada somente por 16% dos que poupam.
“Quando o assunto é se preparar para a aposentadoria, o brasileiro ainda se acomoda com a contribuição compulsória ao INSS. O ideal é montar uma reserva paralela para que no envelhecimento, o padrão de vida possa ser mantido sem passar por sufoco ou depender de filhos e parentes”, explica o educador financeiro do portal ‘Meu Bolso Feliz’, José Vignoli.
O indicador ainda revela que quatro em cada dez (39%) brasileiros que possuem reserva financeira tiveram de sacar parte dos seus recursos guardados em outubro. Os principais motivos foram imprevistos (13%), pagamento de dívidas (10%) e realizar alguma compra (5%).