A reunião de líderes na 73ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) começa nesta terça-feira, 25, e o presidente Michel Temer, que chegou aos Estados Unidos no domingo, 23, vai seguir uma tradição que se estende há décadas: abrir o debate geral.

Todos os anos, o presidente brasileiro dá início às discussões, seguido pelo presidente americano. Mas por que o Brasil fala antes dos outros países, incluindo do anfitrião do encontro? Como se trata de uma trata mais de uma tradição, do que de uma regra escrita, não há registros formais das razões. Mas três teorias explicam esse nosso ‘privilégio’.

O Brasil se voluntariou nos primeiros encontros

Durante os primeiros anos da ONU, criada em 1945, nenhum país queria ser o primeiro a falar na assembleia. O Brasil, então, se voluntariava, sendo o primeiro orador em 1949, 1950 e 1951. A organização decidiu, finalmente, oficializar o país como aquele que abriria o debate geral a partir de 1955 – etapa em que os países apresentam seus discursos. “Ao longo do tempo, certos costumes emergiram durante o debate geral, incluindo a ordem dos primeiros a falar”, diz a organização em sua página oficial.

Desde 1955, a ordem de abertura tem sido: o secretário-geral da ONU, seguindo pelo presidente da Assembleia Geral, sucedido pelos representantes do Brasil e Estados Unidos – o país sede. Os demais países falam de acordo com a ordem estabelecida por um algoritmo que leva em consideração o nível de representação do orador, pedido de fala, entre outros. As únicas vezes em que o Brasil não abriu as oratórias foram nas sessões de 1983 e 1984, quando o presidente dos Estados Unidos Ronald Reagan falou primeiro.

O privilégio brasileiro permitiu que em 2011, durante a 66ª assembleia, a ex-presidente Dilma Rousseff fosse a primeira mulher na história a proferir o discurso de abertura. Na época, ela condenou a espionagem americana revelada por Edward Snowden.

Osvaldo Aranha e sua importância

Outra explicação para o privilégio dado ao Brasil é o reconhecimento ao brasileiro Osvaldo Aranha pela sua atuação em 1947, na segunda assembleia. Aranha presidiu a Primeira Sessão Especial da Assembleia, reunião histórica na qual foi aprovada a criação do Estado de Israel.

O papel do brasileiro ao apoiar a solução de dois Estados e garantir que a votação não fosse adiada rendeu elogios de diversos países e entidades sionistas, que chegaram a cogitá-lo como candidato ao Nobel da Paz.

Prêmio de ‘consolação’

Para o professor e coordenador do curso de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Matias Spektor, a regra é uma espécie de prêmio de consolação pelo Brasil não fazer parte do Conselho de Segurança. “Isso foi uma troca feita na época da criação da ONU, quando foi criado o Conselho de Segurança, com seus cinco membros permanentes.

Houve uma discussão sobre se o Brasil seria um membro. Na época o [Theodore] Roosevelt disse que poderia considerar, mas o [Winston] Churchill e o [Josef] Stalin vetaram a proposta. Como forma de reconhecer a ascendência do Brasil na América Latina, na época, optou-se então por criar essa regra”, afirma.

O presidente Michel Temer fará o discurso inaugural às 9h locais (10h Brasília), o último de seu mandato. O Itamaraty não antecipou quais devem ser os temas abordados no discurso. No ano anterior, ele disse que o país estava superando a crise econômica “com reformas estruturais” e condenou o protecionismo como meio de enfrentá-la.

“O objetivo é sempre o mesmo, passar as prioridades de política externa do Brasil. Provavelmente a mensagem deste ano será no sentido de falar dos últimos dois anos como um período de transição entre o impeachment da Dilma até as eleições”, diz o professor.

Mais de 190 países se reúnem até o próximo dia 1º para discutir temas como desenvolvimento sustentável, direitos humanos, saúde pública, entre outros. O tema principal é sempre orçamento da organização. Pela primeira vez, a reunião será presidida por uma mulher latino-americana, a ex-chanceler do Equador Maria Fernanda Espinosa Garcés.

“Esse ano a assembleia tem uma agenda muito pesada por causa de uma nova guerra fria que está surgindo entre o governo do Trump e o governo do Putin, além do acirramento entre Europa e Rússia. Nesse contexto, o secretário-geral está enfrentando muitas limitações orçamentárias. Os países precisam fazer os seus aportes, principalmente num contexto em que o Trump vem fazendo cortes. Isso com certeza vai refletir nas discussões”, conclui.

Com informações do Portal Uol Notícias