Quando sentimos dor nas costas ou nos pés, costumamos pedir uma massagem relaxante para nossos parceiros, pais e até amigos. Quando precisamos dar aquela relaxada depois de momentos estressantes, muitos fogem para um spa para garantir uma massagem profissional. E você já parou para pensar como a vida de um bebê pode ter momentos estressantes? Eles começam a sentir, pela primeira vez, fome, frio, desconforto e não sabem como expressar tudo isso para além do choro.
Assim como para os adultos, a massagem se torna uma importante aliada. A Shantala, técnica antiga de sabedoria indiana, é a opção mais indicada para os pequeninos. Combinando massagem, alongamento e o toque com a aplicação de óleo, ela traz benefícios para a saúde física e mental do bebê.
A Shantala ganhou notoriedade na década de 1970, quando um obstetra francês, Frédérick Leboyer, viajou para a Índia e observou uma mãe aplicando a técnica em seu bebê. Ele estava em Calcutá, em uma associação de caridade chamada Seva Sangha Samiti quando viu Shantala fazendo a massagem no seu filho Gopal. Ela ensinou os movimentos ao médico e permitiu que ele fotografasse o momento.
Ao trazer a massagem para o Ocidente, ele a batizou em homenagem a essa mãe. Apesar de sua popularização ter se dado nessa época, a técnica remonta os mais de 3 mil anos de tradição de massagens e oleações praticadas na Índia. A Shantala é vista, antes de tudo, como um gesto de amor entre pais e filhos. Enquanto é feita, o toque carinhoso na pele transmite ao bebê conforto e confiança, promovendo a sensação de relaxamento.
A fisioterapeuta e professora de Shantala Fernanda Massa (@fisiofernandamassa) ensina que os movimentos devem ser suaves, mas ao mesmo tempo, aplicar uma leve pressão sobre o corpo do bebê. O ideal é que comecem sempre pelo mesmo lado do corpo, o esquerdo, e sejam repetidos de três a seis vezes. Outra dica de Fernanda é investir em uma playlist relaxante e uma iluminação mais branda, deixando o momento ainda mais tranquilo.
Benefícios
Os benefícios para a saúde são diversos. Ela pode ser feita a partir do primeiro mês de vida do bebê e continuar até quando o bebê ou criança aceitar. “É ele que vai decidir até quando quer receber a massagem. O bebê será nosso mestre”, ressalta Fernanda.
A fisioterapeuta comenta que muitas mães e pais relatam uma resistência por parte dos nenéns e explica que o processo é normal. “O bebê vai estranhar tudo que ele não conhece, então o ideal é começar aos poucos, não insistir na massagem inteira. Apresente os movimentos nas partes do corpo que ele aceita melhor o toque e depois vá acrescentando”, ensina.
Outras dicas de Fernanda mantêm o foco na sensação de segurança do bebê. Na hora de tirar a roupinha, algo que pode ser incômodo para eles, remova as peças devagar e intercale com movimentos enquanto conversa com o bebê. Fazer uma espécie de contorno ao redor do corpinho, com uma almofada de amamentação, por exemplo, também o ajuda a sentir mais confiança. Dar algo que o bebê possa segurar, como fraldinhas de boca, é outra estratégia que aumenta a sensação de segurança.
“Antes de tudo é a reapresentação de um movimento que o bebê já fazia intraútero, então ajuda que ele tenha esse início de vida extrauterina se sentindo acolhido e amado, é uma forma de dizer que está tudo bem”, explica a fisioterapeuta.
Para a assistente social Diene Tavares Pereira, 31 anos, a Shantala foi essencial. Aos dois meses de idade, sua filha Talita Hadassa Tavares Pereira, hoje com 1 ano e 5 meses, sofria muito com cólicas e disquesia. Conversando com a massoterapeuta que a acompanhou durante a gestação, descobriu a técnica e como ela podia auxiliar nos incômodos que sua bebê tinha. “Foi muito positivo. Assim que comecei a fazer diariamente, o intestino dela melhorou, ela passou a dormir melhor e mais rápido. Foi algo que trouxe calmaria para a Talita e para nós, eu e meu esposo”, lembra.
Depois que Talita completou 6 meses, a rotina fez com que a frequência das massagens diminuísse, mas Diene conta que, até hoje, de vez em quando, ela faz a Shantala na filha e as duas compartilham o momento de carinho.
Grávida de quatro meses e esperando outra menina, a assistente social garante que vai começar a aplicar a Shantala na caçula assim que ela completar 1 mês de vida, quando a técnica é indicada. “Quero começar esse cuidado bem cedo, para evitar cólicas e estresse, além de ter esse carinho”, completa.
A nutricionista e instrutora de Shantala das Práticas Integrativas em Saúde (Pics) do Sistema Único de Saúde (SUS) Glacy Soares Vasquez ensina que os movimentos auxiliam no desenvolvimento motor e na consciência corporal, à medida que o bebê sente o toque em todos os membros do corpo e passa a entender os seus espaços e limites.
A massagem estimula o movimento linfático e a produção de enzimas usadas na síntese proteica, o que aumenta a imunidade celular, fortalecendo assim o sistema imunológico como um todo. O relaxamento é provocado pelo toque e pelo contato visual e próximo com o cuidador, diminuindo o ritmo cardíaco e respiratório. A prática estimula a circulação em todos os sistemas do corpo e reduz cólicas intestinais, aliviando e prevenindo gases.
A melhora do sono e o auxílio no ganho de peso e de crescimento também são embasados por estudos, inclusive, para os bebês prematuros, que costumam passar muito tempo nas Unidades de Terapia Intensiva e precisam de ainda mais contato físico com os pais.
E, por último, mas não menos importante, está o fortalecimento do vínculo entre bebê e cuidador. É um momento de conexão, em que os pais devem estar totalmente entregues, sem desviar a atenção com outras tarefas. Glacy também reforça a importância de que a Shantala seja ofertada de forma constante, de preferência, diariamente. “Não é após a primeira vez que veremos os benefícios, e nem sempre o bebê aceita. É necessário persistir para observar as melhoras”.
Os benefícios se estendem também a quem está aplicando a Shantala. Segundo Glacy, a técnica alivia processos de ansiedade e depressão nos cuidadores, fortalece a autoconfiança dos pais na maternidade e na paternidade, facilita a aprendizagem de maneiras para manipular e carregar o bebê, permite a observação atenta do neném, facilitando que os pais percebam qualquer sinal ou problema de saúde.
Para uma Shantala relaxante e positiva
A terapeuta integrativa, massoterapeuta e professora de Shantala Jéssica Bevilaqua (@floreser.terapias), ensina que para que a Shantala seja um momento positivo para cuidador e bebê, é necessário muito carinho e um ambiente propício. Confira algumas dicas da profissional para compartilhar essa conexão especial com seu bebê.
- Prepare o ambiente, ele deve estar tranquilo, silencioso e calmo e o bebê deve se sentir confortável nesse espaço. Certifique-se de que a temperatura esteja adequada. Uma música calma e luzes suaves, com tons verdes e azuis, além de um aroma de lavanda, contribuem para a sensação de tranquilidade.
- Escolha um óleo vegetal natural 100% puro, Jéssica indica os de semente de uva, amêndoas, óleo de coco ou gergelim. Ele também pode estar morno.
- Lave bem as mãos e retire todos os aneis e pulseiras.
- Posicione o bebê de barriga para cima em uma superfície macia e firme, como uma toalha no chão.
- Evite superfícies altas pelo risco de queda.
- Comece a massagem aplicando um pouco de óleo nas mãos e as esfregue para aquecê-las. Comece massageando as pernas, depois os braços, o peito e o rosto, terminando com as costas.
- Quando terminar a massagem, cubra o bebê com uma toalha ou cobertor quente e segure-o por alguns minutos. Isso ajudará a manter o bebê aquecido e confortável.
- É importante respeitar o bebê, se ele apresentar resistência a algum movimento, começar a chorar e reclamar, suspenda a massagem.
Quando a Shantala não é indicada?
- Quando o bebê está de estômago cheio
- Quando estiver com febre ou doenças agudas
- Se o bebê estiver com excesso de muco, coriza ou catarro
- Se o bebê tiver vomitado no dia
- Após vacinação recente
- Se tiver feridas abertas na pele
- Também é importante confirmar com o pediatra que acompanha o bebê se ele tem alguma condição de saúde que impeça a massagem
- Outro cuidado importante é nunca usar produtos com cânfora, mentol e eucalipto no bebê
Com informações do Folder Shantala, das Práticas Integrativas em Saúde (Pics) do Sistema Único de Saúde (SUS)
Técnica de aplicação simplificada, por Jéssica Bevilaqua:
- Massagem nas pernas: para iniciar a massagem nas pernas, comece acariciando suavemente as pernas do bebê, do quadril até os pés, usando as duas mãos. Em seguida, segure o tornozelo com uma mão e com a outra mão massageie suavemente a coxa, com movimentos circulares. Repita o mesmo movimento na outra perna.
- Massagem nos braços: a massagem nos braços é iniciada acariciando os braços do bebê, da axila até as mãos, com as duas mãos. Em seguida, segure o pulso com uma mão e com a outra mão massageie suavemente o braço, com movimentos circulares. Repita o mesmo movimento no outro braço.
- Massagem no peito: para massagear o peito do bebê, use as duas mãos e faça movimentos circulares suaves, seguindo o sentido horário. É importante evitar a área do mamilo durante a massagem.
- Massagem no rosto: na massagem no rosto, utilize as pontas dos dedos para fazer movimentos circulares suaves na testa, nas bochechas e no queixo do bebê.
- Massagem nas costas: para massagear as costas do bebê, coloque-o de costas na toalha e faça movimentos circulares suaves, começando na base da coluna vertebral e seguindo em direção aos ombros. É essencial evitar a área da coluna vertebral e o cóccix durante a massagem.
(*)com informação do Jornal CB