A 22 dias do início do período das convenções partidárias, os cinco pré-candidatos à Presidência da República mais que bem colocados nas pesquisas de intenção de votos ainda não apresentaram propostas detalhadas do que pretendem fazer na Presidência, caso vençam a disputa.
Os planos de governo só devem ser divulgados no período de formalização das candidaturas, que ocorrerá entre 20 de julho e 5 de agosto. Por ora, os políticos esboçam planos genéricos para tratar dos temas mais relevantes e espinhosos, como as reformas econômicas e os projetos para áreas tradicionalmente negligenciadas, como segurança, saúde e educação.
Patinando nas pesquisas, o pré-candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, se antecipou aos demais postulantes e divulgou nessa quinta-feira, 28, uma lista com 20 diretrizes que integrarão o eixo do seu plano de governo. Mas limitou-se a tópicos genéricos, como “infraestrutura”, “saúde”, “políticas sociais” e “defesa”. O plano de voo tucano não aprofunda o debate em nenhuma das 20 áreas.
Os idealizadores do programa não querem detalhar as propostas neste momento da pré-campanha porque temem cair no que chamam de “armadilha” de 2014, quando a então candidata pelo PSB, Marina Silva, hoje postulante da Rede, passou a campanha se explicando sobre as propostas do seu programa, apresentado antes das campanhas de Dilma Rousseff e Aécio Neves. A plataforma de Alckmin deverá ter entre 150 e 170 páginas.
Alckmin tem dito que, se for eleito, irá encaminhar ao Congresso, nas primeiras semanas de governo, projetos de reformas política, tributária, administrativa e previdenciária — a mais discutida antes da campanha. Porém, da mesma forma que seus adversários, não se aprofunda em detalhes da reforma da Previdência. Em maio, por exemplo, todos os principais pré-candidatos foram questionados pelo Jornal O Globo sobre o tema e silenciaram. “Todos os pontos do plano de governo terão três coisas a serem respondidas: melhoria da gestão, foco na qualidade do serviço para o cidadão e como financiar o setor”, diz o coordenador do programa, Luiz Felipe d´Avila.
Primeiro colocado nas pesquisas em que o nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não aparece, Jair Bolsonaro (PSL) pretende apresentar seu plano de governo apenas no fim de julho. O economista Paulo Guedes está à frente da área econômica, e o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) cuida dos demais setores do programa. As principais propostas, no entanto, ainda não vieram a público.
Bolsonaro já ensaiou um discurso sobre privatizações, em que defende a ampliação das operações, mas com restrição à venda de empresas consideradas estratégicas. Nessa quinta, chegou a dizer que pretende ampliar de 11 para 21 o número de ministros do STF. Até mesmo as ações em segurança pública, um dos motes da campanha do deputado federal, são vagas. A não ser algumas ideias já antecipadas, como distribuir fuzis a agricultores. “No que depender de mim, o produtor rural vai ter um fuzil em sua propriedade”.
Depois de apresentar propostas antes dos adversários na eleição passada, Marina Silva tem dito que não tem pressa para lançar o programa. Se eleita, Marina diz que revisará algumas das políticas mais importantes de Michel Temer, como o teto de gastos de longo prazo, mas não menciona os detalhes sobre como pretende enfrentar a crise fiscal. Informa que a prioridade do primeiro ano de governo seria a aprovação de uma reforma da Previdência, sobre a qual informou que pretende unificar regras dos setores público e privado. Também já avisou que pretende levar ao Congresso proposta para fim da reeleição a presidente.
Marina, porém, já detalhou pontos que pretende revisar na reforma trabalhista, já aprovada, como a regra de estabelece que o acordado entre patrão e empregado se sobrepõe ao legislado. No capítulo da sustentabilidade, uma das propostas é limitar as fronteiras agrícolas na Amazônia.
Ciro Gomes (PDT), por sua vez, também faz mistério sobre o plano de governo e só deve finalizar seu programa no fim do mês. A tendência é seguir o roteiro de Alckmin, com diretrizes genéricas sobre saúde, educação, emprego, economia. Uma das propostas de Ciro mais adiantadas é o Projeto Nacional de Desenvolvimento, cujo objetivo central seria a geração de empregos. O pedetista tem falado sobre a necessidade de retomar os incentivos à indústria nacional. “Temos que fazer aqui o que estamos comprando lá de fora”, discursou recentemente.
Ciro já avisou, porém, que irá cancelar os leilões do pré-sal e que nem pensa em privatizar setores estratégicos, como o de combustível (Petrobras) e energia (Eletrobras), também que desagradam investidores e operadores do mercado financeiro.
Na campanha de Álvaro Dias (Podemos), o programa deve ficar pronto um pouco antes da convenção. O nome do documento será “A refundação da República”, mote usado pelo pré-candidato. “Em algumas áreas, a gente vai detalhar mais, como Previdência, educação, saúde, segurança e emprego. Quanto ao resto, também não podemos ser muito genéricos. Na economia, dá para tratar de forma mais abrangente, como falar sobre o déficit fiscal e outras preocupações evidentes”, diz o consultor legislativo André Fernandes, um dos principais colaboradores do programa de Álvaro Dias.
Com informações e foto do Jornal O Globo