A incerteza causada pelo processo que discute no Supremo Tribunal Federal uma possível mudança na remuneração do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço vai atrasar o anúncio de um pacote de incentivos para o setor da construção que o governo Lula vem preparando e que estava previsto para ser anunciado nas próximas semanas. Como o FGTS é a principal fonte de financiamentos para a compra e a construção de moradias no Minha Casa, Minha Vida, a definição das medidas de incentivo para o programa habitacional depende do orçamento disponível no fundo. O Ministério das Cidades está discutindo com empresários da construção um conjunto de medidas para turbinar o Minha Casa, Minha Vida. Entre os temas em análise está uma possível elevação do valor máximo dos imóveis enquadrados no programa.

O setor quer um reajuste na ordem de 15%, sob a justificativa de que é necessário compensar a disparada nos custos de materiais ao longo dos últimos dois anos. Também se discute reduzir a quantidade de tetos de preço por região, o que implicaria elevar o valor máximo em cidades menores. Se o reajuste de 15% for confirmado, o valor máximo de uma moradia em São Paulo, por exemplo, passaria de R$ 264 mil para R$ 300 mil.  A discussão sobre uma possível mudança no modelo de remuneração do FGTS foi parar no STF após o partido Solidariedade dar início a um processo pedindo que a correção monetária dos recursos dos trabalhadores seja feita com base no IPCA. Antes do julgamento no Supremo Tribunal Federal, representantes de construtoras que trabalham com obras do Minha Casa, Minha Vida apresentaram ao Ministério das Cidades um estudo em que estimam um impacto de R$ 255 bilhões nos resultados do FGTS se a sua remuneração for atrelada à poupança.  A alternativa para manter o equilíbrio seria o fundo subir a taxa cobrada nos financiamentos do Minha Casa, Minha Vida em três pontos porcentuais, mas isso reduziria o poder aquisitivo da população. Atualmente, uma família com renda de R$ 1,9 mil possui capacidade de compra de um imóvel de até R$ 180 mil. Já com o aumento, para adquirir o imóvel de R$ 180 mil, a família precisaria de renda superior a R$ 4,2 mil. O resultado é que 75% das famílias seriam excluídas.