Acuado pela força-tarefa da Lava Jato e seus tentáculos – Calicute e Eficiência, esta deflagrada nesta quinta-feira, 26, para prender o empresário Eike Batista -, o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) estuda fazer delação premiada.
Preso desde novembro por suspeita de recebimento de uma mesada de R$ 850 mil das empreiteiras Andrade Gutierrez e Carioca Engenharia e atormentado com o ambiente hostil de Bangu 8 – onde cumpre com a mulher Adriana Anselmo regime de prisão preventiva -, o ex-governador já sinalizou a aliados muito próximos que está mesmo disposto a propor acordo de colaboração.
Cabral, dizem interlocutores do peemedebista, sabe que tem reduzidíssimas chances de se livrar da prisão pelos caminhos tradicionais – via habeas corpus – porque as provas contra ele reunidas pela Procuradoria da República e pela Polícia Federal são consistentes, na avaliação dos investigadores e dele próprio. Ele tem contra si três mandados de prisão, dois expedidos pelo juiz Marcelo Bretas, do Rio – Operações Calicute e Eficiência -, e um pelo juiz Sérgio Moro (Lava Jato).
A única saída viável seria firmar um acordo de delação premiada para, em troca, conseguir benefícios da Justiça, como responder às ações penais em liberdade. Benefícios que poderiam também ser estendidos à sua mulher.
Eficiência. Ao expor as ramificações internacionais do esquema de lavagem de dinheiro criado para escoar os valores desviados de obras no Rio, a Operação Eficiência pode ter sacramentado a escolha de Sérgio Cabral pela tentativa do acordo. O peemedebista, apurou o Estado, vinha conversando com seus advogados sobre a possibilidade e havia fechado a troca do atual defensor, Ary Bergher, pelo criminalista Sérgio Riera.
Riera foi responsável pela delação premiada na Lava Jato de Fernando Falcão Soares, o Fernando Baiano, apontado como operador do PMDB em contratos na Diretoria Internacional da Petrobrás. O advogado nega taxativamente ter sido contratado por Cabral. Segundo ele, seu trabalho, atualmente, está relacionado somente à defesa da ex-mulher de Cabral Susana Neves Cabral. Ela foi alvo de condução coercitiva na Operação Eficiência.
Entretanto, o Estado conversou com ao menos duas fontes com acesso ao núcleo de defesa de pessoas próximas a Cabral que confirmaram a escolha do político por uma negociação de acordo de delação. Essa fontes também informaram ao Estado que o companheiro de cela de Cabral, o ex-secretário de Obras do Rio de Janeiro Hudson Braga, é outro que já comunicou a Procuradoria e seus advogados sobre o interesse no acordo. Braga é apontado pela Polícia Federal como operador administrativo do suposto grupo criminoso ligado ao ex-governador.
Na Calicute, fase anterior à Eficiência, Braga foi preso e os investigadores mapearam bens em seu nome na cidade de Volta Redonda (RJ). A suspeita é de que ele utilizava um posto de gasolina e imóveis para lavar os valores oriundos dos desvios em contratos públicos.
No caso de Cabral, com a deflagração da operação, afirmou uma fonte ao Estado, a situação da defesa no mérito e com as ferramentes “normais” tornou-se insustentável. Além de revelar os detalhes da estrutura financeira no exterior, a delação dos irmãos Chebar, Marcelo e Renato, operadores financeiros responsáveis pelas contas em paraísos fiscais, também trouxe para a mira dos investigadores a ex-mulher de Cabral Susana Neves Cabral, e seu irmão Maurício de Oliveira Cabral Santos. Os novos familiares no foco da Lava Jato teriam consolidado o interesse do político em optar por um acordo.
Com informações O Estado de São Paulo