Para levar adiante a aproximação com o PDT de Ciro Gomes, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), terá que vencer forte resistência de seu partido e também de siglas aliadas. Maia é pré-candidato ao Planalto, mas admite que pode deixar o pleito caso entenda que outro postulante tem mais chances. A simples divulgação de que teria um encontro com Cid Gomes, irmão de Ciro, incendiou o entorno de Maia. O encontro acabou acontecendo longe das câmeras, tarde da noite, na quarta, 13.
“Esse cara não tem nada a ver com nosso partido. É instável e não soma nada ao DEM. Se ele [Maia] não for candidato, meu candidato é Jair Bolsonaro [PSL-RJ]”, disse Alberto Fraga (DEM-DF), líder da “bancada da bala”. A resistência a Ciro não se limita à ala mais à direita da legenda. Pesam ainda motivos como opção por outros candidatos ou resistência à verborragia do ex-governador do Ceará. O secretário-geral do DEM, Pauderney Avelino (AM), move ação na Justiça contra Ciro por injúria.
O líder da sigla na Câmara, Rodrigo Garcia (SP), apoia a candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB), de quem foi secretário da Habitação. Outro que resiste é Heráclito Fortes (DEM-PI), que considera que, caso Maia não seja o candidato, é melhor que se deixe o partido livre, apesar de isso enfraquecer a legenda. Reservadamente, um parlamentar do DEM considerou ainda que Ciro pode ser desidratado na disputa se o PT decidir lançar Fernando Haddad no lugar de Lula, preso em Curitiba.
A insatisfação no partido com a possível aliança extrapola o Congresso. O líder do MBL (Movimento Brasil Livre) Kim Kataguiri, que se filiou ao DEM para concorrer a deputado federal, afirma que seria “suicídio político”. “Seria contra tudo o que o partido sempre defendeu”, disse. Ciro é uma das três opções de apoio não só do DEM, mas de todo o bloco que o partido formou com SD, PP, PRB e PSC. Eles avaliam também aliança com Alckmin ou Alvaro Dias (Podemos). Juntos, esses partidos têm cerca de 150 segundos de tempo de televisão. Sozinho, o PDT tem 33 segundos. O grupo pretende andar unido na eleição. Entretanto, o PRB apresenta resistência ao estilo intempestivo de Ciro.
As desavenças com Ciro são antigas: em 2005, o então senador Antônio Carlos Magalhães chamou Ciro, então ministro da Integração Nacional de Lula, de covarde e desonesto – após o presidenciável ter chamado seu neto, atual presidente do DEM, de “anão moral”. Também não seria a primeira vez que o partido (ainda como PFL) o apoiaria: em 2002, o mesmo ACM declarou voto em Ciro, então no PPS. No presente, Maia tem trocado afagos com Ciro e disse que, apesar de uma aliança com o PDT não ser a maior probabilidade para o DEM, está aberto ao diálogo.
O presidente da Câmara tem procurado minimizar desavenças e já declarou que, a depender de quem chegar ao segundo turno, Ciro é “opção clara” para ele. “Quando o DEM precisou do apoio do PDT na minha primeira eleição a presidente da Câmara [2016], contou com eles no decisivo segundo turno. Assim se faz política, dialogando.”
Com informações do Jornal Folha de São Paulo