Quarenta e oito horas após as repercussões negativas e os desgastes gerados pelas duras críticas e ataques desferidos contra os ministros Alexandre de Moraes e Luiz Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente Jair Bolsonaro recuou no discurso mais radical e, nesta quinta-feira, sinalizou com palavras amenas para tentar harmonizar a relação com o Poder Judiciário.

Ao dizer que não cumpriria decisões do Ministro Alexandre de Moraes, Bolsonaro aprofundou a crise política, perdeu força na base que o sustenta no Congresso Nacional e viu ampliadas as articulações para a abertura de um processo de impeachment por crime de desobediência à Constituição Federal. Contra Moraes, o adjetivo mais pesado foi ‘canalha’

Uma possível guerra pela abertura de um processo de impeachment iria provocar ainda mais prejuízos ao governo, comprometeria o projeto de reeleição e atrasaria a agenda política e econômica do País que depende, também, do Judiciário e do Congresso Nacional.

A pauta dos precatórios, por exemplo, está condicionada a um amplo entendimento entre Judiciário, Legislativo e Executivo. Para adiar o pagamento de R$ 89 bilhões em precatórios no ano de 2022, a União depende das negociações que começaram a ser feitas com representantes dos três Poderes.

Aconselhado por muitos aliados, Bolsonaro, mesmo tendo votos suficientes para barrar a aprovação para a Câmara investiga-lo por crime de responsabilidade, optou pelo caminho mais curto e mais doloroso, que é a tentativa de distensionar o ambiente político. Por meio de nota, Bolsonaro atribuiu as críticas aos ministros do STF ao calor do momento.

A nota, elaborada com a ajuda do ex-presidente Michel Temer, destaca, entre muitos pontos, que Bolsonaro não teve intenção de agredir os demais Poderes. “Nunca tive nenhuma intenção de agredir quaisquer dos Poderes. A harmonia entre eles não é vontade minha, mas determinação constitucional que todos, sem exceção, devem respeitar”, expôs o presidente Bolsonaro, em uma nota que você ler, aqui, na íntegra.

+Veja a nota oficial:

Declaração à Nação
No instante em que o país se encontra dividido entre instituições é meu dever, como Presidente da República, vir a público para dizer:

  1. Nunca tive nenhuma intenção de agredir quaisquer dos Poderes. A harmonia entre eles não é vontade minha, mas determinação constitucional que todos, sem exceção, devem respeitar.
  2. Sei que boa parte dessas divergências decorrem de conflitos de entendimento acerca das decisões adotadas pelo Ministro Alexandre de Moraes no âmbito do inquérito das fake news.
  3. Mas na vida pública as pessoas que exercem o poder, não têm o direito de “esticar a corda”, a ponto de prejudicar a vida dos brasileiros e sua economia.
  4. Por isso quero declarar que minhas palavras, por vezes contundentes, decorreram do calor do momento e dos embates que sempre visaram o bem comum.
  5. Em que pesem suas qualidades como jurista e professor, existem naturais divergências em algumas decisões do Ministro Alexandre de Moraes.
  6. Sendo assim, essas questões devem ser resolvidas por medidas judiciais que serão tomadas de forma a assegurar a observância dos direitos e garantias fundamentais previsto no Art 5º da Constituição Federal.
  7. Reitero meu respeito pelas instituições da República, forças motoras que ajudam a governar o país.
  8. Democracia é isso: Executivo, Legislativo e Judiciário trabalhando juntos em favor do povo e todos respeitando a Constituição.
  9. Sempre estive disposto a manter diálogo permanente com os demais Poderes pela manutenção da harmonia e independência entre eles.
  10. Finalmente, quero registrar e agradecer o extraordinário apoio do povo brasileiro, com quem alinho meus princípios e valores, e conduzo os destinos do nosso Brasil.
    DEUS, PÁTRIA, FAMÍLIA
    Jair Bolsonaro
    Presidente da República federativa do Brasil