Após ter na campanha de 2014 seu melhor resultado eleitoral em uma disputa presidencial desde a chegada do PT ao poder, conseguir em 2015 levar Aécio Neves ao posto de favorito para as eleições de 2018, e obter resultado extraordinário nas eleições municipais em 2016, o PSDB chegou subitamente no meio deste ano ao purgatório, com índices de impopularidade comparáveis aos do PMDB e PT.
Ao analisar as escolhas feitas desde a reeleição da ex-presidente Dilma Rousseff, passando pelo apoio ao impeachment e o embarque no governo de coalizão, lideranças tucanas admitem erros, mas culpam o infortúnio pelo beco sem saída em que se encontram. Em primeiro lugar, fruto do que chamam de “imprudência” de Aécio Neves na relação com o empresário Joesley Batista. Em segundo, pelo fato de o presidente Michel Temer “não cumprir sua parte no acordo” de comprar o programa de reformas tucano. O secretário -geral do partido, Silvio Torres (SP), diz que foram vítimas das circunstâncias, porém não se pode esquecer das vitórias municipais do partido nas eleições de 2016.
Desde a reunião da Executiva nacional, exatamente há uma semana, quando a maioria decidiu manter o apoio ao governo, o PSDB tornou-se alvo preferencial nas redes sociais. E o surgimento de novas acusações contra o governo, já levou o presidente de honra do partido, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a surpreender os correligionários defendendo a renúncia de Temer e a convocação de eleições diretas para seu sucessor. Em entrevista à BBC Brasil, na última sexta-feira, o prefeito de São Paulo, João Doria, tentou justificar seu apoio à manutenção do suporte ao governo afirmando que a escolha do PSDB foi entre o “ruim” e o “péssimo”.
Os tucanos dizem que Temer jogou fora a oportunidade de reescrever sua biografia “se tivesse segurado seus doidos” e não tivesse se cercado de assessores que hoje são alvos sequenciais de denúncias, alguns inclusive já presos. O presidente interino do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), diz que o PSDB não teve opção. Apesar de estar alinhado com a ala jovem do partido que prega o desembarque e a continuidade do apoio às reformas, Tasso considera que o suporte ao governo de coalizão por um programa de recuperação nacional tornou-se inevitável após o apoio ao impeachment de Dilma Rousseff.
A deputada Mara Gabrilli (PSDB-SP), uma das que defendem o desembarque do governo Temer, diz que o presidente mostrou grande capacidade de trabalho e fez muito pela recuperação do país em pouco tempo. Mas hoje, segundo Gabrilli, tinha que ter humildade para admitir que a melhor solução, para todo mundo, seria sua renúncia.
O relator da reforma trabalhista no Senado, Ricardo Ferraço (PSDB-ES), diz que o PSDB errou ao não amarrar limites pela participação do partido no governo de Temer. Diz que os tucanos se acomodaram com as “benesses” do poder, e deixaram correr frouxo o descompromisso com a ética e a renovação da política. Na opinião dele, o governo Temer, com o tempo, ficou muito parecido com o governo de Dilma e o PSDB foi junto. Como autocritica, Ferraço defende o imediato afastamento de Aécio Neves, definitivamente, da presidência do partido para reduzir danos à imagem da legenda.
Com informações O Globo