O clima é de divisão, conflitos e muita troca de telefonemas nas últimas horas entre lideranças nacionais e estaduais do PSDB. O estopim da crise é o programa nacional veiculado, na noite dessa quinta-feira, em rede nacional de rádio e televisão, com duras críticas aos erros cometidos pelo partido, ao chamado presidencialismo de cooptação (referência a cooptação pelo Palácio do Planalto para garantir, em troca de cargos, apoio no Congresso Nacional) e defesa do parlamentarismo.
O conteúdo do programa teve a digital do senador e presidente interino da Executiva Nacional, Tasso Jereissati. O programa não exibiu imagem de qualquer liderança nacional ou regional da agremiação e, com um conteúdo representado por personagens, causou muita celeuma e insatisfação dos militantes do PSDB que hoje estão no Governo Federal e defendem a permanência do partido como aliado do presidente Michel Temer.
O senador Tasso Jereissati é a favor do desembarque do PSDB do Governo, mas é voz vencida. A crise interna se aprofundou ainda mais após a exibição do programa e, na noite dessa quinta-feira, começou a ser articulada a volta do senador Aécio Neves para o comando do PSDB. Aécio está afastado após as denúncias que o envolvem em suposto pedido de dinheiro aos dirigentes do grupo JBS.
De acordo com reportagem do Jornal O Estado de São Paulo, nesta sexta-feira, ‘’a conflagração interna que vive o PSDB desde a exibição, na noite dessa quinta-feira, da propaganda nacional do partido em cadeia de rádio e TV deve resultar na volta de Aécio Neves ao comando da sigla, apenas para designar outro dos vice-presidentes para ficar no lugar do senador Tasso Jereissati até dezembro, quando acontece a convenção nacional dos tucanos’’.
A reportagem destaca, ainda, que ministros, deputados, prefeitos, governadores e senadores tucanos reagiram com indignação ao programa de TV, que elenca erros do partido, insinua que seus integrantes foram “cooptados” para apoiar Michel Temer, associa o PSDB ao fisiologismo e à Lava Jato e propõe, sem que haja consenso interno, a adoção do parlamentarismo.
O clima pode gerar um ambiente favorável para Tasso tomar ainda nesta sexta-feira a iniciativa de deixar a presidência interina da legenda. Assim, caberia a Aécio reassumir — Tasso não pode designar outro para seu lugar — e escolher outro dos vices para o período tampão de três meses.
O ex-governador de São Paulo Alberto Goldman, também vice do PSDB, é a única opção descartada pelas lideranças tucanas, uma vez que tem “arestas” tanto com o governador Geraldo Alckmin quanto com o prefeito paulistano, João Doria Jr., os dois principais pré-candidatos do PSDB à Presidência.
O programa nacional do PSDB, segundo a reportagem do Estadão, foi decidida por Tasso e produzida por publicitários ligados ao senador cearense, sem consulta às instâncias internas do partido e a seus vários caciques. Quando reassumiu o mandato no Senado, Aécio questionou Tasso sobre o programa, e ouviu em resposta que ele já estava finalizado.
Nos últimos dias, diante do vazamento do conteúdo da peça publicitária, ganhou corpo no PSDB o movimento para destituir Tasso, que atingiu o ápice nas últimas horas. O senador cearense Tasso Jereissati tem, em sua agenda, nesta sexta-feira, em Fortaleza, encontra com o prefeito de São Paulo, João Doria, que é pré-candidato à Presidência da República e, nos últimos dias, tem visitado cidades do Norte e Nordeste.