Aos aliados, o bônus da lealdade. Aos infiéis, o ônus da traição. É, assim, que o Palácio do Planalto está agindo para garantir os votos necessários para o Plenário da Câmara dos Deputados barrar a segunda denúncia contra o presidente Michel Temer. A votação está na agenda desta semana da Câmara Federal. Se escapar da denúncia, Temer terá ainda 14 meses de mandato e, nesse período, espera manter uma base de apoio parlamentar que o garanta a aprovação de algumas medidas e contribua para o Governo capitalizar as ações no campo econômico.

Entre os aliados mais fieis, uma quase certeza: o  governo está disposto a retaliar os deputados da base aliada que não apoiarem o presidente Michel Temer na votação da segunda denúncia. Os assessores de Michel Temer fazem avaliação sobre os votos que o presidente somará na votação prevista para essa quarta-feira, Temer se reuniu, na noite desse domingo, no Palácio da Alvorada,  om ministros e líderes governistas para avaliar a tendência de votos. A votação é entendida como um teste de fidelidade da base e servirá para medir com quem o Palácio do Planalto pode ou não contar de agora em diante.

A  ameaça de retaliação aos aliados que tem cargos no Governo, mas que não querem o possível ônus por votar contra a investigação das denúncias por corrupção passiva feita pela Procuradoria Geral de Justiça, é feita em mensagens e recados. Os auxiliares de Temer afirmam que os infiéis perderão cargos no governo, o que pode levar à necessidade de uma reforma ministerial. O diagnóstico é que a pressão do Palácio do Planalto servirá para parlamentares indecisos reavaliarem posições, porque os partidos não vão querer perder postos estratégicos às vésperas do ano eleitoral de 2018.

A maior incógnita, até agora, diz respeito ao PSDB. Em 2 de agosto, na votação da primeira denúncia apresentada pelo então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra Temer, por corrupção passiva, os tucanos se dividiram. Na ocasião, 22 deputados do PSDB foram a favor do arquivamento da acusação, mas 21 se posicionaram pela abertura do processo no Supremo Tribunal Federal (STF). À época, afilhados políticos de infiéis perderam cargos de segundo e terceiro escalões, mas os tucanos foram poupados.

O PSDB comanda quatro ministérios (Cidades, Secretaria de Governo, Relações Exteriores e Direitos Humanos) e, desta vez, vai liberar o voto da bancada. O Planalto espera o apoio da ala pró-Aécio Neves, já que o governo trabalhou para que os senadores aliados mantivessem o mandato do tucano, que havia sido afastado do cargo por decisão da Primeira Turma do Supremo.

Temer vai se reunir com líderes da base aliada nesta segunda e terça-feiras. Dez ministros que são deputados já foram exonerados temporariamente e retornaram à Câmara para ajudar o governo e pedir votos a favor de Temer. Pelas contas do Planalto, o presidente pode ter agora cerca de 240 votos, 23 a menos do que os 263 obtidos quando a primeira denúncia foi apreciada na Câmara. Mesmo assim, a avaliação é de que, passada essa etapa, o governo conseguirá recuperar fôlego para retomar projetos importantes. Com essa expectativa, a equipe de Temer já prepara o “day after” da crise e vai lançar o mote “Agora é Avançar”. O slogan aparecerá em campanhas publicitárias, discursos, programas e também nas redes sociais.