Ainda é um universo desconhecido para muita gente, mesmo hoje em 2024, mas eles estão aí, são os assexuais. Falei pela primeira vez sobre esse assunto em 2013 em matéria no MSN. Eles formam um grupo diferente. Não curtem relacionamentos sexuais. Nenhum problema com a libido e eles a mantêm cada um à seu modo, em graus variados, podendo ou não utilizar um bom sistema de autossatisfação… Mas essa é uma atividade pessoal e íntima, nunca compartilhada com o parceiro.
Sim, eles têm parceiros, namoram e se casam! Partilham uma vida a dois sem, contudo, se unir sexualmente. São amorosos, querem o encontro e a cumplicidade, mas, abrem totalmente mão do sexo.
A principal característica é a ausência de atração sexual, ou seja: um assexual não sente desejo de se relacionar sexualmente. Namoram, amam e vivem assim. Fazem parcerias entre eles e os relacionamentos são duradouros. Poucos relatam brigas ou ciúmes, são serenos e seguros porque sabem que essa escolha é, para eles, legítima e coerente.
Raramente se sabe de um casal que tenha rompido o acordo e incluído o sexo em sua união, mas se isso acontecer e houver reciprocidade, por que não? O que não é aceitável entre os assexuais é que um dos parceiros “force a barra” com o outro para a quebra do acordo. Essa é uma regra de conduta e deve ser respeitada. E, é claro, os casais são formados a partir do conhecimento e aceite dessa conduta.
Muitas vezes a pessoa se descobre assexual já na vida adulta, depois de muito sofrimento, se relacionando com outras pessoas sempre com a sensação de não gostar de sexo e perceber o encontro sexual como uma violência contra si mesmo. Muitos relatam a alegria e a sensação de liberdade ao se descobrir assexual, isso porque antes, ao forçar uma atividade contrária ao seu desejo, colhia muito mais insatisfação do que prazer e ao descobrir que simplesmente não gosta de sexo e que existem outras pessoas que também não gostam, soa quase como uma libertação. E como disse, se um assexual sente excitação, a satisfação pessoal é possível. E lógico, há outros que não sentem excitação, abstendo-se totalmente da autossatisfação.
E não há predominância de sexo, homens e mulheres podem se descobrir assexuais e aceitar a condição, desenvolvendo a partir dessa “aceitação” novas regras de conduta.
Considero importante que a pessoa que não gosta de sexo a dois (já que a autossatisfação é uma prática sexual e alguns assexuais a utilizam) tente analisar-se profundamente. Uma decepção amorosa, bloqueios, um trauma, podem fazer cessar o desejo sexual por um tempo e um bom apoio psicológico pode ajudar essa pessoa fazendo com que retome sua vida sexual normal.
Esse não é o caso de uma pessoa assexual, que faz a opção de viver sem sexo, não sente falta e é feliz assim.
E são bons parceiros amorosos? O que sabemos é que são mais desprendidos, já que na maioria inexiste o ciúme doentio e eles não sentem a necessidade de possuir o outro. Claro que alguma divergência sempre existirá, afinal, são seres humanos vivendo junto, e eles discutirão como qualquer casal, mas a carga do sexo, para o bem ou para o mal, não contará nesta equação, o que acrescenta certa leveza ao relacionamento.
Enfim, eles vivem, amam, se alegram e curtem a vida como qualquer pessoa e devem ser respeitados em sua escolha. E vamos combinar que o Poeta estava certíssimo ao afirmar que qualquer maneira de amor vale a pena!
Como vivem os casais assexuais?
1) A maioria dos que entrevistei preferem viver juntos até por comodidade mesmo (carro, casa, despesas), não é incomum que dividam os afazeres domésticos, confesso que os achei muito mais alegres e dispostos do que muitos casais “não assexuais” que conheço.
2) A diversão (cinema, teatro, restaurantes) é parte integrante da semana do casal, são bem disponíveis em tempo, afinal, a maioria não tem filhos…
3) Amigos: O estreitamento emocional se dá pela troca de confidência e total dedicação um ao outro. São carinhosos o tempo todo, como disse na matéria quase não há divergências, ambos procuram entender um ao outro…
4) Muitos curtem viajar e um casal me relatou que somente neste relacionamento os dois tiveram disposição para conhecer outros países, antes em outros relacionamentos “normais”, o excesso de trabalho, cobranças etc os desanimavam…
5) Não ter crianças na família não é uma condição definitiva e muitos adotam. Uma jovem me relatou o desejo de mais tarde (está terminando a faculdade) adotar um bebê.
(*)com informação do Jornal Extra