Uma pesquisa da FGV Social, denominada ‘Covid, classes econômicas e o caminho do meio’, realizada com base em dados do IBGE, aponta que a Classe C cresceu em todo o Brasil embalada pelo auxílio emergencial e, também, com a crise sanitária que fez muita gente perder renda e poder aquisitivo, empurrando-as para um menor padrão de consumo. O quadro revela como o benefício fez milhares de cearenses ascenderem no estrato social.


O estudo, com informações publicadas, nesta sexta-feira, pelo Jornal O Globo, cita que a renda gerada com o auxílio emergencial, com as parcelas de R$ 600,00 pagas até o mês de agosto, mudou o panorama social e econômico dos beneficiários que estavam abaixo da Classe C. O Ceará, por exemplo, saiu de 43,05% de pessoas na Classe C para 57,08%.


O diretor da FGV Social, economista Marcelo Neri, cita nessa reportagem que o contingente do meio da pirâmide social (Classe C) chegou a 63% da população, ou seja, 133,5 milhões de pessoas. Em 2014, conforme ele, eram 55,10% nessa faixa populacional com melhores condições de renda e consumo.


Os números levam o economista a uma análise sobre os efeitos da injeção financeira a partir do auxílio emergencial no orçamento doméstico de milhões de brasileiros.

“Aumentou muito o auxílio emergencial, com uma dose cavalar de transferência. Em nove meses, representa nove anos do Bolsa Família. Com isso, 15 milhões de pessoas saíram da pobreza”, calcula.

CLASSE MÉDIA ENCOLHIDA


A ampliação da Classe C é atribuída, também, em menor parcela, à queda brusca na renda de trabalhadores que, até o mês de março, estavam em sua situação econômica mais confortável e que, com o início da pandemia, sofreram com o desemprego ou o encolhimento de fontes de receitas. Com essa virada de mesa, 4,8 milhões de pessoas da classe média alta (que tem rendimento per capita a partir de dois salários mínimos) perderam renda e desceram para Classe C.


Um dos pontos do estudo, transformado em números, mostra que, em todo o Brasil, entre 2019 e o mês de agosto deste ano, 21,4 milhões de pessoas entraram na Classe C, sendo 15 milhões que deixaram a pobreza, 4,8 milhões da classe média que perderam renda e engordaram a faixa intermediária e mais 1,6 milhão de aumento populacional.

ASCENSÃO E QUEDA


O ciclo de mesa mais farta e dinheiro para aquisição de bens e reformas de residências, como as estatísticas e dados oficiais do Governo Federal e de entidades empresariais mostraram ao longo do último trimestre, pode ter uma reviravolta com a redução do valor do auxílio emergencial para R$ 300.

O Governo Federal reduziu o valor para manter uma renda mínima para os trabalhadores desempregados e informais que continuam sofrendo as consequências econômicas da pandemia da Covid-19. O auxílio emergencial será mantido até o mês de dezembro e, a partir de setembro, a média mensal de despesas da União com o benefício deve ficar na faixa de R$ 25 bilhões.


A exclusão de milhões de pessoas que foram tiradas do programa porque conseguiram empregos, estão com carteira assinada, recebem benefícios previdenciários ou moram no exterior, fez o governo federal enxugar ainda mais os gastos, provocando, assim, diminuição do volume de dinheiro que ajuda a girar a economia.


As projeções que apontam para o fim do auxílio emergencial no mês de dezembro dão indicativo para uma mudança mais acentuada nas condições de renda e de consumo da população.


Se confirmada a suspensão do benefício, a classe C, pelos estudos dos economistas, voltará a sofrer. Como reflexo, os 15 milhões de brasileiros que ascenderam à Classe C, conforme aponta o estudo da FGV Social, começam a voltar para uma linha de pobreza mais baixa uma vez que, no primeiro trimestre de 2021, a economia não estará aquecida o suficiente para reincorporar ao mercado de trabalho milhões de pessoas que perderam o emprego a partir do mês de abril deste ano.