Como esperado pelo mercado, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, de forma unânime, manter a taxa básica Selic em 6,5% ao ano. Mas o comunicado divulgado pelo Banco Central (BC) é recheado de sinalizações de que haverá redução dos juros na próxima reunião, que ocorrerá no fim de julho. Analistas afirmam que o corte poderá ser de 0,5 ponto percentual, levando o índice para 6% — o menor da série história.
Desde março de 2018, a taxa já está no menor nível registrado. Apesar disso, a economia parou de responder nos últimos trimestres, abrindo espaço para novas diminuições. A primeira grande sinalização do BC de que a Selic deve ser reduzida na próxima reunião é a ressalva sobre a retomada da economia.
“Indicadores recentes da atividade econômica indicam interrupção do processo de recuperação da economia brasileira nos últimos trimestres. O cenário do Copom contempla retomada desse processo adiante, de maneira gradual”, informou.
A economista Patrícia Pereira, especialista da Mongeral Aegon Investimentos, disse que não esperava uma sinalização tão forte. Para ela, o BC se saiu bem ao passar a mensagem. “Ao tratar sobre a interrupção da recuperação econômica, vimos o comentário bastante assertivo e não deixa margem para dúvida”, afirmou.
Além disso, a autoridade monetária está prevendo uma inflação muito abaixo da meta estipulada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 4,25% para este ano e de 4% para 2020. As projeções do BC para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficaram em 3,6% e 3,9%, respectivamente. “Esse cenário supõe trajetória de juros que encerra 2019 em 5,75% ao ano e se eleva a 6,50% em 2020”, enfatizou o comunicado.
Afrouxamento
A inflação sofre resistência para subir com a atividade econômica fraca. Os especialistas já aguardavam um choque maior de preços no primeiro semestre, mas o índice caminha para níveis abaixo de 4%, segundo projeções de analistas de mercado. Fora isso, o cenário externo é mais favorável para países emergentes em função da tendência de afrouxamento monetário internacional.
Para a especialista da Mongeral Aegon, o único ponto de risco é a reforma da Previdência.
“Embora tenha evoluído em relação à última decisão, já que agora a proposta já passou pela CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) e está na reta final da Comissão Especial, ainda não está consolidado na Câmara. Existe um ambiente de melhora que faz com que o mercado esteja reagindo positivamente, mas o BC foi corretamente cauteloso em esperar uma definição melhor do cenário”, avalia Patrícia.
Cortes
Para chegar aos 5,75% ao ano, o Banco Central poderá passar por três cortes de 0,25 ponto percentual ou por um de 0,5 ponto, seguido de dois de 0,25. O economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luis Otávio de Souza Leal, entende que o ritmo vai depender do que o BC espera em relação à reforma da Previdência. A autoridade monetária poderá esperar a aprovação no primeiro turno ou esperar consolidar o tema na Câmara.
Caso a autoridade monetária espere a tramitação completa, há probabilidade de iniciar um corte mais forte do que 0,25 ponto.
“É uma questão de dimensões. Quanto mais cedo começar a cortar, mais cedo começa o impacto e o tamanho do corte. Esperando a tramitação inteira da reforma, haverá compensação das duas reuniões que não tiveram corte”, explicou.
Na interpretação do BC, “a continuidade do processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para a queda da taxa de juros estrutural e para a recuperação sustentável da economia”.
(*)com informação do Correio Braziliense