Embora goze de confortável vantagem nas pesquisas eleitorais e já tenha declarado na semana passada que está com “uma mão na faixa”, o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) determinou que seus aliados mantenham o silêncio na reta final da campanha, para evitar que o clima de “já ganhou” contamine seus eleitores.
A ordem é que nenhum de seus auxiliares fale nada sobre o que será feito após o domingo (28), dia do segundo turno, em caso de vitória. Transição de governo ou nomes de possíveis ministros estão entre os assuntos proibidos. A determinação está sendo seguida à risca, segundo bolsonaristas, para não abrir nenhum flanco para desgastes de última hora.
Apesar disso, nesta quinta, Bolsonaro convocou uma rara entrevista coletiva, antecedida por cerimônia simbólica em que ele recebeu a faixa preta de jíu-jitsu de dois mestres.
O presidenciável recebeu dezenas jornalistas de diversos veículos e falou por pouco mais de dez minutos, concedeu breves entrevistas separadas às quatro maiores emissoras de televisão do país, Globo, Record, Band e SBT.
Falar com jornalistas é um dos hábitos desencorajados pelo deputado federal que disputa o Palácio do Planalto em conversas com os integrantes da campanha. A ideia é que a divulgação de informações seja centralizada no próprio Bolsonaro, tanto pelas redes sociais como em entrevistas quase diárias a emissoras de televisão e rádio, ou nas raras coletivas concedidas por ele.
Na manhã desta quarta-feira (24), o deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS), já anunciado como ministro da Casa Civil do eventual governo Bolsonaro, se negou veementemente a fazer qualquer comentário sobre os dias seguintes à eleição. “Só uma mão [na faixa] não resolve nada”, comentou, ao ser lembrado pela reportagem da frase de Bolsonaro.
O presidente eleito terá direito a pedir ao governo federal equipe de seguranças e a nomear 50 assessores para cargos comissionados no processo de transição. As prerrogativas são asseguradas pela legislação que regulamenta o período da troca do comando do Palácio do Planalto.
Evidências da “lei do silêncio” estão presentes na discrição demonstrada recentemente pelos dois filhos de Bolsonaro que disputaram eleições esse ano, o deputado estadual Flávio (PSL-RJ), eleito senador, e o federal Eduardo (PSL-SP), reeleito para o cargo com a maior votação da história.
Segundo informou a assessoria de imprensa do primeiro à reportagem do UOL, até o domingo ele não dará entrevistas ou terá contatos com a imprensa, focando suas energias apenas na campanha do pai.
Nesta quinta-feira (25), ao sair da casa de Paulo Marinho, um dos aliados de Bolsonaro, Flávio disse aos jornalistas: “Não tenho nada para falar com vocês”.
Eduardo, que se viu no centro de uma polêmica por contas de declarações feitas em julho sobre “fechar o STF (Supremo Tribunal Federal)”, limitou-se a divulgar nota de esclarecimento pelo Twitter no fim de semana e se resguardou, depois de receber reprimendas públicas do genitor.
Presidente em exercício do PSL, o advogado Gustavo Bebianno também tem driblado questionamentos sobre as eventuais ações de Bolsonaro como presidente eleito. Ele costuma dizer que tudo será decidido em seu tempo, apenas em caso de confirmação da vitória.
O candidato a vice, Hamilton Mourão (PRTB), general da reserva do Exército, submergiu desde o mês passado depois de ser orientado pelo companheiro da chapa a se calar. O mesmo valeu para o economista Paulo Guedes, apontado pelo próprio Bolsonaro como futuro ministro da Economia de sua gestão.
Na tarde desta quarta, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), um dos filhos do presidenciável, publicou no Twitter uma orientação aos bolsonaristas. “Fiquem alertas para alguns que maldosamente estão dando essa eleição como garantida”, escreveu.
“A intenção destes é fazer nosso lado relaxar. Peço que cada um de nós continue com esse trabalho desmentindo as falácias e mentiras do PT e defendendo nossos valores até o último minuto. Vamos!”, completou o parlamentar, que acompanha o pai diariamente dentro de casa e o ajuda a usar suas redes sociais.
Foi o recado mais explícito de uma estratégia que vem sendo adotada com menos rigor nas últimas semanas, até que o próprio Bolsonaro fizesse um apelo durante transmissão ao vivo pelo Facebook na noite dessa quarta (24).
O presidenciável pediu a aliados que foram eleitos esse ano para que entrem na “briga” da disputa pelo Palácio do Planalto. “A eleição não acabou ainda”, alertou Bolsonaro, depois de reclamar que tem achado “muito fraco” o engajamento daqueles que estão do seu lado, enquanto os opositores têm, segundo ele, difundido mentiras a seu respeito nas redes sociais.
No último dia 11, Bolsonaro falou a correligionários e aliados que “tomem muito cuidado com a mídia”. “[Ela] quer ganhar uma escorregada para me atacar. Recomendo nem falar [com jornalistas], que parte da mídia quer nos desgastar.”
Com informação do UOL