Junte um pouco de barro e esterco com água, faça uma bolinha de mais ou menos 5 centímetros de diâmetro. Abra-a, coloque sementes dentro, refaça a bolinha e coloque-a para secar ao sol. Essa é a receita das “bombas do bem” que estão sendo utilizadas na cidade do Crato, região do Cariri, no sul do Ceará, para reflorestar áreas da Chapada do Araripe que foram destruídas por incêndio no ano passado.
A tecnologia social, de origem japonesa e utilizada na permacultura, está sendo disseminada pela Sociedade Anônima de Água e Esgoto do Crato (Saaec) em escolas e comunidades da cidade, com o objetivo de “formar formadores”, expressão usada pela consultora do Núcleo de Educação Hidroambiental do órgão, Ana Cristina Diogo, responsável pela parte educacional do projeto.
No dia 22 de março, Dia Mundial da Água, 10 mil bombas de sementes feitas por estudantes foram lançadas, de um helicóptero, na encosta da Chapada do Araripe, próximo à nascente da Caiana.
O local, segundo Ana Cristina, é considerado o habitat do Soldadinho-do-Araripe, ave que está em risco crítico de extinção. “Essa área tem uma importância muito grande. Se não tivermos pressa, vamos perder o Soldadinho-do-Araripe em 15 anos”, alerta.
Na receita da bomba de sementes, segundo a consultora, entram essências florestais nativas. No dia 24, houve novo lançamento de bombas – desta vez durante uma trilha de 2,5 quilômetros com estudantes na área da nascente da Preguiça. De acordo com Ana Cristina, a nascente deságua em outra nascente, a da Batateira, que é fonte da água que abastece a cidade do Crato e cuja vazão está diminuindo.
“A gente planta uma árvore para colher água, porque é a árvore que garante a permanência da água subterrânea”, explicou. Além das sementes, também foram plantadas mudas de árvores oriundas da mata úmida, como o jatobá.
A perspectiva da Saaec é produzir e lançar na encosta da Chapada do Araripe 1 milhão de bombas de sementes, até o fim do ano, mas Ana Cristina ressaltou que o órgão quer aproveitar o período chuvoso, que vai até maio, para lançar o maior número possível de sementes. Segundo ela, esse é o melhor período, pois a água quebra a casca de barro e esterco e infunde as sementes no solo.
Além do lançamento das bombas de sementes, a iniciativa da Saeec inclui o monitoramento dos locais onde elas foram lançadas, para ver o resultado da ação. Esse trabalho também vai envolver os estudantes que participaram da confecção das bolinhas. No fim de abril, eles irão ao local onde foram lançadas as primeiras 10 mil bombas, acompanhados de um engenheiro florestal.
“A bombinha de semente virou um ícone, o símbolo da preservação do momento. Queremos que essa experiência seja sustentada, que não seja só pontual”, afirmou a consultora Ana Cristina. O projeto também criou uma revista em quadrinhos que trata da origem da água do Cariri e da importância da preservação das nascentes e do uso consciente de água.