Ministro de Minas e Energia do Governo Michel Temer (MDB) e um de seus braços direitos, Moreira Franco disse, em entrevista ao Jornal Folha de São Paulo, neste domingo, 4, que o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) tem experiência parlamentar suficiente para saber como se negocia no Congresso e que seu problema não será político, mas econômico.
“Ninguém fica 30 anos na Câmara sem aprender”, disse Moreira. Segundo o ministro, Bolsonaro “não pode errar” na condução da economia para não viver “os mesmos constrangimentos” de outros governos.
Confira abaixo a entrevista completa com Moreira Franco, ministro de Minas e Energia do Governo Temer
Como o senhor avalia a vitória de Jair Bolsonaro?
É resultado de um processo que começou nas manifestações de 2013, ainda no governo Dilma. Dava para sentir a insatisfação das pessoas com a situação econômica. A crise fiscal inibiu a capacidade de investimento do governo, as pessoas perceberam que havia um descolamento entre promessas e realidade, pararam de confiar no governo e foram para as ruas. Já naquele momento, começou-se a sentir a presença de uma coisa militar.
De um movimento de apoio à ditadura ou a uma figura como Bolsonaro, que diz que não houve ditadura e já defendeu a tortura?
Não era Bolsonaro ou alguém. Pela primeira vez surgiu uma memória positiva da experiência militar. Já em 2013, a pauta era muito mais voltada para questões morais e de valores, como família, segurança e corrupção, do que alternativas para resolver a crise econômica. Bolsonaro expressava esse sentimento, porque teve uma militância na Câmara identificada com uma pauta conservadora e não se dedicou a alternativas para a crise.
Ele tem condições para se dedicar à crise?
Sim. A principal é legitimidade. Ele é o presidente eleito por vontade de uma maioria expressiva. É fundamental na vida política o respeito às instituições e o presidente da República é uma instituição.
Apesar de estar no Congresso há 27 anos, Bolsonaro se vendeu como novo, que rechaça práticas da política tradicional. O senhor acha que ele vai conseguir governar sem acordos?
Ninguém fica 30 anos na Câmara sem aprender. Ali você tem a possibilidade de conviver e ver como as coisas se resolvem. Bolsonaro tem experiência para isso, sabe como funciona a composição de maioria. Sabe que ao longo dos 30 anos em que ele passou por lá mudou muito — e mudou para pior — como as maiorias se fazem. Sabe o tamanho da dificuldade que os governos vêm tendo para compor maioria.
Bolsonaro vai conseguir governar sem o centrão e o MDB?
Ele sabe que precisa do Parlamento e que o Parlamento é onde você constrói suas alternativas. Bolsonaro consegue distinguir como se dão e quais as consequências dos dois tipos de negociação que têm se verificado no Parlamento: um em que o ganho financeiro era o objetivo principal, usado no mensalão, e o outro em torno da execução de políticas públicas. Ele precisa focar o esforço em dois pilares: o teto de gastos e a reforma da Previdência.
O ministro da Economia de Bolsonaro, Paulo Guedes, disse que quer aprovar ainda este ano pelo menos parte da reforma da Previdência. Isso é possível?
Se houver vontade política, sim.
Temer não conseguiu aprovar a proposta. Por que seria diferente agora, com um governo sem força política e quase no fim?
Não conseguiu porque foi vítima de uma campanha moral brutal contra ele, que começou na véspera da votação da reforma [em 17 de maio de 2017, após a aprovação da reforma da Previdência na comissão especial da Câmara, veio a público o conteúdo da delação da JBS, que culminou nas denúncias contra Temer]. Hoje você junta governo que está saindo com o que está entrando.
Qual a força do governo Temer para ajudar Bolsonaro a aprovar uma medida impopular?
Um governo, quando começa, começa muito forte. O governo Temer está disposto a se engajar nesse processo, mas quem vai conduzir é o governo Bolsonaro. Pode até ser que ele, neste momento, não se sinta confortável em votar a reforma da Previdência, mas sinalizar que quer, como está sinalizando, já é positivo.
Temer espera algo em troca, como um salvo-conduto caso seja condenado na Lava Jato?
Claro que não. Não tem nada a ver com questão moral ou jurídica, tem a ver com a questão econômica.
Como Bolsonaro vai conquistar apoio se dois de seus principais auxiliares, Onyx Lorenzoni (DEM-RS) e Major Olímpio (PSL-SP), eram críticos à reforma?
Só pessoas insensatas não mudam de opinião quando percebem que não tem jeito.
O senhor diz que o governo Bolsonaro só vai dar certo se fizer andar a agenda econômica. Se não conseguir, sofrerá desgaste político…
Ele não pode errar na economia. Se errar, vai viver os mesmos constrangimentos que os outros governos viveram.
Acredita em impeachment?
Não. Não faço previsões, trabalho com fatos.
A escolha de Sergio Moro para a Justiça pode levar a Lava Jato a um novo patamar. Isso terá consequências na política?
Ele tem, do ponto de vista pessoal, todas as condições de ser ministro da Justiça. A experiência dele vai contribuir para o entendimento de que é preciso respeitar a lei, a começar pelo presidente da República. Respeitar o que está escrito [na Constituição] e não o que eu interpreto.
A indicação não chancela a tese do PT de que Moro perseguia o ex-presidente Lula e o partido?
Não chancela. Não podemos continuar no “nós contra eles”.
Como Bolsonaro vai fazer avançar sua agenda de valores, pró-redução da maioridade penal, pró-porte de armas, entre outras?
Se ele der certo na economia, ficará extremamente mais fácil passar essas pautas no Congresso. O [Fernando] Collor chegou [à Presidência] com muita força e fez foi uma coisa que ninguém acreditava que ele faria, congelar todas as contas.
O Brasil será um país mais conservador, do ponto de vista moral, com Bolsonaro?
O Brasil sempre foi um país conservador. Já em 2013, a pauta era mais voltada para questões morais e de valores, como família, segurança e corrupção, do que alternativas para resolver a crise econômica. Bolsonaro expressava esse sentimento, com pauta conservadora e não se dedicou a alternativas para a crise.
Com informações do Jornal Folha de São Paulo