O país ficará melhor após a Operação Lava Jato, no que se refere ao combate à corrupção. A opinião é do ministro interino da Transparência e Controladoria-Geral da União, Wagner de Campos Rosário. Ele participou, na quarta-feira (14), do seminário Abordagem sobre o combate a Corrupção no Brasil – Os Órgãos de Controle, na sede da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), no Rio de Janeiro.
“Eu acho que o Brasil vai sair melhor. Porque todos os países que melhoraram ou mudaram uma rotina de combate à corrupção passaram por um momento crítico. A Lava Jato é um momento crítico em que o problema da corrupção está sendo exposto, não só por meio da investigação, mas na fala dos próprios envolvidos. Hoje nós estamos com a realidade escancarada, não existe mais desculpa para dizer ‘eu não enxergo, eu não entendo’. Essas informações vão modificar a vida dos brasileiros”, disse o ministro.
Para ele, não é possível dizer que atualmente haja mais corrupção do que antigamente, porque no passado não havia tantas ferramentas tecnológicas para detectar atos ilícitos, como existe hoje em dia.
“Hoje temos mais meios de detecção, o que gera uma ideia de que a corrupção está aumentando. Mas, quando a gente não tinha meios de detectar, não sabia como ela ocorria. Como nós temos grandes casos aparecendo, a percepção na população é maior”, disse Campos Rosário.
Segundo ele, a estrutura do ministério está abaixo do necessário, para um país da dimensão do Brasil. Ele citou o caso de outros países, menores, mas que têm mais funcionários dedicados ao controle interno.
“Nós temos hoje cerca de 2, 4 mil servidores, é um número relativamente pequeno. A Espanha, que é um país sete vezes menor que o nosso, tem 3,5 mil servidores na área de controle interno”, comparou o ministro, que é oficial do Exército, formado na Academia das Agulhas Negras, e está na Controladoria-Geral da União (CGU) desde 2009.
Uma das iniciativas que ele destaca é o Selo Pró-Ética, um programa de fomento para que as empresas implementem programas de integridade.
“Este ano, as inscrições contaram com cerca de 200 empresas espalhadas pelo Brasil, que encaminharam seus programas de compliances [conformidades], para análises por nossa equipe. No ano passado, foram 92 empresas. Uma das grandes propagandas de uma empresa atualmente é ser íntegra”, destacou o ministro, lembrando que algumas empresas ganham concorrências internacionais justamente por terem esse tipo de certificado.
Lavagem de dinheiro
Outro participante do seminário, o juiz de direito Daniel Botto Colaço, de Minas Gerais, afirmou que o combate à corrupção está longe de chegar ao fim. Ele destacou que o volume de dinheiro ilegal sendo lavado por meio de esquemas como compra de carros de luxo, joias, obras de arte e imóveis é imenso.
Segundo o juiz, basta percorrer as áreas de comércio popular nas capitais, como a Sociedade dos Amigos da Rua da Alfândega e Adjacências (Saara), no Rio de Janeiro, ou a Rua 25 de Março, em São Paulo, para perceber o tamanho do mercado paralelo de produtos contrabandeados e piratas, muitos resultado da lavagem de dinheiro.
“Esta estrutura do crime organizado é internacional e envolve brasileiros, lavando dinheiro de grande parte do mundo. As mentes criminosas encontram meios para escapar das fiscalizações. Mas a coisa toma um certo rumo que fica difícil acabar com a corrupção, porque os superiores de quem deve fiscalizar estão envolvidos. A pessoa fiscaliza, mas aí vem o castigo para ela, porque alguém lá em cima está sendo patrocinado ou recebendo propina.”
Ainda assim, Colaço acredita que o combate à corrupção está melhorando. “Estamos vendo notícias a todo momento sobre a corrupção. E isso nós não víamos antigamente. Ninguém tomava conhecimento de forma tão direta quanto hoje, por meio da imprensa. A primeira sensação é que tudo apareceu agora, mas de forma nenhuma. O que estamos vendo é fruto das denúncias e das delações”, disse o juiz.