O aniversário de 60 anos da Capital Federal, esvaziado, neste 21 de abril pela pandemia do coronavírus, deixa reflexões sobre o símbolo que Brasília representa nas áreas da engenharia, da arquitetura, da economia e, principalmente, do poder e da política. Centro das decisões mais importantes da vida pública nacional, Brasília nasceu pelas mãos de Juscelino Kubitscheck, o presidente das mudanças mais profundas na infraestrutura do País, o democrata que, com o segundo mandato na mão, dissuadiu os aliados a desistirem de mudanças na Constituição que o permitissem concorrer, em 1960, pela via direta, à reeleição.
JK angariou simpatia, apoio popular, articulou e consolidou amplas alianças políticas, despertou a irá dos adversários, construiu e inaugurou Brasília e saiu do poder abrindo o caminho para a volta em 1965. Os percalços da política nem sempre permitem aos seus atores colher a semente plantada para florescer a médio e longo prazo. Após transmitir, no dia 31 de janeiro de 1961, a faixa presidencial ao sucessor Jânio Quadros, JK fica sem mandato, mas uma articulação o leva a disputar, no dia 4 de junho de 1961, pelo Estado de Goiás, uma cadeira no Senado – a eleição foi realizada para preencher a vaga aberta com a renúncia do então senador Taciano Gomes de Mello. O suplente também renunciara. O Senado era a tribuna ideal para o contra-ataque às acusações que qualquer governante sofre ao deixar o cargo. O mandato de senador o permitiria atrair alianças e montar o palanque a caminho da eleição de 1965. Antes do dia 3 de outubro de 1965 – data com a qual JK tanta sonhava para o encontro com as urnas, estava o dia 31 de março 1964.
O caminho para a eleição presidencial estava sendo interrompido, os militares assumiram o Poder pelas mãos do general Humberto Alencar Castelo – o cearense que, no mandato do presidente JK, foi promovido a General de Divisão do Exército. O sonho de 1965 ficava ainda mais distante: as sombras da escuridão recaíram sobre o democrata Juscelino Kubitschek que viu ruir o projeto presidencial após ter, no dia 8 de junho de 1964, cassado o mandato de senador.
O ciclo de poder militar, iniciado no dia 31 de março de 1964, durou 31 anos e somente, em 1985, com a eleição indireta de Tancredo Neves, tivemos a reabertura política. Tancredo morreu antes de ser empossado, o vice José Sarney assumiu a Presidência da República, fez uma transição sem percalços e, em 1989, os brasileiros voltaram a eleger, por via direta, um presidente da Nação. O então governador de Alagoas, Fernando Collor de Melo, renunciou ao mandato, e pelo PRN, ganhou a Presidência da República contra o líder político em ascensão Luiz Inácio Lula da Silva. Collor foi cassado, o vice Itamar Franco, outro mineiro, assumiu o comando político do País e, em 1995, o entregou ao tucano Fernando Henrique Cardoso que, quatro anos mais tarde, seria reeleito. Após derrotas para Collor e FHC, Lula é eleito em 2002 e, em 2006, reeleito.
Com popularidade em alta, elege, em 2010, Dilma Rousseff que, em 2014, é reeleita. Quase dois anos antes de encerrar o segundo mandato, Dilma sofre impeachment, o vice Michel Temer assume e, no dia primeiro de janeiro de 2019, entrega a faixa ao hoje presidente Jair Bolsonaro. Todas as cenas políticas, entre 21 de ab ril de 1960 e 21 de abril de 2020, passam por Brasília, a Capital que, nesta data, completa 60 anos de inauguração. São seis décadas de muitas transformações políticas e, nesse cenário de isolamento social, com muito tempo para reflexões, vale à pena o resgate de algumas páginas dessa história. Uma das boas opções de leitura é ‘O Essencial de JK’, Visão e Grandeza, Paixão e Tristeza, do jornalista e professor Ronaldo Costa Couto. Um texto maravilhoso e uma leitura que nos remete à trajetória do mais democrata entre todos os presidentes da República. Um exemplo do passado que serve para o presente e para o futuro.