A briga entre os irmãos Cid e Ciro Gomes tem desdobramento políticos regionais e nacionais e ajudou a implodir a agenda de conversas para formação de uma federação entre o PSB e o PDT. Os planos indicavam a união das duas legendas em 2026, mas os conflitos transformaram PDT e PSB em adversários, deixando um rastro de mágoas, vingança e ressentimentos, especialmente, no Ceará.


O PSB recebeu a filiação de 37 prefeitos eleitos pelo PDT em 2022. O senador Cid Gomes liderou o bloco de adesões e desembarcou, também, no PSB. Deputados estaduais e federais pedetistas estão prontos para entrar na sigla socialista, mas só o farão em 2026.


BRIGA COM REPERCUSSÃO REGIONAL E NACIONAL


Como consequência regional, a briga que provocou o racha entre Cid e Ciro Gomes teve repercussão em Recife, onde o PDT decidiu romper a aliança com o PSB. Os pedetistas iriam apoiar à reeleição do prefeito João Campos (PSB) desde que, em Fortaleza, o PSB subisse ao palanque da reeleição do prefeito José Sarto (PDT). A reciprocidade não existe mais.


Dois outros fatores contribuíram para ampliar ainda mais os conflitos entre os dois partidários no cenário nacional: PSB e PDT se desentenderam na divisão das comissões técnicas da Câmara Federal. Outro fator que distancia ainda mais os dois partidos é a disputa pela Prefeitura de São Paulo, onde o PSB lançou a deputada federal Tabata Amaral, e o PDT decidiu se aliar ao candidato do PSOL, Guilherme Boulos.


CADA UM POR SI


“O PSB escolheu o caminho dele e nós vamos seguir o nosso”, disse o Presidente Nacional do PDT, deputado federal Figueiredo, em declarações publicadas pelo Jornal Valor Econômico. A mágoa de Figueiredo com a crise entre os dois partidos vai além, com um resgaste histórico do PSB em abandonar acordos com o PDT.


André Figueiredo lembrou que o PSB esteve perto de apoiar Ciro Gomes nas duas últimas eleições presidenciais “e pulou de última hora para apoiar o PT”. Citou, ainda, que essa mudança de rumo foi feita mesmo com a decisão de Ciro e o PDT apoiarem a candidatura de João Campos (PSB) à Prefeitura de Recife.


O líder do PDT na Câmara, deputado Afonso Motta (RS) destacou que a federação era importante para os dois, mas reconhece os efeitos dos conflitos que inviabiliza, nesse momento, o debate sobre essa união.
“Quem está fora da polarização, como nós, tem que se aproximar de iguais para poder isolar os radicais”, argumentou, acrescentando que “Mas diferenças de estratégia na eleição municipal tornam isso muito improvável”.

Com tom mais ameno, a deputada federal Lídice da Mata (BA), vice-presidente nacional do PSB, acredita que os conflitos do presente serão superados no futuro. “Esse estremecimento aconteceu, posições de um que o outro não gostou. Mas acho que isso não atrapalha planos futuros que são importantes para o fortalecimento dos dois”, observa Lídice.

ELEIÇÕES DE 2022 E 2026


Em 2022, o PDT elegeu 17 deputados federais, enquanto o PSB conquistou apenas 14 vagas na Câmara.
A briga no Ceará mudará, também, a representação das duas legendas na Câmara: o PSB vai receber a adesão de quatro deputados federais eleitos pelo PDT cearense, ficando, assim, com 19 vagas na Câmara, enquanto os pedetistas terão a bancada reduzida para 13 integrantes.


A baixa representação parlamentar diminui os recursos do Fundo Partidário e do Fundo Eleitoral, comprometendo o futuro dos dois partidos, daí os entendimentos para a criação da federação.
Sem dinheiro dos Fundos Partidário e Eleitoral, as duas legendas tem menos chances de ampliar a representação parlamentar, correndo risco de ficar, a partir de 2026, fora do horário da propaganda partidária no rádio e na televisão e, também, com menos espaços nas Comissões Técnicas e Lideranças da Câmara.

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