O governador Camilo Santana, em pronunciando na tarde desse domingo, 28, sobre a chacina das Cajazeiras, que vitimou 14 pessoas na madrugada desse sábado, 27, afirmou que o controle da Segurança Pública no Ceará “é e sempre será do Estado”. Camilo ainda anunciou que vai montar uma força-tarefa com diversos órgãos para combater o crime organizado no Estado e que está tentando uma audiência com o presidente da República para tratar do combate à violência.
No último sábado foi a vez do titular da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), André Costa, se pronunciar. O secretário afirmou que a chacina se tratava apenas de um “caso atípico”. Na sequência, Costa fez um comentário comparando a ação criminosa ocorrida nas Cajazeiras com atos terroristas. “Não há motivo para pânico”, argumentou o secretário.
André Costa lembrou que, em outras vezes, as células de Inteligência da Secretaria conseguiram se antecipar aos massacres, mas que desta vez não foi possível evitar. O prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio, declarou acreditar na “resposta contundente e eficiente” da Segurança Pública do Ceará e garantiu que já havia direcionado assistentes sociais da Prefeitura para o apoio aos familiares dos mortos.
O primeiro resultado das investigações do caso culminou com a prisão de um suspeito de participação na chacina. O homem foi detido pela Polícia Militar, nas proximidades do crime da madrugada de sábado. O suspeito portava um fuzil, que pode ter sido utilizado para os assassinatos. A identidade do homem não foi divulgada.
Na tarde de domingo, Camilo Santana anunciou que mais cinco suspeitos haviam sido identificados. Entre eles, três mandantes e dois envolvidos diretamente na ação. “Nas próximas horas vamos dar uma resposta firme em relação a quem cometeu esse fato inaceitável. As pessoas serão punidas com o rigor da lei. Há um esforço contínuo do Estado em relação a essa chacina, que aconteceu de forma selvagem e lamentável. Ultrapassou todos os limites pela forma desumana que foi realizada”, lembrou Santana.
Medidas
O governador acrescentou que, da reunião realizada na sede da SSPDS, saíram três decisões relacionadas ao combate das organizações criminosas. De acordo com o chefe do Executivo do Ceará, em parceria com o Ministério Público, Polícia Federal, Secretaria da Justiça, Defensoria Pública e Tribunal de Justiça, o Estado deve criar um Centro Integrado, com estrutura física, para que juntas neste local, as instituições tomem decisões.
Ainda com o intuito de mostrar respostas ao caso, que repercutiu internacionalmente, o governador lembrou que, recentemente, convocou 730 policiais civis aprovados em concurso público, que aguardam a formação para iniciarem os trabalhos. Para o governador, a ideia é fortalecer a investigação focada no tráfico de drogas, até “porque essa é uma responsabilidade do Governo Federal”.
O Ministério da Justiça, contudo, respondeu às afirmações de Camilo Santana de que o Governo Federal deve assumir sua responsabilidade, através de nota. “O ministro Torquato Jardim reafirma que a União seguirá cumprindo o papel de oferecer apoio técnico e financeiro aos Estados, como vem fazendo regularmente, para que os órgãos de segurança pública trabalhem de forma integrada e harmoniosa, ainda que os governantes não solicitem apoio por razões eminentemente políticas”.
Parcerias
A delegada regional de Combate ao Crime Organizado (DRCor) da PF, Juliana Pacheco, lembrou que as Inteligências Estaduais e Federais já vinham conversando e atuando na linha de repressão às facções. Segundo a delegada, a Polícia Federal fará uma troca de dados efetiva e participará de todas as reuniões.
“Todos esses homicídios são atribuição da Justiça Estadual, mas como as armas chegaram aqui, é atribuição nossa. A PF não vai investigar os assassinatos em si, a Polícia Civil faz essa parte. O grupo especializado da PF vai ajudar a acelerar a força-tarefa”, esclareceu.
Chacinas no Ceará vão além de fatos isolados
Apesar do secretário de Segurança Pública, André Costa, considerar a Chacina das Cajazeiras como um “fato isolado”, os registros da própria Pasta mostram que, desde o ano de 2015, o Ceará amargou a ocorrência de vários atentados com múltiplas vítimas. Em menos de três anos, foram contabilizados, pelo menos, 13 chacinas no Estado.
As matanças não aconteceram apenas em Fortaleza. Municípios do Interior também foram atingidos pela violência que se estendeu por todo o Estado. Em 2015, a primeira chacina registrada aconteceu em Sobral. Seis pessoas da mesma família foram mortas dentro de uma residência. Ainda nesse mesmo ano, foi registrada a Chacina da Messejana, na qual 11 pessoas foram mortas. Policiais militares são acusados do crime.
No ano de 2016 apenas uma chacina foi contabilizada. Já em 2017, as mortes múltiplas voltaram a acontecer. Somente em junho, foram duas chacinas. Uma delas em uma mansão na Praia do Porto das Dunas, em Aquiraz; e a outra em Horizonte, com um bebê dentre as vítimas. Paraipaba, Bom Jardim e Sapiranga – os dois últimos, bairros de Fortaleza – também registraram as matanças. Na Sapiranga, foram executados quatro adolescentes, internos no Centro de Semiliberdade Mártir Francisca. Antes da Chacina de Cajazeiras, 2018 já contabilizava outro caso, quando quatro pessoas foram assassinadas em uma casa, em Maranguape.
Com informações do Diário do Nordeste