Com o tema “A Vida Não Para”, foi lançada nesta quinta-feira (2), Dia de Finados, uma campanha no Cemitério da Penitência, no Caju, zona portuária do Rio de Janeiro, que tem por objetivo ajudar pessoas que passam pelo sofrimento de perdr um ente querido. A iniciativa é fruto de parceria da instituição com o Grupo Amigos Solidários na Dor do Luto (ASDL) e oferece reuniões semanais gratuitas de apoio e orientação aos enlutados.
De acordo com o administrador do grupo Alberto Brenner Júnior, a campanha surgiu a partir de algumas palestras oferecidas pelo grupo no Cemitério da Penitência que chegavam a reunir cerca de 200 pessoas: “A gente percebeu a necessidade que as pessoas tinham de falar sobre isso. Aqui no Rio de Janeiro, ainda não tinha nada parecido em cemitérios e convidamos o grupo de apoio ao luto [ASDL] para participar do projeto”.
A expectativa de Brenner é que o número de inscrições aumente a cada encontro. A campanha será realizada nos meses de novembro e dezembro, com palestras toda quarta-feira, às 10h. “Se nós tivermos necessidade de criar novos grupos, será feito”, adiantou o administrador.
A madrinha da campanha é a atriz Cissa Guimarães, que perdeu o filho Rafael Mascarenhas aos 18 anos de idade, em 2010, atropelado dentro do Túnel Acústico, na Gávea, zona sul da cidade, enquanto andava de skate. O túnel, agora chamado Túnel Acústico Rafael Mascarenhas, estava fechado para manutenção. Já o padrinho é o técnico do Fluminense, Abel Braga, cujo filho João Pedro, de 19 anos, morreu em julho deste ano, ao cair do apartamento da família no Leblon, também na zona sul da capital fluminense.
Em mensagem enviada por ocasião do lançamento da campanha, Cissa Guimarães, disse que o apoio é fundamental: “Só quem passa por isso sabe o quanto a gente precisa de ajuda, o quanto a gente vira uma grande irmandade. Só a gente unido pode ajudar e melhorar na vida e evoluir. A nossa missão é para evoluir”. Já Abel Braga, também em mensagem enviada para o lançamento, fez o convite a quem perdeu entes queridos: “[Convido] a conhecer um pouco esse trabalho maravilhoso que as pessoas que estão imbuídas desse projeto estão fazendo para você, que pode e deve estar precisando de ajuda nesse momento”.
Ressignificação
Para a assistente social Marcia Torres, fundadora do grupo ASDL, quem trabalha com luto e sofre a perda de algum ente sabe que a dor é insuperável. “Só que a vida não para. A gente tem que dar esse apoio”. Ela destacou que o grupo procura mostrar às pessoas enlutadas que é possível seguir adiante. “Esquecer nunca, mas amenizar e ressignificar a vida sem aquela pessoa, é possível”.
Marcia citou a médica Adriana Thomaz, formada em assistência terapêutica ao luto, em São Paulo, que dizia que “dá para ser feliz de novo, porque aquela pessoa que se foi não se resumiu a esse capítulo. E o legado que ela deixou? A história dela não foi só morte. Então dá para ser feliz de novo, sim”. Nos sete anos de trabalho do grupo, Marcia Torres já atendeu pessoas de todo o país e recebeu convites para fundar grupos semelhantes em Portugal e na Suíça. “Um dia, eu vou”, prometeu.
Para 2018, o projeto é criar grupos de ajuda a enlutados em três capitais brasileiras que já demonstraram interesse: Porto Alegre, Aracaju e Salvador. Atualmente, o grupo do Rio de Janeiro é liderado por Marcia Torres e pela psicóloga Jennifer Cardoso, e integrado por alguns estagiários.
Luana Bonfim, de São Paulo, perdeu a mãe recentemente. Para ela, “a vida acabou nesse momento”. Luana acabou sendo acolhida via whatsapp pelo ASDL e incluída no grupo, que a fez entender o processo da perda. “Valeu muito a pena”. Mesmo à distância, ela participava dos encontros. Agora, passou a ser uma bandeira para ela falar da morte “porque acho que a morte vivenciada antes já te causa uma certa compreensão. Eu tenho a visão de que a vida não acaba, mas a ausência permanece. E o grupo me ajudou a lidar com essa ausência, a ressignificar a minha vida e o sentido da morte”, disse Luana.
Finados
As comemorações pelo Dia de Finados deste ano foram abertas com missa celebrada pelo cardeal arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani Tempesta, no início da manhã, na capela histórica do Cemitério da Penitência, datado de 1875. Seguiu-se a bênção ao novo crematório da cidade, o Crematório da Penitência que, em princípio, terá capacidade para realizar até 150 cremações por mês. A expectativa é de que dentro de cinco anos, esse número passe para 400 cremações mensais.
Após o lançamento da campanha, houve apresentação da Orquestra Maré do Amanhã, criada em 2010 e formada por trinta jovens do Complexo da Maré. A orquestra vem transformando a vida de crianças e adolescentes através da música e se apresentou este ano ao Papa Francisco, na Itália.