A CCR, que atua no mercado de concessões de estradas, metrôs e aeroportos, e o Ministério Público de São Paulo vão anunciar o fechamento de um acordo nesta quinta ,29, no qual a empresa relata ter doado R$ 44,6 milhões para o caixa dois de políticos de São Paulo, em valores corrigidos.
Os nomes dos políticos estão sendo mantidos sob sigilo, mas a reportagem apurou que fazem parte do grupo o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), o senador José Serra (PSDB-SP) e o ministro de Ciência e Tecnologia, Gilberto Kassab (PSD) -futuro chefe da Casa Civil do governador João Doria (PSDB).
Por ser concessionária de serviço público, a CCR é proibida por lei de fazer doações a partidos.
Para se livrar de processos que teria de responder, a empresa pagará uma multa de R$ 81,5 milhões para o governo paulista e destinará R$ 17 milhões para a construção da biblioteca da Faculdade de Direito da USP.
Em maio que a CCR negociava um acordo no qual citaria Alckmin como um dos beneficiários de recursos de caixa dois da concessionária. O montante, de R$ 4,5 milhões, foi entregue, segundo a empresa, a um cunhado de Alckmin, Adhemar Ribeiro. A Odebrecht também citou o cunhado como operador de recursos ilícitos para campanhas do tucano.
O valor destinado a Serra teria sido intermediado pelo empresário Marcio Fortes, também citado pela Odebrecht como operador do tucano.
Alckmin e Kassab já negaram que tenha recebido recursos ilícitos na sua campanha.
A doação via caixa dois visava conquistar a simpatia dos políticos para os pleitos da CCR junto ao governo, segundo declarações de executivos da CCR feita ao promotor José Carlos Blat, que negociou o acordo.
Nenhum dos executivos falou em contrapartida do governo para as doações, o que poderia caracterizar corrupção, um crime muito mais grave do que o caixa dois.
Se a Promotoria encontrar provas de que houve corrupção, o acordo será desfeito.
A CCR começou a negociar o acordo em maio deste ano, depois de operador financeiro Adir Assad ter contado em acordo de delação que havia gerado R$ 46 milhões para o caixa dois da empresa.
Preso pela Operação Lava Jato em 2016, Assad disse que fornecia recursos para o caixa dois da CCR simulando a prestação de serviços ou por meio de contrato de patrocínio de uma equipe de corrida que ele mantinha, na categoria stock car. Em alguns casos, havia de fato prestação de serviços. Assad disse ter intermediado um contrato de merchandising da concessionária com a Rede Globo.
No acordo que assinou com procuradores da Lava Jato, Assad afirmou que tinha uma relação de amizade com o ex-presidente da CCR, Renato do Valle, e com um ex-executivo do grupo, José Roberto Meirelles. A prática de caixa dois ocorreu quando Valle ocupava a presidência da companhia.
Segundo Assad, foi o ex-diretor da Dersa Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto, que o apresentou a Renato do Valle.
Tanto Valle como Meirelles foram demitidos por conta da revelação do caixa dois e da relação que mantinham com Paulo Preto.
A CCR fez o acordo para evitar ter mais problemas no futuro, com repercussões no valor das ações negociadas na B3, a Bolsa paulista. Em fevereiro deste ano, quando o acordo de delação de Adir Assad se tornou público, as ações despencaram 10,1% e o valor da empresa caiu R$ 4,62 bilhões.
Foi para evitar que a sangria continuasse que a CCR criou um comitê independente para investigar o destino do dinheiro do caixa dois, formado, entre outros, pelo ex-ministro do Supremo Carlos Veloso. Um escritório de advocacia brasileiro e outro americano foram contratados para acompanhar a apuração. Inicialmente, a CCR estimava que o valor do caixa dois destinado aos políticos era de R$ 17 milhões.
Posteriormente, chegou ao valor de R$ 30 milhões que, corrigidos, chegam aos R$ 44 milhões que constam do trato.
Os advogados que negociaram o acordo, Sebastião Tojal, Celso Vilardi e Roberto Telhada, não quiseram se pronunciar.
A reportagem ainda não conseguiu contato ainda com Alckmin, Serra e Kassab.
A CCR ainda não se pronunciou sobre o acordo que será assinado na tarde desta quinta ,29.