Mesmo com a economia crescendo em ritmo lento, o total de empreendimentos criados no primeiro semestre deste ano foi de 1.262.935, recorde para o período, segundo o indicador Serasa Experian de Nascimento de Empresas. No Ceará, a situação não é diferente. O Estado, de janeiro a junho deste ano, já conta com 35.006 novos empreendimentos, número que o coloca em terceiro lugar entre os estados do Nordeste, atrás apenas da Bahia (58.449) e de Pernambuco (37.580).
A falta de oportunidades no mercado formal de trabalho está forçando vários trabalhadores a partirem para o negócio próprio, o chamado “empreendedorismo por necessidade”. “Com 13 milhões de desempregados, eu diria até que este é o chamado empreendedorismo por desespero”, diz Luiz Rabi, economista da Serasa Experian.
Entre as regiões brasileiras, o Sudeste é a campeã no quesito novos empreendimentos, com 664.172 empresas neste ano, número que correspondente a 52,6%. Os estados de São Paulo (363.659), Minas Gerais (144.689) e Rio de Janeiro (126.261), todos da região, inclusive, encabeçam a lista dos que mais abriram novas empresas, segundo o Serasa – o Ceará ocupa a décima posição no geral.
Na sequência das regiões brasileiras com mais empresas abertas, aparece as regiões Sul (222.727), com 17,6% do total de novos empreendimentos, Nordeste (204.269), com 16,2%, Centro-Oeste (115.031), com 9,1% e Norte (56.736), com 4,5%.
O ramo de alimentação é o mais procurado pelas pessoas que resolveram abrir seu primeiro negócio. De acordo com o levantamento, o segmento respondeu por 8,1% do total de empresas abertas na primeira metade do ano, seguido por serviços de beleza (7,6%), reparos, manutenção de prédios e instalações elétricas (7%) e comércio de roupas (6,4%).
Do total de novas empresas abertas no semestre passado, 81,8%, ou 1,03 milhão, eram de microempreendedores individuais (MEI), empresas, na maior parte, com um funcionário e faturamento máximo de até R$ 81 mil por ano. É a maior participação dos MEIs desde 2010, quando o indicador da Serasa começou a ser elaborado.
“O ramo de alimentação requer baixo investimento e não exige conhecimentos técnicos muito específicos. Muita gente faz bolos, pães e refeições em casa, sem a necessidade de um ponto comercial”, explica Rabi.
Para Rabi, embora muitas dessas empresas tenham sucesso, o ambiente econômico atual joga contra. Com o desemprego alto, que provoca queda da renda, muita gente cortou a alimentação fora de casa. E, com o número recorde de novos empreendedores, a concorrência se torna predatória.
Indenização em risco
Levantamento do Sebrae mostra que 24,4% das empresas que começam sem um planejamento ou capacitação do empreendedor fecham em dois anos, e 50%, em quatro anos. Este é o problema apontado pelos especialistas no caso do empreendedorismo por necessidade, que coloca em risco o dinheiro da indenização e do FGTS, muitas vezes a única reserva financeira do empreendedor.
“A pessoa acaba indo para uma área em que já tem um conhecimento, mas não faz planejamento, não sabe fazer gestão e, principalmente, não separa as contas pessoais da conta da empresa. É a receita para dar errado”, diz Mariane Primazeli, consultora do Sebrae.
Gestão é essencial ao negócio
Mercado e público desconhecidos, falta de planejamento e de noções de gestão de negócios são os principais erros cometidos por quem abre um negócio por necessidade, apontam os especialistas.
“A chance de sucesso de quem abre um negócio por oportunidade é muito maior do que por necessidade. A diferença é que há planejamento, capacitação e capital de giro para tocar o dia a dia da empresa”, diz David Kallás, coordenador do centro de estudos em negócios do Insper.