O Governo do Ceará, por meio do Sistema de Gestão dos Recursos Hídricos, apresentou, nesta quinta-feira (1), o balanço da quadra chuvosa de 2023, em coletiva de imprensa concedida no palácio da Abolição. Conforme explanado por gestores da Funceme, Cogerh e Secretaria de Recursos Hídricos (SRH), o cenário, em temos de aporte hídrico aos reservatórios, é melhor se comparado à situação de anos anteriores.

O volume atual de 9,49 bilhões de metros cúbicos (51,2% da capacidade total), distribuídos em 157 reservatórios estratégicos monitorados pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), é a maior reserva armazenada desde dezembro de 2012. (Veja a evolução do volume no quadro abaixo).

No começo deste ano, o percentual volumétrico era de 31,4%, segundo o Portal Hidrológico. A boa notícia é resultado de chuvas acima da média em todo o Ceará, conforme prognóstico acertado da Funceme. Segundo explicou Eduardo Sávio, presidente da Instituição, o monitoramento das precipitações indicou que os meses de março e abril cruzaram a linha climatológica, fato que ocasionou chuvas concentradas acima da média histórica. “Justamente neste período a recarga nos açudes foi mais expressiva”, destacou.

Dados da Cogerh mostraram que o aporte total no Estado foi da ordem de 6 bilhões de metros cúbicos. O maior desde 2011. “A recarga ajudou a subir o nível dos reservatórios e, por sua vez, a recuperar o volume de açudes em regiões que vinham sofrendo com os anos seguidos de baixas reservas hídricas, como o sertão central“, explicou João Lúcio Farias, diretor de Planejamento da Cogerh.

Banabuiú: maior aporte da quadra chuvosa

A Bacia do Banabuiú, no Sertão Central, teve uma recuperação expressiva. Após anos seguidos de baixos aportes, a bacia registrou o maior volume dos últimos dez anos. Nesta quadra chuvosa, a reserva hídrica na região passou de 9% para 41%, saindo da classificação “muito crítica” para “em alerta”.

O aporte foi o maior registrado entre todas as bacias do Estado: cerca de 1,3 bilhão de metros cúbicos. Todos os 19 açudes monitorados na bacia do Banabuiú estão em condições melhores do que estavam no início do ano.

As recargas são um alento para a região que, há pelo menos uma década, convivia com insegurança hídrica em função do prolongado período de estiagem. Com a recuperação dos açudes Quixeramobim, São José II, Vieirão e Patu, por exemplo, cidades como Boa Viagem, Senador Pompeu e Quixeramobim, terão abastecimento garantido, pelo menos, até o fim da próxima quadra chuvosa.

Regiões mais confortáveis

As regiões situadas mais ao norte do Estado tiveram boas recargas e estão em situação “muito confortável”, segundo classificação da Cogerh. É o caso das bacias do Acaraú, Coreaú, Litoral, Região Metropolitana, Baixo Jaguaribe e Serra da Ibiapaba. Todas com volumes acima de 70%. “A situação mais controlada permite que demandas pela água antes restritas agora sejam atendidas, como é o caso da irrigação”, explica João Lúcio.

As regiões do Salgado (Cariri) e Alto Jaguaribe(Centro-Sul) estão na zona “confortável”, com mais de 50% de reserva hídrica acumulada.

Regiões em alerta

Enquanto isso, as regiões do Curu, Sertões de Crateús e Médio Jaguaribe se mantêm em estado de “alerta”, estas com volume entre 30% a 50%.

71 açudes sangraram
Durante a quadra chuvosa de 2023 o Ceará registrou a sangria de 71 açudes, número que não se via desde 2009, quando sangraram 111.

Trimestre com maiores aportes

Março, Abril e Maio tiveram maiores aportes, sendo abril o mês com maior aporte em 2023: foram 3,25 bilhões de m³.

Castanhão, Orós e Banabuiú: recuperação expressiva

Os três maiores açudes cearenses atingiram bons aportes, registrando os maiores níveis dos últimos anos. O Açude Orós, por exemplo, chegou a 4,7% no começo de 2020. Agora, já se encontra com 67,5%, melhor número desde 2013. O Açude Banabuiú chegou a estar praticamente seco entre 2015 e 2018. No começo deste ano o reservatório registrava 9% de volume, batendo, hoje, 41%. Com isso, a reserva quase quintuplicou do início de 2023 até o momento.

Já o Gigante Castanhão, que chegou a marcar 2,1% de volume em 2018, agora bate 32%, maior percentual desde 2014. Pelo quarto ano seguido, o Castanhão não mandará água para a região metropolitana de Fortaleza, devido ao bom volume acumulado nos açudes que abastecem a RMF.

Operação dos reservatórios no segundo semestre

Mesmo com a boa perspectiva, é necessário prudência, visto que o Ceará fica em uma região semiárida. “Nem sempre chuva redunda em aportes. As chuvas, mesmo na média ou até acima da média, carecem de constância e precisam cair no lugar certo para gerar escoamento e, consequentemente, aportes”, frisou João Lúcio.

A cautela é reforçada pela tendência de ocorrência de El Niño, divulgada pela Funceme durante a coletiva.“Ainda é cedo para fazer esta previsão, mas isso nos indica que devemos ter muita prudência na alocação de água para o segundo semestre, para que haja uma boa gestão dos recursos hídricos“, reforçou o presidente da Funceme, Eduardo Sávio.

Dentro da política de Recursos Hídricos, o Estado, através da Cogerh, planeja a operação dos seus reservatórios de acordo com os volumes registrados ao fim da quadra chuvosa – é o chamado processo de alocação negociada de água.

Para isso, são feitas reuniões com os colegiados dos Comitês de Bacias e realizadas simulações dos cenários de uso da água em cada região do Ceará, são as chamadas alocações negociadas de águas, realizadas de forma participativa com representações da sociedade. “O intuito é garantir uma operação segura para todos e atender as demandas prioritárias estipuladas pela legislação”, finalizou João Lúcio.