O senador Cid Gomes, Líder da bancada do PDT, não esconde, em entrevista ao Jornal O Globo, descontentamento com os rumos da gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, classifica como tragédia a aliança do Palácio do Planalto com o Centrão e acusa ministros de serem ‘porta vozes do sistema financeiro.
Cid afirma, ainda, que, na metade do mandato do atual governo, ou seja, no final de dezembro de 2024, o PDT deve fazer uma avaliação se vale à pena ou não manter cargos no Governo e, de olho em 2026, admite a possibilidade de lançamento de candidatura própria à Presidência da República. O assunto ganhou destaque no Bate Papo Político com os jornalistas Luzenor de Oliveira e Beto Almeida no Jornal Alerta Geral desta quinta-feira (23).
CONTEXTO DA INSATISFAÇÃO
A insatisfação do líder do PDT no Senado surge no momento mais delicado para o Ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, que enfrenta contratempos no Palácio do Planalto após articular a redução dos juros dos empréstimos consignados para aposentados e pensionistas do INSS.
A medida, aprovada pelo Conselho da Previdência Social, levou os bancos a suspenderem esse tipo de crédito e força o Governo a redefinir a taxa de juros para a volta dos empréstimos consignados. Lupi é o principal nome do PDT no Governo Lula. A queda de braços sobre os juros dos consignados o deixou em uma saia justa e desconfortável na Esplanada dos Ministérios. O episódio ganha forte reação de Cid Gomes nas declarações ao Jornal O Globo.
DESAUTORIZAÇÃO PÚBLICA
‘’Tenho várias preocupações. O Lula critica juro, e o que está por trás de juro é a especulação financeira. Eu vejo pessoas no governo muito influentes, que são porta-vozes do sistema financeiro’’, diz Cid Gomes, para, em seguida acrescentar: ‘’Vide agora o caso do (ministro da Previdência, Carlos) Lupi (em que ele tentou baixar os juros do empréstimo consignado para 1,7%). Ele conversou com o presidente antes de reunir o conselho do Ministério da Previdência, e depois a Casa Civil disse que não tinha sido acertado. Uma desautorização pública’’.
Sobre a montagem da base de apoio no Congresso Nacional, o pedetista direciona a artilharia ao presidente da Câmara, Artur Lira, com quem tem divergências históricas e um dos líderes do PP, que integra o Centrão.
‘’Uma preocupação que eu tenho é esse conformismo com o status quo, o Centrão, a Câmara. O (Arthur) Lira é só mais um e vai ser mudado. O poder do Lira não é um poder dele, é um poder da presidência (da Câmara), que vinha de pressão junto a governos frágeis, como foi o do Bolsonaro e como foi o do Michel Temer. O Brasil não vai mudar só porque tirou o Bolsonaro e botou o Lula. É o Centrão, é o mesmo povo, com a conivência e o entusiasmo do (ministro das Relações Institucionais) Alexandre Padilha, que é o articulador político do governo’’, critica Cid Gomes.
Segundo Cid Gomes, o ministro Alexandre Padilha está levando o presidente Lula para uma tragédia. ‘’Se a defesa dele é que o Centrão volte a mandar no governo, como mandou nos mandatos do (Jair) Bolsonaro e do Michel Temer, vai levar o Lula para o buraco. No governo Dilma, o Centrão só se revoltou porque não mandou tanto quanto queria’’, alerta.
Em outro trecho da entrevista, Cid Gomes fala sobre o futuro do PDT, a permanência no Governo Lula e as eleições de 2026. Ele considera que ‘’Um partido que decide participar de um governo tem que ter um motivo forte para lançar uma candidatura. Não pode fazer isso de forma oportunista às vésperas da eleição’’.
De acordo, ainda, com Cid Gomes, ‘’Participar do governo do Lula não impede daqui a três anos que o PDT venha ter um candidato a presidente, mas essa decisão tem que ser tomada com o tempo de não parecer que ficamos até a última hora e saímos para lançar um candidato’’.
E, nessa agenda, Cid afirma: ‘’Vamos avaliar metade do governo do Lula e ver: vale a pena continuar? O PDT tem tido suas propostas respeitadas? Tem, então vale a pena fazermos o sacrifício. Não tem, então vamos nos preparar com antecedência para termos um candidato’’. Sobre a política no Ceará, Cid repetiu o que havia declarado antes que o rompimento da aliança do PDT com o PT foi um equívoco.