Os termômetros da cidade de Jaguaribe marcaram na terça-feira (31) a maior temperatura já registrada no Ceará, com 41,9°C, conforme a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme). Até então, o recorde havia sido em Barro, na Região do Cariri, com 41,7 °C, registrado em outubro do ano passado.

A Funceme afirma ainda que o mês de outubro de 2023 registrou 16 picos de temperatura a partir de 40 °C. Segundo a Funceme, os valores mais expressivos concentraram-se em Jaguaribe, Barro e Crateús. No comparativo com outubro do ano passado, a Funceme aponta uma variação expressiva, já que, na época, houve apenas dois registros a partir de 40 °C.

Conforme o meteorologista Lucas Fumagalli, os picos de temperatura nesta época do ano no Ceará são mais comuns principalmente devido à escassez de chuvas entre os meses de agosto e novembro.

Ele lembra que, neste período, ocorre também o afastamento da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) da costa cearense, que vai em direção ao oceano Atlântico Norte, além da ausência de outros sistemas precipitantes.

“Dessa forma, os maiores valores de temperatura, e os menores valores de umidade relativa do ar, geralmente ocorrem nesta época. Em 2023, no entanto, o número de dias com temperatura maior ou igual a 40°C, entre agosto e outubro, está muito maior do que o observado no mesmo período do ano passado. Em 2022 foram dois dias, e em 2023, até 31 de outubro, foram 13”, explica.

Maiores picos de temperatura de outubro

DataTemperatura máximaMunicípio
31/10/202341,9Jaguaribe
08/10/202241,7Barro
31/10/202341,5Barro
25/10/202340,7Barro
30/10/202340,6Jaguaribe
25/10/202340,4Jaguaribe
30/10/202340,4Barro
27/10/202340,3Jaguaribe
02/10/202340,3Barro
03/10/202340,3Barro
14/10/202340,3Barro
28/10/202340,3Barro
31/10/202340,2Crateús
10/10/202340,1Crateús
22/10/202240,0Barro
02/10/202340,0Jaguaribe
10/10/202340,0Jaguaribe
28/10/202340,0Jaguaribe

Atuação do El Niño

Além do cenário climatológico comum (redução das precipitações), dentre os motivos que explicam estes valores destaca-se a atuação do evento El Niño no oceano Pacífico Equatorial que, ao alterar a circulação atmosférica, faz com que haja um maior fluxo de ar de cima para baixo (subsidência), colaborando para aumento do calor na superfície.

Fumagalli lembra que em 2022 a situação era diferente. “No oceano Pacífico Equatorial atuava o evento La Niña, que contribui para aumentar as chuvas no CE, principalmente no início do ano, diminuindo a incidência de radiação solar na superfície”.

Quanto à concentração das maiores temperaturas em determinadas áreas do Estado, como Jaguaribe, Barro e Crateús, isto se dá também pelo distanciamento da faixa litorânea, onde o ar é bastante influenciado pela umidade do oceano Atlântico.

Além disso, regiões de vales, como ao longo do vale do rio Jaguaribe, costumam observar os maiores picos devido a efeitos locais, como as menores altitudes do relevo ao longo do curso dos rios.

Imagens do primeiro boletim referente ao El Niño — Foto: Reprodução

Imagens do primeiro boletim referente ao El Niño — Foto: Reprodução