Uma pesquisa feita em ratos tem potencial para colaborar com o surgimento de novos tratamentos para a disfunção erétil. O estudo publicado, nesta quinta-feira (8/2), na revista Science investigou o papel que os fibroblastos desempenham na ereção peniana. As informações encontradas pelo grupo do Instituto Karolinska e da Universidade Uppsala, da Suécia, podem ser fundamentais para os pacientes que não apresentaram melhora da condição com os medicamentos e as terapias disponíveis atualmente.

Os fibroblastos são células do tecido conjuntivo e abundantes no pênis de humanos e de ratos. No entanto, há poucos estudos, segundo Eduardo Guimarães, pesquisador do Instituto Karolinska, integrante do grupo de pesquisa e único brasileiro entre os cientistas.

A pesquisa descobriu que a estrutura desempenha importante papel na regulação do fluxo sanguíneo do órgão genital para deixá-lo ereto. Outro achado dos pesquisadores é que a frequência de ereção está associada ao aumento e à redução de fibroblastos. Ou seja, o crescimento de fibroblastos será maior quando há uma alta regularidade de excitação sexual. Em contrapartida, uma baixa periodicidade resulta em uma queda do número das células.

Os resultados do estudo mostram que após a excitação sexual, o óxido nítrico e a acetilcolina são liberados, neutralizam esse efeito e resultam em vasodilatação no corpo cavenoso, embora o estabelecimento e a manutenção da ereção peniana sejam mediados pelo equilíbrio entre esses vasodilatadores e o vasoconstritor noradrenalina, a regulação desse sistema não é totalmente compreendida.

Estudo

A análise foi feita por meio de sequenciamento do ácido ribonucleico unicelular (RNA), da limpeza óptica de tecido e da ativação optogenética (uma técnica que possibilita a ativação de estruturas específicas por meio da luz, genética e bioengenharia).

Os pesquisadores conseguiram verificar que os fibroblastos alteram o equilíbrio entre os vasodilatadores e o vasoconstritor norepinefrina em direção à vasodilatação.  

Para os cientistas envolvidos, a pesquisa registra um novo paradigma terapêutico de criação de condições que aumentam a captação de noradrenalina ou diminuem o sinalizador denominado notch em fibroblastos perivasculares penianos, o que poderia se traduzir no tratamento da disfunção erétil em pacientes que não respondem aos inibidores da PDE5 — que é um grupo de medicamentos para tratar disfunção erétil.

Inspiração

O líder do grupo de pesquisa, Christian Göritz, diz que o projeto surgiu de uma curiosidade em compreender a função fisiológica dos fibroblastos no pênis. A partir do questionamento, foram 10 anos de dedicação para se chegar a essas descobertas. Göritz explica que o grupo precisou “estabelecer muitas ferramentas novas” para a investigação por pouco se saber sobre a célula estudada.

O líder afirma que a próxima fase do projeto é validar as descobertas em humanos por meio de estudos clínicos. Segundo ele, em comunicado, que os “mecanismos básicos de ereção são semelhantes em todos os mamíferos”, mas pondera que o homem não tem osso no pênis diferentemente de algumas espécies, como o camundongo. “Isto significa que a regulação eficaz do fluxo sanguíneo é provavelmente ainda mais importante para a reprodução humana”, diz.

*Colaborou Paloma Oliveto e estagiária sob supervisão de Renata Giraldi

PALAVRA DE ESPECIALISTA

Tratamento no SUS

Medicamentos altamente eficazes estão no hall de cobertura pelo Sistema Único de Saúde (SUS), mas como tem outras prioridades na saúde pública, a questão da saúde sexual do homem, infelizmente, a atenção é bem baixa. Existem tratamentos e medicamentos, mas com escassez de disponibilidade para a maioria das pessoas. O mesmo funciona com terapia de segunda e de terceira linha, que são as injeções intracavernosas e as próteses penianas. O SUS fornece prótese, mas tem a questão burocrática e as filas. Pode demorar anos. Há uma dificuldade de acesso a algumas terapias que estão disponíveis no mercado privado, como a terapia em choque, um pouco mais sofisticadas que as terapias injetáveis (pouco disponíveis no SUS). A onda de choque é zero disponível no SUS.

Eduardo Miranda, médico urologista especialista em andrologia e integrante da Associação Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA)