O candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes, disse que em caso de eleição de Jair Bolsonaro (PSL), líder nas pesquisas de intenção de votos, ele sairá da política e não integrará oposição a ele. “(Se Bolsonaro ganhar) Eu vou desejar boa sorte a ele, cumprimentá-lo pelo privilégio e depois eu vou chorar com a minha mãe. Eu saio da política. A minha razão de estar na política é amor, paixão, confiança. Se nosso povo por maioria não corresponder, vou chorar.”

Em sabatina no jornal “O Globo”, o pedetista foi questionado sobre sua relação com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sobre por que ainda não foi visitá-lo na prisão, em Curitiba, onde está desde abril. Ciro afirmou que tentou em diversas instâncias e recorreu até o Superior Tribunal de Justiça para vê-lo.

“Não visito Lula hoje porque não é mais oportuno. Mas pedi à juíza de Execuções Penais, recorri ao Tribunal Regional, ao STJ, que demorou demais. Depois o critério mudou: botaram o Lula para decidir quem poderia ir, mas até hoje não fui distinguido com essa honra”.

A única vez em que sua ida foi cogitada pelo PT foi quando das conversas para que ele compusesse a chapa de Lula como vice. “Achei isso um insulto. Eu iria por razão pessoal, humanitária, não política. O Lula não é o satanás para mim, nem um deus. É um presidente que foi muito bom para o povo brasileiro e que merecidamente tem desse povo gratidão”, explicou.

“Mas isso não deveria obrigar nenhum de nós a achar que Lula é infalível. Ele indicou Dilma, ele escolheu Temer, escolheu Haddad pra ser prefeito de São Paulo e ele (Haddad) perdeu no primeiro turno na reeleição. É para a gente pensar. O Lula é uma pessoa boa, mas suas escolhas podem ser erradas”.

Durante a sabatina, Ciro foi questionado pelos jornalistas sobre a autonomia do Banco Central em um possível governo seu e disse que, se for eleito, terá o BC subordinado a ele. Sobre a indicação de ministros ao Supremo Tribunal Federal (STF), criticou a escolha de Alexandre de Mores, Gilmar Mendes e Dias Toffoli, e afirmou que num governo seu só serão cogitados nomes que nunca tiveram envolvimento político-partidário.

Moro

Na sabatina, Ciro Gomes criticou a postura de juízes como Sergio Moro. “Não tem um debate no estrangeiro em que eu não encontre um desses aí. Não sei a que horas julgam. Tem cochicho no ouvido do Aécio (Neves)… Não sei se é porque estou velho, mas no meu tempo, juiz não ia nem para o bar. Ele não pode se dar a esse desfrute. Um juiz singular vai ter chibata moral da República? Essas coisas têm que ser sóbrias”.

Ele criticou ações da Lava Jato perto das eleições. “O objetivo da Lava Jato é passar para a sociedade brasileira que a impunidade não é mais um prêmio do bandido de alta coturno. Agora, causa constrangimento fazer isso agora. O Beto Richa… Isso tudo é muito estranho.” Ele reafirmou seu posicionamento anticorrupção: “No meu governo, se eu não roubo, não rouba ninguém para baixo”.

Comentando brevemente as pesquisas eleitorais, que o colocam em segundo lugar nas intenções de voto, atrás de Bolsonaro, Ciro disse que “ninguém acreditava” que seu desempenho seria bom. Afirmou, ao responder sobre um possível acordo com o PT num segundo turno contra Bolsonaro, que seu “inimigo” não é o partido de Fernando Haddad.

“Meu inimigo é o projeto (Michel) Temer, que é replicado pelo PSDB e pelo Bolsonaro, um projeto antipobre. Meu problema com o PT é o risco com que tem exposto o País de dançar à beira do abismo”, disse, referindo-se à demora no anúncio de Haddad no lugar do ex-presidente Lula, preso pela Lava Jato.

Num momento mais relaxado, de “terapia de grupo” com os jornalistas do Globo, falou de seu controle emocional. “Eu fiz uma opção de vida de devoção ao povo brasileiro. Sei que fica avizinhado à demagogia, mas é o sentido superior da minha vida. Devo ter pedido o primeiro voto da minha vida no berçário da maternidade. No primário já estava envolvido nas questões coletivas. Estou me controlando, sou avô. Mas não vou virar uma barata para ser presidente da República”.

Criticas a general

Ciro afirmou que em seu governo o general Eduardo Villas Bôas, comandante do Exército, teria sido demitido por sua fala pública sobre a instabilidade política no Brasil, e “provavelmente pegaria uma cana”.

Conforme matéria publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo no domingo, 9, Villas Bôas afirmou que “a legitimidade do novo governo pode até ser questionada” e que o ataque ao candidato do PSL, Jair Bolsonaro, na quinta-feira, 6, “materializa” seu temor de que a intolerância e a polarização na sociedade afetem a governabilidade.

“No meu governo, militar não fala em política. Se fosse no meu governo, ele estaria demitido e provavelmente pagaria uma cana. Eu conheço bem o general Villas Bôas. Ele está fazendo isso para tentar calar as vozes das cadelas no cio que estão se animando, o lado fascista da sociedade brasileira”, afirmou.

“O general Mourão (vice de Bolsonaro) é um jumento de carga, que tem entrada no Exército. Quem manda nesse País é nosso povo. Tutela, sargentão dizendo que vai fazer isso e aquilo, comigo não acontecerá. Sob a ordem da Constituição, eu mando e eles obedecem. Quero as Força Armadas poderosas, modernas, altivas. Não quero envolvidas no enfrentamento do narcotráfico, isso é papo de americano”, disse o pedetista.

Ciro Gomes reafirmou na sabatina que é preciso revogar a Propostas de Emenda Constitucional (PEC) do teto de gastos para que se possa investir na saúde e na educação. Ele pontuou que “outros candidatos” querem entregar a saúde pública à iniciativa privada, privilegiando ricos em detrimento de pobres.

“O Sistema Único de Saúde é uma ideia generosa, que temos que preservar. Por mais que tenha ineficiência, o brasileiro tem que exigir que o Estado lhe dê saúde em qualquer nível de complexidade. Outros candidatos gostariam muito de entregar a saúde dos ricos ao setor privado, e o povo que continue se ferrando”.

Embraer-Boeing

O candidato do PDT voltou a condenar o acordo entre a Embraer e a norte-americana Boeing, para a criação de uma empresa para tocar a viação comercial da companhia brasileira. Ele considera o acerto “clandestino”, e disse que a reversão não seria uma quebra de contrato. “Nem a pau, Juvenal”, definiu.

Ao falar sobre a crise fiscal nos Estados, Ciro citou Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Gerais e propôs um “redesenho do pacto federativo”, uma “grande negociação no atacado”. “O centro de gravidade da política brasileira não é Brasília, é a federação, Estados e prefeitos”.

O candidato do PDT criticou a desindustrialização do Brasil e defendeu a proteção de setores da indústria. Citou o presidente dos Estados Unidos por seu protecionismo contra importações: “Trump está errado e nós, brasileiros, estamos certos?” Ele defendeu “desratização” do Brasil ao falar das agências do governo aparelhadas politicamente. “As agências serão passadas pelo pente fino. Quem não for salvável será fechada. Eu falo com o Congresso.”

 

 

 

Com informação do UOL