Drogas, suicídio, redução de danos, temas que demandam cada vez mais atenção, atualmente, também estão entre os que, por serem tabus, sofrem com o desconhecimento generalizado sobre sintomas, tratamentos mais modernos e as formas possíveis de convívio com pessoas que apresentam algum problema de saúde mental. Foi para contribuir com a mudança desse quadro que pesquisadores do Grupo de Estudo e Pesquisa Saúde Mental e Cuidado (GESAM) e da Liga Interdisciplinar em Saúde Mental (LISAM), ambos da Universidade Vale do Acaraú (UVA), em parceria com a Universidade Federal do Ceará (UFC), desenvolveram um aplicativo cujo objetivo é, principalmente, trazer mais informações sobre esse universo.

Multidisciplinar, o trabalho contou com a participação de alunos dos cursos de Enfermagem e Ciências da Computação, da UVA, e Engenharia da Computação, da UFC. Coordenado pela professora Eliany Oliveira, da UVA, o projeto tem o título “Saúde Mental e Risco de Suicídio em Usuários de Drogas” e foi apoiado pela Funcap por meio do Programa de Bolsas de Produtividade em Pesquisa, Estímulo à Interiorização e Inovação Tecnológica (BPI). O financiamento veio através de bolsas para alunos de iniciação científica e de bolsas de produtividade para a coordenação do projeto, além de recursos para despesas como equipamentos, itens de consumo necessários para as pesquisas e contratação de serviços profissionais, dentre outros.

Disponível na plataforma Android, o aplicativo ganhou o nome de Sertão Bom, uma referência ao entorno da região onde se encontra a UVA, e um trocadilho com a expressão “ser tão bom”, ressaltando o objetivo dele ser um desafio para quem deseja saber mais sobre o tema saúde mental. É um jogo no estilo quiz (perguntas e respostas objetivas, para escolher uma entre quatro opções disponíveis) que, por ser de concepção simples, pode ser executado até em aparelhos menos sofisticados e com pouca memória, o que o deixa bastante acessível. Além disso, ele foi projetado para, depois de baixado no celular, poder ser acionado sem acesso à internet, o que também facilita o uso.

O início do programa apresenta uma roleta que aborda três categorias principais: Drogas, Suicídio e Redução de Danos. As categorias são escolhidas de forma aleatória através da roleta, com a qual o jogador decide quando começar e quando parar.

“Ele tem o objetivo de conscientizar sobre o risco de suicídio entre pessoas que fazem uso abusivo de drogas e traz reflexões relacionadas à estratégia de redução de danos, um aspecto de extrema importância para o cuidado humanizado”, explica a professora.

Eliany lembra que as perguntas foram elaboradas para se integrarem, ou seja, para formarem um conjunto que possa mostrar, ao longo das atividades do jogo, como o abuso de drogas tem relação com o risco de suicídio e com as estratégias de redução de danos. A expectativa é que ele seja usado em conjunto com manuais, protocolos e cartilhas para otimizar os conteúdos e o aprendizado sobre os temas.

O cenário do jogo se passa em meio ao sertão. “Isso tem como objetivo homenagear e exaltar o regionalismo nordestino”, explica a pesquisadora. Visualmente, o aplicativo traz alguns elementos típicos, como cores quentes, plantas e a geografia da paisagem. Esse design, que promove a familiaridade com os habitantes da região Nordeste, também vai ao encontro do objetivo do jogo, que é promover a discussão sobre saúde mental de uma maneira lúdica e didática, não só entre quem sofre ou é parente de pessoas com algum distúrbio, mas com toda a população.

Outro importante aspecto do aplicativo é o que trata do conteúdo, elaborado a partir do conhecimento técnico dos pesquisadores do GESAM. Após a construção do jogo, houve a fase de validação, que foi dividida em duas etapas: análise das perguntas, feita por especialistas nas temáticas abordadas (drogas, redução de danos e suicídio), e avaliação do produto final do quiz.

Na primeira etapa foi feito um formulário de avaliação para cada uma das perguntas. Para a segunda etapa, criou-se outro formulário no qual os especialistas em saúde mental avaliaram características gerais, organização e estilo da escrita do jogo. Também nessa segunda etapa foram analisados, por especialistas em Computação, aspectos técnicos como funcionalidade, usabilidade e eficiência do quiz.

Já disponível no Google Play, o Sertão Bom entrou na etapa final de avaliação, feita pelos usuários da sociedade.

“Essa fase é de fundamental importância para o aprimoramento da versão definitiva a partir das sugestões que forem propostas”, explica a professora Eliany.

A expectativa é de que essa última versão esteja disponível no primeiro trimestre de 2021. Segundo os pesquisadores, por uma questão de redução de custos, não será desenvolvida uma versão para iOS. O aplicativo pode ser baixado no endereço play.google.com/store/apps/details?id=com.DuMi.SertaoBom.

Criado a partir de vários estudos dos grupos de pesquisadores da UVA que constataram a forte relação entre abuso de drogas e suicídio, o aplicativo tem potencial, segundo eles, de fazer com que as pessoas, ao jogarem, aumentem seus conhecimentos sobre essa relação.

“Além disso, esperamos que, por meio do app, a população conheça os serviços públicos que podem ser acessados para tratar do problema, os fatores de risco e de proteção associados e, por fim, possa identificar estratégias para se ajudar”, conclui Eliany.

(*)com informação do Governo do Estado do Ceará