Após três semanas da eleição, o presidente eleito Jair Bolsonaro ainda não tem um responsável oficial por sua comunicação pública. Sem estrutura de assessoria de imprensa e com forte ação pelas redes sociais durante toda a campanha eleitoral de 2018, Jair Bolsonaro estuda profissionalizar a comunicação de seu governo, mas ainda enfrente resistência por parte dos filhos que atuam na política.
De um lado, os filhos do presidente eleito resistem à profissionalização desse trabalho, hoje feito de maneira informal por assessores. De outro, políticos e militares avaliam que a ausência de um assessor de imprensa e de uma estratégia clara de comunicação traz prejuízos.
Durante a campanha, Bolsonaro não teve assessoria profissionalizada. Na primeira entrevista coletiva que concedeu como presidente eleito, na qual alguns veículos de comunicação foram barrados, ele disse não saber quem decidiu selecionar os jornalistas.
O episódio é mencionado por alguns aliados como exemplo de crítica que poderia ter sido evitada se houvesse um profissional responsável pela organização. Ao longo da corrida presidencial, o argumento usado pela equipe de Bolsonaro era a ausência de recursos para contratação de um assessor.
Com o governo de transição em funcionamento, esse não é mais um problema, já que o presidente eleito dispõe de ao menos 50 cargos. O vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) é o que mais resiste à contratação de uma assessoria. Ele é quem alimenta os perfis do pai nas redes e foi o responsável por idealizar a estratégia adotada nos últimos anos pelo presidente eleito: de intensificar a comunicação com apoiadores via internet.
“Essa proximidade com o público na internet foi o que ajudou meu pai a brigar contra as mentiras espalhadas contra ele e todos que nele acreditam. Faremos o máximo para manter tudo isso”, escreveu o vereador no Twitter no mês passado. Carlos é o filho mais próximo a Jair Bolsonaro. Nesta semana, ele deverá formalizar na Câmara de Vereadores do Rio o quarto pedido de licença de seu mandato. Com isso, totalizará 120 dias afastado do cargo.
Durante a campanha, o tom de Carlos nas redes do pai incomodou aliados. Enquanto Bolsonaro tentava adotar discurso mais conciliador, o vereador continuava a fazer postagens contra a imprensa. Além do vereador, outros dois filhos políticos do presidente eleito — o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e o senador eleito Flavio Bolsonaro (PSL-RJ) — se opõem a nomes já sondados para comandar uma estrutura de comunicação.
Parte dos aliados sugere nomes com experiência para assumir a Secretaria de Comunicação. Entre os defensores de uma comunicação profissional está o vice-presidente eleito, Hamilton Mourão. Outras pessoas tentam vencer a resistência de Bolsonaro apresentando nomes do mercado. Entre eles, foi sugerido Alexandre Garcia, da TV Globo. A equipe do presidente eleito nega que tenha havido convite formal ao jornalista.
Os filhos defendem nomes com alinhamento ideológico ao pai. São poucos os jornalistas elogiados por eles. São exemplo nomes do site O Antagonista, como Felipe Moura Brasil, ou do colunista da revista Veja Augusto Nunes. Durante a campanha, Eduardo Bolsonaro destacou em sua conta do Twitter uma entrevista que o pai concedeu a Nunes. No post, ele dizia que aquela era a melhor entrevista do então candidato.
O principal canal de comunicação oficial do futuro governo tem sido a conta de Bolsonaro no Twitter. Foi criado ainda um perfil oficial na rede social chamado Muda de Verdade, cuja descrição é “perfil oficial do Portal de Transição”. Assessores do gabinete de transição não sabem informar quem é o responsável pelas postagens.
Até que se defina se haverá um profissional a cargo da comunicação, o trabalho vem sendo feito de forma improvisada. Há um assessor informal, Tercio Arnaud Tomaz, que trabalha no gabinete de Carlos Bolsonaro e confirma agendas do presidente eleito e divulga fotos e vídeos das ações do político. Além disso, há na coordenação da equipe de transição uma assessoria de imprensa.
Com informações da Folha de São Paulo