Um favor a um amigo. De acordo com o depoimento de um arquiteto à Polícia Federal, assim o coronel João Baptista Lima Filho, amigo de Michel Temer, se referiu à sua atuação na reforma da casa de Maristela Temer, filha do presidente da República.
Funcionário entre 2012 e 2017 da Argeplan Engenharia, que pertence ao coronel, o arquiteto e urbanista Diogo Figueiredo de Freitas disse em depoimento prestado no último dia 28 que Lima Filho o procurou em 2012 com o intuito de que ele auxiliasse a escolha de fornecedores para a reforma da casa de Maristela.
“João Baptista Lima Filho frisou ao declarante [Diogo] que o auxílio a Maristela Temer se tratava de um favor para um amigo, o então vice-presidente Michel Temer”, diz a transcrição do depoimento, a que a reportagem teve acesso.
Conforme a Folha revelou neste sábado (9), pela primeira vez há comprovação documental —extrato bancário e outros papéis— sobre o uso de dinheiro vivo no pagamento da obra na casa de Maristela, em 2014.
A reforma é investigada sob a suspeita de que tenha sido bancada por meio de dinheiro de propina direcionado a Temer por meio do coronel Lima.
Depoimentos colhidos até agora pela Polícia Federal nesse inquérito contradizem a versão dada pela filha do presidente aos investigadores, a de que o gasto na obra ficou em torno de R$ 700 mil.
Um dos fornecedores da reforma, Luiz Eduardo Visani, por exemplo, diz ter recebido R$ 950 mil em dinheiro vivo na sede a Argeplan. Outro, Antonio Carlos Pinto Júnior, fala em R$ 120 mil.
Segundo os relatos colhidos pela PF até agora, a obra custou pelo menos R$ 1,2 milhão.
Em abril, a Folha mostrou que a arquiteta Maria Rita Fratezi, mulher do coronel Lima, pagou em dinheiro vivo um outro fornecedor da reforma, Piero Cosulich, dono da Ibiza Acabamentos.
O presidente Michel Temer tem reiteradamente negado recebimento de propina, afirmando que a investigação contra ele entrou “no terreno da ficção policial”, se tratando de “um escândalo digno do Projac”, em uma referência ao complexo de estúdios de telenovelas da Rede Globo.
Temer já chegou a ser questionado pela PF sobre sua relação com o Coronel João Baptista Lima Filha. A pergunta era se ele já realizou negócios comerciais ou de qualquer outra natureza que envolvesse a transferência de recursos financeiros com o coronel.
À época (janeiro), Temer respondeu: “Nunca realizei negócios comerciais ou de qualquer outra natureza que envolvesse a transferência de recursos financeiros para o sr. João Batista Lima Filho.”
OUTRA REFORMA
Também em recente depoimento à PF, outro funcionário da Argeplan, Fabiano Monegaglia Polloni, afirmou que foi responsável pela reforma na casa de Temer, em Alto de Pinheiros, nos anos de 1999 e 2000.
Ele disse que a obra foi feita por indicação do coronel Lima. Apesar de afirmar não se lembrar de valores, disse aos investigadores que recebia por meio de depósitos bancários ou boletos que entregava diretamente a Michel Temer.
Com informação da Folha de S. Paulo