O avanço na vacinação fez julho ser o primeiro mês de 2021 a registrar menos mortes de covid-19 em comparação ao mesmo período do ano passado —excetuando março, quando foi decretada a pandemia, em 2020.
Segundo dados dos cartórios de registro civil, obtidos pelo UOL no portal da transparência da Arpen Brasil (Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais), 2020 registrou o maior número de mortes pela doença no ano passado, com 30 mil óbitos registrados. Neste ano, esse número ficou em 27,5 mil.

Imagem: Arte/UOLNo caso, o número de julho de 2021 ainda pode ter um pequeno acréscimo por envio de informações atrasadas pelos cartórios à CRC (Central Nacional de Informações do Registro Civil).

O recorde de óbitos no país ocorreu em março deste ano, quando 82 mil pessoas morreram no Brasil pela covid-19. Desde lá, há uma redução mês a mês na mortalidade. Julho já registrou a quarta redução seguida em números absolutos de mortes de covid-19 em um mês.

Os dados dos cartórios são baseados na causa da morte apontada nos registros de morte e levam em conta a data do óbito. Eles diferem dos números publicados pelo Ministério da Saúde e pelo consórcio de imprensa, que são abastecidos pelas informações das Secretarias Estaduais de Saúde. As mortes são contadas pelas duas instituições por dia de confirmação, e não pela data do óbito, o que muitas vezes gera atraso nas notificações.

Efeito esperado da vacinação
A queda de aproximadamente 10% entre julho de 2020 e de 2021 é reflexo claro da redução no ritmo de mortes de pessoas idosas. Ao destrinchar os óbitos por idade, é possível ver que apenas entre idosos e na faixa etária de zero a nove anos houve redução de óbitos.

Entre as faixas etárias a partir de 60 anos, houve queda em todas as idades, com ápice entre os centenários (-61,5%). Já entre jovens e adultos, todas as faixas tiveram alta em julho de 2021, em comparação com julho de 2020. O destaque ficou entre as pessoas de 30 a 39 anos, com alta expressiva de 145% no número de óbitos.

A vacinação no Brasil começou em 17 janeiro de 2021 e desde então vem avançando por faixa etária, dos mais velhos aos mais novos. Até ontem (13), o Brasil havia imunizado 113.503.627 pessoas com ao menos uma dose (53,6% da população) e 49.019.161 com a segunda ou a dose única (23,15%), completando o ciclo vacinal.

A mortalidade mais alta entre jovens e menor entre idosos revela que o novo coronavírus continua com circulação alta no Brasil, mas tem encontrado uma “barreira” entre as pessoas imunizadas.

“É indiscutível que a gente tem hoje uma carga de hospitalização e de mortes menor nas idades mais avançadas. E isso tem uma razão muito simples: há sete meses, a vacinação começou nesse grupo etário e nos profissionais de saúde. Era esperado realmente que essa carga nesse grupo caísse”, afirma a epidemiologista Ana Brito, pesquisadora da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz).

Ela explica que, nos demais grupos abaixo de 60 anos, não houve reduções porque ainda não deu tempo de completar a segunda dose.

“Isso ocorre porque o Brasil não tem vacina suficiente”, diz.

Para Brito, o resultado apontado no número de mortes demonstra um sucesso da vacinação do país —e que isso deve começar a impactar, nos próximos meses, na mortalidade de jovens pela covid-19.

“A distribuição percentual de mortes se deslocou hoje para grupos mais jovens porque eles pe”A distribuição percentual de mortes se deslocou hoje para grupos mais jovens porque eles permaneceram mais suscetíveis por não estarem protegidos com a vacina. O que ocorreu nessa diferença de 2020 para 2021 é que os idosos passaram a ser o grupo que contribuiu menos com a mortalidade, porque tem o fator da proteção da vacina”, conclui.

(*) Com informações UOL