Os aliados mais próximos ao ex-prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio (PDT), imaginavam encontrar nuvens menos turvas nesse começo de caminhada que está sendo construída para as eleições de 2022, mas a CPI da Covid-19 antecipou um embate que os surpreende pela precocidade. Coube ao senador Eduardo Girão (Podemos) que, também, sonha com o Governo do Estado, puxar Roberto Cláudio para o ringue.

Girão quer levar o ex-prefeito de Fortaleza à CPI da Covid-19 para explicações sobre um hospital de campanha erguido, em 2020, no Estádio Presidente Vargas, e como o dinheiro enviado pela União foi aplicado na área da saúde. A rapidez com que o hospital de campanha foi montado e desmontado chamou atenção e, no primeiro momento, entrou no radar de uma operação da Polícia Federal e do Ministério Público Federal e, nesse momento, enfrenta a lupa do Ministério Público Estadual do Ceará.

LUPA NO HOSPITAL DE CAMPANHA

Com a abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito, o senador Eduardo Girão mira o Consórcio de Governadores da Região Nordeste e, no Ceará, quer muito mais: os pedidos de informações aos órgãos de fiscalização e ao Ministério da Saúde sobre as verbas transferidas para o Município de Fortaleza no combate à pandemia. Girão quer saber como o dinheiro foi gasto.

Um dos alvos de Eduardo Girão é, justamente, o hospital de campanha do Estádio Presidente Vargas. À época das investigações do Ministério Público Federal, a gestão do então prefeito Roberto Cláudio foi enfática ao dizer que nada de irregular existia com a obra.

O caso teve, porém, desdobramento e está nas mãos do Ministério Público Estadual. Uma das fases de investigações foi o pedido de afastamento de envolvidos com a obra de cargos públicos. O MP recolheu, também, documentos e equipamentos eletrônicos na busca de provas sobre supostas irregularidades no hospital de campanha. Outra recomendação foi afastamento de envolvidos direta ou indiretamente com a obra de cargos da gestão municipal.

CPI DA COVID, O PALANQUE DE 2022

A CPI da Covid-19, que começou a funcionar há uma semana no Senado, dará palanque para aliados e opositores ao Governo do presidente Jair Bolsonaro com repercussão na corrida eleitoral dos Estados de 2022. A visibilidade dos membros da CPI os levará ao holofote e os projetará nas pretensões da disputa pela reeleição ao Senado ou aos Governos Estaduais.

Pré-candidato à sucessão do Governador Camilo Santana, o senador Eduardo Girão usa a matemática para ganhar ainda mais notoriedade e, a partir do debate na CPI, ocupar os espaços e chegar com fôlego de popularidade em 2022. Os cálculos estão dando resultados e Girão tem sido um dos senadores da CPI mais presente no noticiário, com longas entrevistas e críticas aos governos estaduais, daí ter definido como uma das prioridades o conflito no Ceará.

GIRÃO X ROBERTO CLÁUDIO

“A CPI não está interessada nos atos de gestão do Executivo municipal e estadual, mas, apenas e tão somente, nas questões passíveis de ser investigadas pela CPI”, declara Girão, ao reafirmar o desejo de cobrar, ao máximo, transparência do destino dado pelo Governo Municipal de Fortaleza e pelo Governo do Estado aos recursos oriundos do Governo Federal.

O ex-prefeito Roberto Cláudio mordeu a isca e, como não pode, nem deve ficar naquela de quem cala, consente, respondeu pelas redes sociais e definiu as cobranças de Eduardo Girão como “proativismo intempestivo” e, ainda, o acusou de, em 2020, não mexer nenhuma palha para contribuir com as ações de combate à pandemia.

“Não houve qualquer mobilização política por parte do senador Girão em apoio às medidas locais de isolamento social, à aquisição de insumos médicos ou ao trabalho de assistência aos nossos doentes, nem mesmo para viabilizar vacinas ao Ceará”, reagiu Roberto Cláudio em declarações ao Jornal O Estado de São Paulo.

Roberto Cláudio que, ao deixar a Prefeitura de Fortaleza no dia 31 de dezembro tinha uma agenda de cursos em São Paulo, mantém, porém, uma agenda nos bastidores políticos à espera da chegada de 2022 para ser indicado o candidato do PDT ao Governo do Estado. Os aliados o tratamento como o pré-candidato a governador e não como um dos pré-candidatos do grupo liderado pelo presidenciável Ciro Gomes à sucessão do Governador Camilo Santana.