O número de crimes de estelionato digital, no Brasil, disparou quase 500% entre 2018 e 2021 no país, segundo dados do 16º Anuário Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), divulgado nesta terça-feira (28). Em números absolutos, este tipo de crime passou de 7.591 para 60.590 no período. Em 2020, houve 34,713 casos, ante 14.677 no ano anterior.

Além disso, a quantidade de crimes de estelionato também cresceu, passando de 426,8 mil casos em 2018 para 1,26 milhão no ano passado, atingindo uma taxa de 583 casos por 100 mil habitantes — e um aumento de 180% em quatro anos. Em 2020, 927.898 casos foram registrados, contra 523.820 em 2019.

Os pesquisadores apontam que o lançamento do Pix, ferramenta que permite repasses instantâneos de dinheiro, pode ter influência nesse contexto. Isso porque crimes de estelionato por meio eletrônico, nos quais a vítima é induzida a realizar transferências ou tem compras ou empréstimos financeiros realizados em seu nome sem sua autorização, têm sido associados às modalidades de roubos e furtos de celulares.

As restrições impostas durante a pandemia não impediram o crescimento dos registros de estelionato e parecem ter impulsionado sua prevalência, avalia o FBSP.

“Os dados reforçam um fenômeno que vem sendo discutido: estamos vivenciando mudanças significativas nas dinâmicas dos crimes contra o patrimônio, em direção a sua digitalização. A queda de roubos a transeuntes (-7,5%) e o crescimento de roubos e furtos de celulares (1,8%) estão, muito possivelmente, associados a esta dinâmica; o que indica que os dados de roubos e furtos de celulares retratam melhor os crimes cometidos em vias públicas e a sensação de segurança nos ambientes urbanos, como será discutido adiante”, afirma o estudo.

Diretor-presidente do FBSP, Renato Sérgio de Lima atribui à transformação do papel dos smartphones na vida das pessoas o aumento desse tipo de crime. Para ele, se antes os telefones celulares tinham no próprio aparelho físico, o hardware, seu valor intrínseco, hoje essa centralidade passou para os aplicativos com influência na vida financeira, como de bancos e serviços de entrega.

— Esses crimes (de estelionato) têm muita ligação com o sentimento de medo da população. O Brasil, além de viver um quadro de violência letal, vive uma epidemia de golpes — afirma ele.

Entre 2018 e 2021, 3,7 milhões de celulares foram roubados ou furtados no Brasil — 847.313 desses casos ocorreram no último ano, o que equivale a 1,6 celular substraído por minuto. O número, no entanto, representa uma queda de 22,8% na taxa de roubo e furto de celulares no país. Os pesquisadores consideram que o período da pandemia causou efeito nesses dados, principalmente em 2020, quando as medidas sanitárias de restrição de circulação de pessoas por causa da covid-19 resultaram em menos pessoas na rua.

Embora os dados indiquem queda nos crimes patrimoniais no período entre 2019 e 2020, com o início da pandemia, essa tendência não se manteve no ano seguinte, marcado pela retomada das atividades. A partir do avanço da vacinação, houve retomada de parte considerável das ocorrências de crimes contra o patrimônio.

“As taxas, contudo, ainda não se igualam aos patamares anteriores à pandemia de Covid-19. Os crescimentos mais significativos ocorreram no crime de estelionato, com taxas muito acima daquelas vistas em 2018 e 2019, e de estelionato no contexto virtual. Entre 2020 e 2021, houve, praticamente, estabilidade no roubo e furto de veículos e roubo e furto de celulares. Tivemos, ademais, queda de roubo a transeunte e queda no total de roubos”, diz o estudo.