Um dos pivôs do escândalo que encurralou o presidente Michel Temer (PMDB), o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) – que seria beneficiário de uma mesada de propina, em troca de seu silêncio – cobrou R$ 30 milhões da JBS na disputa pela presidência da Câmara, em 2015, e R$ 20 milhões para aprovar um projeto de lei. É o que contou o empresário Joesley Batista, dono do Grupo JBS, em sua delação premiada com a força-tarefa da Operação Lava Jato.

“Foi R$ 30 milhões, nós demos R$ 30 (milhões)”, afirmou Joesley. “Ele saiu comprando um monte de deputado Brasil a fora. Para isso que servia esses R$ 30 milhões.”

No depoimento, o empresário disse à Procuradoria-Geral da República (PGR) que informou o presidente Temer, em reunião no Palácio do Jaburu, que pagamentos a Cunha haviam cessado e que ainda dava R$ 400 mil de mensalidade a Lúcio Bolonha Funaro, também preso, apontado como operador do peemedebista e do empresário em esquemas de corrupção.

O objetivo dessa mesada, explicou o depoente, era garantir o silêncio tanto de Funaro quanto de Cunha.

“Temer disse que era importante continuar”, diz trecho do depoimento.

O presidente nega ter dado aval aos pagamentos. A defesa de Cunha, procurada, ainda não se pronunciou.

O Termo 06 da delação de Joesley, referente ao Anexo 8, que trata do tema “Eleição de Eduardo Cunha para a presidência da Câmara dos Deputados”, lista como foram pagos os valores.

R$ 10,9 milhões – Várias notas fiscais emitidas contra a JBS entre 2 de setembro de 2014 a 2 de outubro de 2014; R$ 12 milhões – pagos em dinheiro entregue em várias praças; R$ 5,6 milhões – através de doações oficiais ao PMDB Nacional e vários correligionários de Cunha”, registra o anexo.

Joesley classificou Cunha como um político “incisivo” e “bom de briga”.

Cunha foi eleito presidente da Câmara no primeiro turno, derrotando o candidato do governo Dilma Rousseff, o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), por 267 votos a 136.

O empresário disse que Cunha cobrava propinas sempre justificando a necessidade de pagar terceiros. “‘Eu preciso comprar outros deputados, em tese o dinheiro era sempre para uma terceira pessoa.”

Preso. O dono da JBS disse à Lava Jato ter pago R$ 5 milhões de “saldo de propina” a Cunha, depois de preso. O empresário relatou que, além dos R$ 30 milhões da eleição da Câmara, devia R$ 20 milhões ao peemedebista, referentes à atuação dele na tramitação de projeto de lei que desonerou a cadeia produtiva do frango.

Joesley afirmou que seu grupo empresarial pagou “nos últimos anos” R$ 400 milhões em propina a políticos e servidores públicos. A lista, segundo ele, inclui senadores, deputados e presidentes da República.

O delator contou que o levantamento dos valores foi feito por meio de uma investigação interna em seu grupo empresarial, que ele próprio determinou, antevendo que seria chamado a dar explicações ao Ministério Público Federal (MPF).

A JBS é alvo de ao menos cinco operações policiais que avaliam fraudes contra a administração pública, lavagem de dinheiro e corrupção.

O empresário contou que seu grupo empresarial está envolvido em crimes há “10, 15 anos”. O montante de doações legais a políticos, segundo ele estimou, é bem menor que o que foi o distribuído “por fora”: R$ 100 milhões.

Com informações O Estado de São Paulo