Com a consolidação e distanciamento de Jair Bolsonaro (PSL) no primeiro lugar das pesquisas de intenção de votos e a saída oficial de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) da campanha, um bloco de quatro candidatos – Ciro Gomes (PDT), Marina Silva (Rede), Geraldo Alckmin (PSDB) e Fernando Haddad (PT) – estão tecnicamente empatado na disputa por uma segunda vaga.
Ciro, Marina e Alckmin, na tentativa de se desgarrar desse pelotão, reavaliaram as estratégias com o objetivo de conter a potencial ascensão de Haddad, herdeiro natural do votos do eleitorado lulista.
A pesquisa Ibope divulgada esta semana mostra que 38% dos eleitores admitem votar em Haddad com a indicação do ex-presidente — 23% dizem que “com certeza” farão a opção, enquanto 15% afirmam que “poderiam” apoiar o candidato petista. No Nordeste, a soma chega a 52%.
Para impedir a transferência de votos, adversários de Haddad, que aparece com 8% no cenário geral do Ibope, criaram novas estratégias: de críticas a polarizações entre adversários a escolhas a dedo sobre qual concorrente deve ser atacado.
Além de direcionar seus esforços no Nordeste para tentar tirar de Haddad o maior número possível de votos lulistas, o que já estava fazendo, Ciro aposta na rivalidade entre PT e PSDB.
Segundo o presidente do PDT, Carlos Lupi, para conseguir uma vaga no segundo turno, Ciro atacará a polarização entre as siglas que comandaram o Brasil de 1995 até o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016.
O Sudeste, onde a rejeição ao PT é forte, também receberá a atenção especial de Ciro. “Não seremos coxinha nem mortadela. Seremos rapadura. Duro, porém doce”, afirma Carlos Lupi.
Além disso, como o pedetista já tem um desempenho favorável entre o eleitorado nordestino (lidera com 18%, segundo o Ibope), “não será fácil” para Haddad crescer, diz Lupi. A campanha vê uma oportunidade no enfraquecimento da candidatura de Marina, registrado nas pesquisas.
Na campanha da candidata da Rede, o mote será concentrar as atenções no eleitorado feminino, nordestino e de baixa renda. A avaliação é que esse universo concentra a maior chance de a candidata reverter a queda registrada nas últimas sondagens.
Além disso, depois de uma série de eventos fechados, como debates e sabatinas, o comando da campanha avisou que Marina precisa estar mais presente nas ruas, em eventos que a coloquem lado a lado com o eleitor, sobretudo no Norte e Nordeste. “De 27 dias de campanha, Marina passou só cinco deles em cidades do Norte e do Nordeste”, lembrou um interlocutor da Rede.
Voto antipetista
A busca pelo eleitor de Lula, no entanto, esbarra nas próprias críticas que a candidata tem feito ao PT. Na sabatina organizada pelo Jornal O Globo, ela afirmou que Haddad “terá de explicar à sociedade o que aconteceu no Brasil, que era o país do pleno emprego e agora tem 13 milhões de desempregados”.
Já o PT deve continuar investindo nas regiões onde Lula tem maior popularidade. Uma das agendas previstas é uma ida ao interior da Bahia neste fim de semana. Haddad e sua campanha também já definiram que, por ora, não responderão a ataques de Ciro, Marina e Alckmin. Em um eventual segundo turno contra Jair Bolsonaro (PSL), o petista tentaria angariar o apoio dos três.
“O potencial de crescimento do Haddad existe, mas vai depender da comunicação da campanha, levando em consideração o tempo que falta até o primeiro turno”, avalia a diretora-executiva do Ibope, Márcia Cavallari.
A campanha de Alckmin, por sua vez, não briga pelo espólio de Lula e seguirá pelo caminho oposto: o tucano vai reforçar o discurso do voto útil, na tentativa de encarnar a figura do antipetista, hoje mais associada a Bolsonaro. Alckmin adotou o mantra de que o adversário do PSL é um “passaporte para a volta do PT”.
O tucano também criticou o fato de o candidato petista ter sido anunciado “em frente a uma penitenciária”, em alusão ao ato que oficializou Haddad. Alckmin ainda incluiu Marina e Ciro nas críticas ao lembrar que os dois foram ministros de Lula.
Os programas eleitorais do PSDB voltarão a ter um tom mais crítico em relação aos seus adversários a partir deste fim de semana. Em uma das conversas durante as reuniões de emergência organizadas em São Paulo, Alckmin ouviu de aliados que não dava para continuar apostando em programas sobre suas propostas e ou sobre a sua biografia.
“A linha é dizer que, se vota no Bolsonaro, vai eleger o PT. E, no caso do outro campo, estamos mostrando que todos são sócios do PT”, disse um dirigente da campanha.
Com informações do Jornal O Globo