A tragédia na cidade de Suzano, em São Paulo, nessa quarta-feira, com 10 mortos provocadas por dois atiradores, colocou em debate – mais uma vez, a liberação de armas de fogo no Brasil. Um decreto assinado pelo presidente Jair Bolsonaro, que tramita na Câmara dos Deputados e facilita a posse de armas, pode triplicar, em quatro anos, o número de armas de fogo em circulação no País.
Os números surgem a partir de cálculos feitos por especialistas da área de segurança e, também, por empresas estrangeiras que estão de olho no mercado nacional. O comércio das armas pode gerar movimento de R$ 1 bilhão. As estatísticas apontam que, atualmente, o Brasil tem 7 milhões de armas legalizadas e, no quadriênio após as mudanças instituídas pelo Decreto, esse número pularia para 21 milhões de unidades.
O novo cenário atrai a atenção da indústria de armas e a expectativa é que, em abril, no Rio de Janeiro, durante a Feira da cadeia produtiva de defesa e segurança América Latina, pelo menos, representantes de 450 marcas nacionais e internacionais estejam presentes. Especialistas da área de segurança não escondem a preocupação com a flexibilização do porte e da posse de armas. O professor de mestrado e doutorado em Ciências Sociais na PUC-MG (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais) e especialista em segurança pública Luís Sapori, em entrevista ao UOL, destacou o grande interesse dos estrangeiros nesse mercado. “A feira, num momento como este, é uma sinalização clara da tentativa de abrir o mercado brasileiro. É um retrocesso no campo da segurança pública porque não tem como separar posse de armas da violência”.
Os desdobramentos da tragédia em Suzano geram mais discussões, polêmicas e questionamentos. Há, porém, em meio ao debate, uma certeza: quanto menos armas em circulação, menos crimes a sociedade pode ter. Esse, pelo menos, é o pensamento exposto pela, advogada, cientista política e coordenadora de pós-graduação em Administração Pública da Escola de Direito do Brasil, Mônica Sapucaia Machado.
A tragédia dialoga diretamente com o posicionamento dos organismos internacionais e dos especialistas em segurança pública: quanto menos armas circularem na sociedade mais segura ela será, disse Mônica Machado, em entrevista ao Jornal O Estado de São Paulo.