As articulações que levaram o deputado Artur Lira (PP) à Presidência da Câmara Federal provocaram a implosão do DEM, fragilizaram a estratégia política do pré-candidato do PSDB ao Palácio do Planalto em 2022, João Doria, e deixaram o presidente Jair Bolsonaro revitalizado na corrida pela reeleição. O ninho tucano, que, também, ficou dividido na disputa interna da Câmara, precisa redefinir rumos.

A força da caneta, com os cargos e as verbas do Orçamento da União, fez a diferença para os aliados de Bolsonaro imporem uma fragorosa derrota ao grupo liderado pelo deputado Rodrigo Maia (DEM) que apostou na candidatura de Balei Rossi (MDB).

O resultado da eleição não é apenas matemático, mas, também, moral: o trator conduzido pelo Palácio do Planalto desmoralizou o então presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia, que tentou medir forças com Jair Bolsonaro.   Os bolsonaristas não só mostraram força política, mas foram além: racharam o DEM que, por maioria dos 31 deputados federais, decidiu aderir à candidatura de Artur Lira.

As bençãos dessa migração de votos foram dadas pelo presidente da Executiva Nacional do DEM, ex-prefeito de Salvador e pré-candidato ao Governo da Bahia, Antonio Carlos Magalhães Neto. Sem ambiente, Maia decidiu que o DEM já não é mais o seu abrigo.

O líder baiano, com olhos voltados a 2022 e decidido a derrotar o grupo do PT na Bahia, se opôs ao nome de Baleia Rossi, que uniu, além do PT, o bloco parlamentar de Rodrigo Maia. Ou seja, ACM Neto empurrou Rodrigo ladeira abaixo, desnorteou o governador de São Paulo, João Doria, que flertava com o DEM e, especialmente, com Rodrigo Maia na construção de uma aliança para 2022, deixou os tucanos atônitos e ajudou o presidente Bolsonaro a ganhar fôlego político.

DESDOBRAMENTOS NO PRESENTE E NO FUTURO

Os desdobramentos da divisão no DEM serão sentidos de forma lenta e gradual, a curto, médio e longo prazo. Confirmada a saída de Rodrigo Maia, outros militantes do partido – como Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro, e Rodrigo Garcia – vice-governador de São Paulo, devem buscar outro rumo partidário. Paes é ligado a Rodrigo Maia; Garcia sonha com o Governo de São Paulo uma vez que, em abril de 2022, João Doria deve renunciar para concorrer à Presidência da República.

Filiado ao DEM e fiel a Doria, Garcia será aconselhado a se filiar a outra sigla. Com essas mudanças e outras defecções que irão surgir, o DEM terá que se recon struir uma vez que passa a ter uma característica mais regional, centrando forças na pré-candidatura de ACM Neto ao Governo da Bahia.


A divisão nacional terá impactos na estrutura do DEM nos Estados, além do Rio de Janeiro e São Paulo. No Ceará, a sigla é comandada pelo primeiro suplente de senador e empresário Chiquinho Feitosa, que é aliado de Rodrigo Maia. Hoje, o DEM é aliado ao governador Camilo Santana (PT) e, atualmente, participa da administração do prefeito de Fortaleza, José Sarto (PDT). Chiquinho se prepara para concorrer, em 2022, à Câmara Federal, mas não será surpresa, se com tantas mudanças, desembarcar no PSDB – sigla pela qual disputou e conquistou mandato de deputado federal nos anos 90.