Com muitas empresas em fase de planejamento para o período de festas, a demanda por investimento tem mostrado reação. Dados apurados pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Cré’dito (SPC Brasil) mostram que o Indicador de Propensão ao Investimento da micro e pequena empresa avançou 10,4 pontos no último mês de agosto na comparação com o mesmo período do ano passado e atingiu 49,6 pontos na escala. Pela metodologia, quanto mais próximo de 100, mais dispostos a realizar investimentos estão os empresários. Quanto mais perto de zero, menor é essa propensão.

Com essa melhora do indicador, o percentual de micros e pequenos empresários que pretendem investir em seus negócios pelos próximos três meses não apenas aumentou, como também ultrapassou aqueles que não querem investir. Em um ano, saiu de 33% para 41% o número de empresários de menor porte que vão investir, ao passo que os pessimistas nesse sentido saíram de 53% para 37%. Os que não sabem formam 23% da amostra.

Na avaliação do presidente da CNDL, José Cesar da Costa, à medida que a capacidade ociosa das empresas, ainda bastante elevada, for sendo utilizada, os indicadores de investimento deverão reagir de forma mais significativa.

 

“Este é o momento em que muitas empresas começam a se mobilizar para as datas comemorativas, como Natal, Black Friday, Ano Novo e até mesmo o Dia das Crianças, que sempre movimentam o comércio. O desemprego continua elevado, mas vem caindo aos poucos. Outro fator positivo recente foi a pequena reação do PIB, que ao contrário das expectativas veio positivo. Para este segundo semestre, espera-se um desempenho melhor da atividade econômica, apesar dos sinais lentos de reação”, afirma Costa.

Maioria quer investir para ampliar vendas e 48% recorrem a capital próprio

Para quem vai investir pelos próximos 90 dias, a principal motivação é expandir as vendas, opção citada por 58% dos empresários consultados. Já 31% sentem necessidade de investir para atender ao aumento da demanda de clientes e 29% precisam adaptar seus negócios a uma nova tecnologia.

A aquisição de equipamentos e maquinário deverá ser o principal tipo de investimento (31%), seguida da ampliação de estoques (26%) e divulgação da empresa (21%). Há ainda 17% que farão alguma reforma em suas instalações. Já para quem não vai investir, 45% não veem necessidade no atual momento e 34% alegam o fato de o país ainda não ter se recuperado da crise. Outros 22% fizeram investimentos recentes e ainda aguardam retorno.

Indagados sobre a origem do dinheiro investido, o levantamento mostra que são poucos, contudo, os que irão recorrer a capital de terceiros, o que demonstra cautela dos empresários para se endividarem no longo prazo. Apenas 23% mencionam empréstimos em bancos e financeiras, ao passo que 48% usarão recursos de alguma reserva que possuem e 9% que venderão algum bem.

Demanda por Cré’dito avança para 24,9 pontos, mas mantém patamar modesto. Um terço dos micro e pequenos empresários considera difícil contrair cré’dito

Exemplo que confirma o comportamento cauteloso dos micro e pequenos empresários no momento de se endividar é que o Indicador de Demanda por Cré’dito se mantém moderado, apesar de uma pequena melhora em comparação ao cenário do ano passado. No último mês de agosto, o índice marcou 24,9 pontos, contra 19,5 pontos observados no mesmo mês do ano passado. A escala do indicador varia de zero a 100, sendo que quanto maior o número, maior é a demanda dos empresários por cré’dito.

De modo geral, em cada dez micro e pequenos empresários, sete (70%) não pretendem tomar recursos emprestados para os seus negócios, o dado é pouco menor do que os 76% verificados no mesmo período de 2018. Apenas 14% estão dispostos a contrair cré’dito no período, enquanto 16% estão indecisos.

De acordo como levantamento, o fato de conseguirem manter os negócios com recursos próprios é a principal razão para aqueles que dizem não ter a intenção de contrair cré’dito, citado por 42% das pessoas ouvidas. Há ainda os que dizem que a empresa não tem necessidade no momento (40%) e os que avaliam como alta as taxas de juros (24%). Já 13% estão inseguros com a situação econômica do país e, portanto, preferem não se comprometer com empréstimos e financiamentos.

A dificuldade de ter acesso ao cré’dito é uma barreira. Um terço (33%) dos empresários de menor porte considera difícil contratar empréstimos e financiamentos, contra 22% que avaliam o processo de modo fácil. Para os que veem dificuldade na contratação, os principais motivos são o excesso de burocracia e exigências dos bancos (67%) e as altas taxas de juros (48%). Na opinião dos entrevistados, o cré’dito via BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Social) é o mais complicado de se obter, com 26% de menções. Em seguida aparecem os empréstimos em instituições financeiras (8%) e cré’dito com fornecedores (5%).

Já entre os que consideram a contratação algo fácil, as justificativas mais citadas são o bom relacionamento com o banco (48%), estar com as contas em dia (43%) e encontrar-se com a documentação regularizada (32%).

Para o presidente da CNDL, José Cesar da Costa, as micro e pequenas empresas nem sempre veem no cré’dito um meio para investir por conta da percepção de que o processo pode ser demorado, burocrático e custoso.

“O micro e pequeno empresariado brasileiro é culturalmente condicionado a achar que contratar cré’dito é algo restrito aos grandes empresários. É preciso avançar em políticas públicas que democratizem o cré’dito e orientem os empresários sobre o seu processo de contratação. A recente lei da criação da Empresa Simples de Cré’dito é uma medida positiva nesse sentido, ao permitir linhas altrnativas para microempreendedores locais a taxa de juros menores”, afirma Costa.