Segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), o número de pessoas com demência vai crescer em mais de 150% até 2050, passando de 55 para 139 milhões de casos. A síndrome, que compreende os diagnósticos de declínio cognitivo, em sua maioria pela doença de Alzheimer, é uma preocupação cada vez maior com o envelhecimento da população – no Brasil, dados do Censo 2022 mostram que o número de idosos aumentou 57,4% nos últimos 12 anos. Mas existem formas práticas de preveni-la.
Diversas pesquisas mostram que uma parcela significativa dos casos de demência estão associados a hábitos de vida. Segundo cientistas da Universidade de Oxford, no Reino Unido, esse total corresponde a cerca de 40% dos diagnósticos. Em um estudo mais recente, os pesquisadores do departamento de Psiquiatra da instituição buscaram mapear quais são os fatores de risco associados a esses pacientes de forma mais significativa.
O trabalho, publicado na revista científica BMJ Mental Health, analisou dados de dois grandes estudos de longa duração, o UK Biobank e o Whitehall II Study. Eles selecionaram 223,7 mil participantes com idades entre 50 e 73 anos e analisaram 28 fatores de risco já estabelecidos para demência e sua relação com a incidência de novos casos da doença.
Os cientistas descobriram 11 fatores que são associados de forma mais significativa a um risco maior para a demência ao longo dos 14 anos subsequentes. Enquanto três deles (idade, diagnóstico dos pais e ser homem) não podem ser alterados, 8 deles são modificáveis o que indica a possibilidade de intervir para reduzir o risco. Confira a lista completa:
- Idade;
- Educação;
- Histórico e diabetes;
- Histórico (ou situação atual) de depressão
- Histórico de AVC;
- Os pais terem demência;
- Classe socioeconômica mais baixa;
- Pressão alta;
- Colesterol alto;
- Viver sozinho e
- Ser homem.
Com base nos 11 fatores, os cientistas de Oxford desenvolveram uma pontuação de risco que, segundo o principal autor do estudo, Raihaan Patel, pode ser utilizada para identificar aqueles mais vulneráveis à demência, e que portanto podem se beneficiar de um acompanhamento médico mais específico.
Porém, a professora de Oxford que também participou do estudo, Sana Suri, pondera que a pontuação “apenas nos informa sobre as nossas chances de desenvolver demência, não representa um resultado definitivo”, diz em comunicado. Quanto mais fatores, maiores as chances, mas isso não quer dizer necessariamente que o indivíduo terá o declínio cognitivo.
Ela destaca que, já que “alguns dos fatores incluídos na pontuação podem ser modificados ou tratados, há coisas que todos podemos fazer para ajudar a reduzir o nosso risco de demência”. A pesquisadora cita de exemplo que uma pessoa com diabetes, depressão e pressão alta, que podem ser tratados, tem cerca de três vezes mais risco de demência do que alguém da mesma idade sem os diagnósticos.
Os fatores chamados de modificáveis são importantes especialmente no contexto de alta dos casos de demência e de uma população cada vez mais envelhecida. No relatório mais recente sobre o tema, a OMS chamou atenção para “falhas no combate à doença” e para uma estimativa de que ela alcance 139 milhões de pessoas em 2050.
O documento aponta ainda que somente um quarto dos países têm uma política, uma estratégia ou um plano nacional que promova o apoio a pessoas com demência e suas famílias. Isso ao passo em que um dos principais fatores de risco, a idade, acende o alerta de diversas nações.
No Brasil, dados recém-divulgados do Censo 2022 pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), mostram que o número de idosos com 65 anos ou mais cresceu 57,4% em relação a 2020. Hoje são cerca de 22,2 milhões de brasileiros na faixa etária, 10,9% da população. Enquanto isso, a proporção de crianças com até 14 anos caiu de 23,1% para 19,8%.
(*)com informação do Jornal O Globo