O aumento no derretimento das plataformas de gelo na Antártica Ocidental ao longo do século 21 poderá ser inevitável, adverte um estudo britânico. De acordo com a pesquisa, publicada ontem na revista Nature Climate Change, sugere que o rápido aquecimento do oceano já está em curso, em decorrência de uma série de emissões de gases, e que os esforços para atenuar a situação podem ter um impacto limitado na prevenção dos cenários catastróficos.

Liderados por Kaitlin Naughten, pesquisadora do British Antarctic Survey, os cientistas utilizaram um modelo oceânico para analisar as mudanças futuras em diferentes cenários de emissões, considerando o aquecimento das águas e o subsequente derretimento das plataformas de gelo no Mar de Amundsen, na Antártica. As conclusões da equipe indicam que, mesmo sob vários cenários de mitigação, como os estabelecidos no Acordo de Paris, as alterações climáticas podem resultar em um aquecimento oceânico três vezes maior do que as taxas históricas.

Os autores do estudo também observam que fatores naturais terão grande influência no controle do nível de aquecimento causado pelas mudanças climáticas. A pesquisa prevê ainda um aumento no derretimento nas áreas críticas que sustentam a camada de gelo e mantêm sua estabilidade.

Alessandro Silvano, pesquisador da Universidade de Southampton e do Natural Environment Research Council (NERC), na Inglaterra, explica que o derretimento da Plataforma de Gelo da Antártica Ocidental não causará apenas o aumento do nível do mar, mas terá outras consequências preocupantes. “Também perturbará a circulação oceânica profunda responsável por armazenar o carbono longe da atmosfera e sustentar a vida dos ecossistemas profundos. Portanto, o impacto será global.”

Segundo o especialista, a elevação no nível do mar será menos severa na América do Sul. Com esforços, algumas áreas poderão permanecer congeladas. “As taxas mais elevadas de aumento (do nível do mar) ocorrerão na América do Norte. A Antártica Oriental contém a maior parte do gelo, cerca de 90%. Se conseguirmos manter o aquecimento global abaixo de 2°C, poderemos salvar grandes partes da Antártica Oriental.”

Apesar do cenário preocupante, os especialistas reforçam que o ensaio se baseia em informações de um único modelo. Além disso, a perda de massa da camada de gelo na Antártica Ocidental é apenas um componente da elevação do nível do mar global — outras regiões, provavelmente, não perderão massa significativa se as metas atuais de emissões forem cumpridas. Devido à inércia da camada de gelo, a escolha do padrão de emissões pode ter um impacto significativo em um futuro distante, possivelmente levando séculos ou milênios para que as respostas completas às mudanças climáticas se manifestem. 

(*)Com informação do CB