O número de brasileiros que procuram emprego há dois anos ou mais bateu recorde no segundo trimestre: 3,1 milhões, informou nesta quinta-feira o IBGE. É o maior patamar para o desemprego de longa duração desde o início da série histórica da pesquisa, iniciada em 2012. Também é recorde o número de brasileiros que não está empregado nem em busca de uma vaga — os desalentados. São 4,8 milhões nessa situação. Ao todo, no período, faltou trabalho para 27,6 milhões de brasileiros, somando ainda os desempregados e os que estão na ativa mas gostariam de trabalhar mais horas.
Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua Trimestral mostram que 24,4%, ou um em cada quatro desempregados, está buscando uma vaga há pelo menos dois anos. O desemprego de longa duração é, segundo especialistas, um dos motivos para o aumento do desalento. Depois de procurar emprego por muito tempo e não conseguir, muitos acabam desistindo ou não tendo condições de continuar em busca de uma vaga, até por falta de recursos para arcar com desespesas de transporte e outros custos.
— São 4,8 milhões de pessoas (desalentados) que não foram consideradas desocupadas, mas que se você oferecer emprego, elas estão disponíveis para trabalhar. Isso significa que a desocupação pode ser muito maior que ela é. Significa que na hora de criar políticas para criar emprego, será preciso considerar muito mais que os 12,9 milhões de desocupados — afirma Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE.
Há duas semanas, a versão menos detalhada da Pnad mostrou que a taxa de desemprego recuou para 12,4%, influenciada pelo aumento do número de pessoas que deixaram de buscar oportunidades.
Cimar Azeredo destaca que cresce a parcela dos desalentados entre a população que estão na fora da força de trabalho. No ano passado, os desalentados representam 6,2% desse grupo que não trabalha nem procura emprego. No segundo trimestre deste ano, essa fatia subiu para 7,4%.
4,8 milhões de desalentados
São os trabalhadores que estão desempregados mas desistiram de procurar uma vaga. Inclui quem se acha muito jovem, muito idoso, pouco experiente, sem qualificação ou acredita que não encontrará oportunidade no local onde reside. O número de desalentados é influenciado por vários fatores, até por notícias relacionadas à crise. Parte das pessoas que tem contato com informações sobre aumento de número de desempregados simplesmente desiste de procurar.
12,9 milhões de desempregados
São os brasileiros que procuraram uma vaga na semana da pesquisa do IBGE, mas não encontraram. Desses, 3,1 milhões está buscando um emprego há dois anos ou mais, ou seja, estão no desemprego de longa duração
6,5 milhões de subocupados
São brasileiros que fizeram algum tipo de trabalho, mas que dedicaram menos de 40 horas semanais a isso e gostariam de trabalhar por um período maior. Um profissional freelancer ou alguém que faça bicos e não está conseguindo muitos trabalhos se encaixa nessa situação.
Para 27,6 milhões, falta trabalho
Esse é o número de brasileiros para quem falta trabalho. Inclui os desalentados (4,8 milhões), os desempregados (12,9 milhões), os que trabalham menos horas do que gostariam (6,5 milhões) e os que não estão nessas situações anteriores mas gostariam de trabalhar (estão na força de trabalho “potencial” mas, na semana da pesquisa do IBGE, não estavam disponíveis por vários motivos, como problemas de saúde ou por necessidade de cuidar de crianças ou idosos, são 3,3 milhões nessa situação).
No segundo trimestre de 2018, o Rio teve 2,79 milhões de empregados com carteira assinada, frente 2,9 milhões do trimestre anterior. No caso de São Paulo, o número caiu de 10,1 milhões para 9,9 milhões.
— Rio e São Paulo estão com o menor nível de carteira assinada desce o início da série histórica. Esse é um dado significativo e preocupante porque são as duas maiores economias do país — indicou Azeredo.
O percentual de desalentados em relação à força de trabalho subiu para 4,4%, o maior da série histórica. Alagoas é o estado com a maior taxa de desalento, 16,6%. Os menores percentuais foram registrados no Rio (1,2%) e em Santa Catarina (0,7%). Em divulgações anteriores, especialistas chegaram a considerar o maior custo de vida no Rio como um dos motivos para o baixo desalento na região. Já Santa Catarina se destaca por ter a menor taxa de desemprego do Brasil, apenas 6,5%, bem abaixo da média nacional.
O número de subocupados por insuficiência de horas trabalhadas vem subindo nos últimos trimestres. No primeiro trimestre deste ano, essa condição atingia 6,1 milhões de trabalhadores. No segundo trimestre do ano passado, o contingente era de 5,8 milhões. No auge da crise, em 2015, o número chegou a ser ainda menor, indicando que nem bicos estavam disponíveis no mercado.