Ao pensar em pedras nos rins, uma das condições de saúde mais temidas por causar dor, é normal pensar no sal como um vilão. Mas outro pó branco bem conhecido está na rota dos alimentos que predispõem o aparecimento de cálculo renal.
“Quando o cálculo está localizado dentro dos rins, o paciente pode não apresentar sintoma nenhum e o diagnóstico ser feito por acaso, por meio de um exame de imagem abdominal como ultrassom ou tomografia. Quando ele sai do rim e obstrui o canal urinário (ureter), ocorre a famosa cólica renal, um quadro de dor lombar intensa, de início súbito, com irradiação para a região lateral do abdome e frequentemente para a região genital”, explica a médica nefrologista Caroline Reigada, especialista em medicina interna pela Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e em nefrologia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
Caroline Reigada explica que existem vários tipos de cálculo renal e o sal em excesso é, sim, um vilão:
“Mas o consumo demasiado de açúcar também está relacionado ao desenvolvimento de pedras nos rins”. Um estudo recente mostrou que uma dieta rica em açúcares adicionados pode predispor as pessoas a desenvolver pedras nos rins, aumentando o risco em média em 39%: “Aqueles que consumiram 25% ou mais de suas calorias diárias de açúcares adicionados tiveram uma chance 88% maior de cálculos renais em comparação com aqueles que mantiveram sua ingestão de açúcar adicionado a menos de 5% de suas calorias diárias”, diz a nefrologista.
Açúcares adicionados são descritos como aqueles acrescentados durante a preparação de alimentos e bebidas e há uma infinidade deles para ficar de olho nos rótulos:
- açúcar de cana
- açúcar de beterraba
- açúcares de outras fontes
- mel
- melaço
- melado
- rapadura
- caldo de cana
- extrato de malte
- sacarose
- glicose
- frutose
- lactose
- dextrose
- açúcar invertido
- xaropes
- maltodextrinas
A análise foi feita com mais de 28.000 adultos norte-americanos e aqueles que consumiram mais energia de açúcares adicionados tiveram, em média, 39% mais chances de desenvolver pedras nos rins em comparação com aqueles que consumiram a menor quantidade de açúcares adicionados.
“Aqueles que se enquadram no grupo que mais ingeriu açúcar adicionado consomem em média 542,11kcal por dia oriundas do açúcar, contra 58,25 kcal entre aqueles no grupo que menos consome”, diz a médica. “Esse é o primeiro estudo a relatar uma associação entre o consumo de açúcar adicionado e pedras nos rins. Isso sugere que limitar a ingestão de açúcar adicionado pode ajudar a prevenir a formação de cálculos renais”, esclarece a nefrologista.
Insuficiência renal
Caroline Reigada destaca que há muito tempo há evidências de que o açúcar aumenta a quantidade de cálcio na urina e há várias razões pelas quais evitar o açúcar seria parte de uma dieta que encoraja a prevenção de cálculos renais.
“Este estudo serve como um grande conjunto de dados com boa credibilidade e inclui um grupo relativamente representativo de pessoas nos Estados Unidos. Desse ponto de vista, o estudo é importante porque documenta o que temos dito aos pacientes – para evitar esse tipo de adição de açúcar”, diz a médica, que lembra que o açúcar em excesso também pode causar diabetes, que é uma das principais causas de insuficiência renal.
Caroline Reigada lembra que os açúcares adicionados também podem causar ganho de peso aumentado, que está associado à pressão alta, resistência à insulina, síndrome metabólica e diabetes – todos considerados fatores de risco para aumento das taxas de cálculos renais: “Em geral, as mudanças na dieta que auxiliam na saúde dos rins também estão associadas à diminuição das taxas de cálculos renais.”
A médica enfatiza que mais estudos são necessários para explorar a associação entre o açúcar adicionado e detalhes da formação de pedras nos rins: “Por exemplo, que tipos de cálculos renais estão mais associados à ingestão de açúcar adicionado? Quanto devemos reduzir nosso consumo de açúcares adicionados para diminuir o risco de formação de cálculos renais? No entanto, essas descobertas já oferecem informações valiosas para recomendarmos uma diminuição da ingestão de açúcar em pacientes predispostos”.
(*)com informação do CB