A reta final do primeiro turno, marcado para 7 de outubro, é marcada por um afunilamento nas pesquisas de intenção de voto entre os presidenciáveis com mais chances de vencer o pleito, caso dos candidatos Fernando Haddad (PT) e Ciro Gomes (PDT), que disputam os votos de eleitores de esquerda e centro-esquerda.
Cada um com suas particularidades, mas também semelhanças ao buscar esse objetivo. De acordo com pesquisa Datafolha de 20 de setembro, ambos aparecem atrás de Jair Bolsonaro (PSL), que tem 28% das intenções de voto, e hoje brigam por uma vaga no segundo turno. Haddad tem 16% e Ciro, 13%. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
No último final de semana, por exemplo, ambos escolheram passar por Minas Gerais, por Pernambuco e outros estados do Nordeste em campanha. Os dois primeiros são os líderes em eleitores sem candidato definido ou que pretendem votar em branco ou nulo, segundo a mesma pesquisa, em comparação com outros estados pesquisados (São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal). Em Pernambuco, o índice chega a 16%. Em Minas, 14%. A média nacional é de 12%.
Foco em trabalho e emprego
Tanto Haddad quanto Ciro sabem que precisam agradar o eleitorado lulista a fim de se firmarem como a figura da esquerda nestas eleições e abocanhar os indecisos. Para tanto, têm apostado em um discurso voltado a políticas sociais com ênfase na população mais pobre e às injustiças sociais. Em eventos no fim de semana, os dois ressaltaram a necessidade de gerar empregos e melhorar a educação no país.
“O Brasil neste dia está com 13,7 milhões de pessoas desempregadas. O Brasil está hoje com 32,2 milhões vivendo de bicos. 63 milhões estão com o nome sujo no SPC. Não podem ser números frios”, disse Ciro Gomes no Recife. “[O dinheiro do petróleo brasileiro] é suficiente para fazer do Brasil uma grande nação de classe média em 15 a 20 anos se for aplicado de forma correta educando nossos jovens, qualificando nossa população para o trabalho inovador, para uma indústria 4.0. Para um conjunto de coisas que estamos até longe de pensar nelas quanto mais introduzir nas escolas”, falou, ainda na capital pernambucana.
Em Ouro Preto (MG), Haddad comentou propostas de educação em seu plano de governo e ressaltou ações passadas do partido na área. “Não era justo universidade pública só com gente de classe média e classe alta e os egressos da escola pública ficarem nas escolas particulares ou fora da universidade”, disse, ao comentar a construção de universidades federais nos governos PT.
Ao anunciar que iria gravar programa de televisão no Instituto Federal de Minas Gerais em Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte, Haddad falou que é preciso “assumir compromissos com o ensino médio deste país que precisa do apoio federal”. Temas idênticos nos discursos foram ainda a revogação da emenda constitucional que limita os gastos públicos pelos próximos 20 anos e a maior tributação a instituições financeiras.
Selfies e música
Os dois candidatos têm andado pelas ruas das cidades por onde passam e discursado para a população local, atendendo aos pedidos de selfies dos eleitores. Nas passeatas, ambos contam com a escolta da Polícia Federal, que costuma formar um cordão em volta dos políticos, mas sem impedir a aproximação deles com o povo. No entanto, se Ciro já dançou forró junto a militantes e gosta de apresentar o jingle da campanha, Haddad é mais tímido para mostrar os dotes de dançarino.
Em cima de trio elétrico em Betim, enquanto a ex-presidente e candidata ao Senado Dilma Rousseff (PT) se mostrava à vontade com músicas de campanha, Haddad arriscou poucos passos e resolveu esperar a vez de falar ao microfone. O comedido e o tagarela Haddad também é mais comedido ao fazer ataques a adversários do que Ciro.
Nos discursos, Haddad faz críticas ao governo do presidente Michel Temer (MDB) e aos adversários. No entanto, em alguns casos, evita citar nomes. Até mesmo quando concorrentes não diretos são criticados, Haddad faz questão de acalmar os ânimos. Na sexta, 21, em Ouro Preto, quando a militância petista começou a gritar “Aécio virou pó”, em referência ao senador Aécio Neves (PSDB-MG), com uma empolgada Dilma ao lado, o presidenciável petista pediu que os gritos cessassem. “Tá errado isso aí, que isso?”, falou, um pouco sem jeito.
Questionado pelo Portal Uol Notícias sobre a fala de Geraldo Alckmin (PSDB) de que Bolsonaro é “passaporte para a volta do PT ao poder” e que Ciro o chama de “poste de Lula como Dilma” e potencial “presidente por procuração”, Haddad se desculpou e declinou apenas com “eu não vou comentar, não”.
Ao ser questionado em coletiva sobre um eventual apoio do Ciro a ele ou vice-versa em um segundo turno, Haddad desconversou e preferiu não criar intriga. “O Ciro… às vezes diz uma coisa. Outras vezes diz outra. Eu gosto dele. Eu gosto do Ciro. É verdade mesmo. Mesmo ele…. às vezes….[ele é] amigo nosso”, afirmou.
Indagado de que forma o PT pretende angariar os votos dos eleitores tucanos que rejeitam Bolsonaro em um eventual segundo turno, disse: “Não vamos antecipar isso porque ainda tem muito chão pela frente. São duas semanas. A gente sabe que as coisas estão muito instáveis. Nós temos de levar nossa mensagem à população, nossa confiança de que temos o melhor projeto”.
Ciro Gomes, por sua vez, é conhecido por ser mais esquentado e não mede esforços para criticar os adversários ao Planalto. Ele subiu o tom contra Haddad nos últimos dias, sempre ressaltando não ter “nada pessoal” contra o petista. Nos comícios, se declara o “único candidato nordestino”, em contraposição ao pupilo de Lula – embora nascido em Pindamonhangaba, em São Paulo, Ciro construiu a carreira política no Ceará.
“A pergunta minha é simples. O Haddad conhece mais o Nordeste do que eu? Porque candidatura é assim. A gente tem de comparar”, questionou Ciro no domingo, 23. Ele emendou dizendo que Haddad demoraria os quatro anos de mandato presidencial para descobrir o que é o Arco Metropolitano do Recife e localizar cidades do interior nordestino.
Outras falas contra Haddad incluem que “o Brasil não pode ter outra Dilma” nem um presidente “fraco” e que o substituto de Lula cumpre um “papelão” na campanha. As falas mais ácidas de Ciro são destinadas a Bolsonaro e equipe. Para o deputado federal, são reservadas palavras como “nazista” e “f**** da p***”. Para o vice na chapa de Bolsonaro, general Hamilton Mourão, “jumento de carga”, “vagabundo” e “doente mental”.
Com informações do Portal Uol Notícias