O impacto da chegada da pandemia do novo coronavírus no Ceará elevou, pela primeira vez, o volume de dívidas atrasadas em mais de 90 dias de pessoas físicas no Estado a um montante superior a R$ 2 bilhões, conforme dados do Banco Central (BC), cuja série histórica teve início em janeiro de 2004.
O comportamento já era esperado, mas a pandemia de Covid-19 intensificou a repercussão nos números. “A inadimplência da pessoa física já vinha em uma trajetória crescente nos três primeiros meses do ano. O coronavírus potencializou a situação, mas a inadimplência já era grande, pelo alto índice de desemprego e tende a aumentar, infelizmente”, prevê o economista Alisson Martins.
Ele avalia que a aceleração do limite de crédito para a pessoa física é um dos potencializadores da situação. “O volume de crédito vem crescendo mais rapidamente do que o da pessoa jurídica. Esse crédito normalmente é usado para fechar orçamento pessoal, cartão de crédito, crédito especial, empréstimo e financiamento”, aponta.
Os dados do BC confirmam a trajetória de crescimento do volume de contas em atraso. Em janeiro, a taxa de inadimplência de pessoas físicas no Estado era de 3,87%, que avançou a 3,92% em fevereiro, com montante de R$ 1,8 bilhões, e a 4,48% em março, cuja soma da dívida ultrapassou o patamar de R$ 2 bilhões.
Em janeiro de 2004, primeira medição da série histórica do Banco Central, o índice de inadimplência dos cearense chegou à marca de 11,4%, mas o montante da dívida não correspondia a 25% do que é visto hoje. “O valor total foi de R$ 235,1 milhões (em 2004), nem se compara ao volume atual. A aceleração do crédito é uma das responsáveis por esse número”, aponta o economista, que prevê contínuo aumento da oferta de crédito.