O senador Cid Gomes assumiu as articulações para reunificar o PDT após o rompimento da aliança com o PT na disputa ao Governo do Estado e, durante reunião com correligionários, em Fortaleza, revelou alguns dos motivos que o deixaram longe da campanha. O ambiente na reunião foi de rostos sisudos e expressões faciais de insatisfação.

Cid confessou que o entendimento era para a Governadora Izolda Cela ser indicada como candidata à reeleição. O acordo, porém, foi quebrado e o PDT redefiniu, com um sabor amargo ao final da campanha, os rumos das eleições no Ceará. Os bastidores políticos revelam muito mais sobre o fim da aliança construída a partir de 2006.

A confissão de Cid surpreendeu alguns dos deputados e gerou reação de Mauro Filho, deputado federal reeleito, e que, à época da pré-campanha, apresentou o nome como opção do PDT à sucessão estadual. Mauro questionou se, realmente, existia o acordo porque ele, na condição de pré-candidato, nada sabia, nem fora informado.

MUITO MAIS NOS BASTIDORES POLÍTICOS

O racha fortaleceu o PT, emagreceu o PDT e deu ânimo a oposição rumo às eleições de 2024. Quanto ao cenário de 2022, os bastidores ainda fervilham, revelam ressentimentos e mágoas e expõem o teor das conversas que surgem em bares ou casos de amigos.

Uma conversa de mesa de bar, com testemunha, empurrou Cid Gomes para o isolamento e o deixou fora da campanha e desconfortável no PDT. A mesa de bar, que não era em restaurante, mas sim às margens da belíssima e encantadora Lagoa do Uruaú, em Beberibe.

Com ar de incredulidade, Cid ouviu desconcertantes palavras do empresário Prisco Bezerra que justificariam a escolha de Roberto Cláudio. As ‘duras palavras’ são apenas para refletir o ambiente de tensão à mesa de um encontro que começou suave, mas terminou com acidez. O bom papo cedeu lugar a sisudez de rostos incrédulos com os verbos e adjetivos surgidos à mesa.

ARGUMENTOS DE PRISCO

Prisco – primeiro suplente de Cid Gomes, expôs, com revelações que retrataram uma realidade que poucos queriam ouvir, que o aval de Ciro estava dado e Roberto Cláudio seria, em qualquer cenário, o escolhido pelo PDT. Prisco Bezerra apenas reagiu à narrativa de Cid Gomes de que, pelos entendimentos com o PT, a candidata ao Governo seria Izolda Cela.

Cid não engoliu a precisa leitura de Prisco Bezerra, pegou o carro e rumou em direção a Fortaleza, mergulhou, saiu de cena e a conversa de mesa de bar – com outros detalhes que poderão ser revelados no futuro, se transformou em realidade, com a oficialização da candidatura de Roberto Cláudio.

CANDIDATURA IMPOSTA E RACHA INEVITÁVEL

A imposição do nome do ex-prefeito de Fortaleza provocou, porém, a implosão da aliança com o PT e deixou estragos no PDT. Com a missão de reconstruir, o senador Cid Gomes conversou com os deputados estaduais e federais, fez um balanço sobre a campanha, falou sobre planos para o futuro, mas sabe que, entre os pedetistas, algumas divergências exigirão tempo para serem superadas.

O PDT saiu das urnas tem duas ramificações – uma, com mais afinidade com o ex-governador e senador eleito Camilo Santana, e outra identificada – e, ao mesmo tempo, frustrada, com o ex-prefeito Roberto Cláudio, que segue a liderança do ex-presidenciável Ciro Gomes.

VOZ DE CAMILO SANTANA

Aliado de Cid, o ex-governador e senador eleito Camilo Santana assumiu, logo após deixar o cargo no início de abril, a defesa da candidatura de Izolda como caminho para unir o PDT, o PT e mais 12 partidos da base de sustentação política e administrativa ao Palácio da Abolição.

Camilo foi atropelado pela articulação do presidenciável Ciro Gomes que, com o apoio do presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, e do presidente regional da sigla, André Figueiredo, impôs o nome do ex-prefeito Roberto Cláudio. Camilo manteve, porém, o bom relacionamento com o Cid. Os dois continuam conversado com muita freqüência.

APOSTA ERRADA

O PDT apostou que Camilo e o PT iriam se submeter à imposição do nome de Roberto Cláudio. Os pedetistas erraram e, ao final de dois meses de campanha, Camilo foi eleito senador com 3,3 milhões de votos, elegeu Elmano de Freitas governador e impôs a maior derrota nos 34 anos de carreira política do ex-presidenciável Ciro Gomes. Esse é apenas um dos capítulos de longas histórias a serem narradas sobre a curta, mas aquecida campanha de 2022 ao Governo do Estado.