O presidente do PDT e principal articulador da campanha de Ciro Gomes, Carlos Lupi, afirmou em entrevista ao Jornal O Globo que não acredita mais em aliança com o PT no primeiro turno. Lupi ainda disse que o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, será a aposta do ex-presidente, preso em Curitiba, para as eleições.
Confira a entrevista de Lupi ao Jornal O Globo na íntegra!
O senhor acha que há chances de o PT apoiar Ciro Gomes?
Nós queremos essa aliança, não serei eu a dizer que não. Mas acho que o PT terá candidato. E, para mim, será o ex-prefeito Fernando Haddad. Eu faria o mesmo que o PT está fazendo, manteria a candidatura do Lula, até porque não tem outra saída. O processo que o PT está vivendo é dramático. Imaginar que, depois de todo esse processo, a meu ver injusto e arbitrário, o Lula será candidato, é ingenuidade. Acho que vão manter o Lula até onde der, depois vão lançar outro. Mas não vejo como esse outro nome tenha a expressão eleitoral que ele tem.
Duvida da capacidade de transferir votos?
Para a gente, a eleição já começou. Mas, para a população, é em cima da hora. Da cadeia, ele pode fazer uma carta para candidatos aliados nos estados. Mesmo depois de preso e com tudo o que passou, permanece com mais de 30%. Mas tem uma coisa, como o Garrincha falava: “Já combinou com os russos?”. Tem que combinar com o povo. Ninguém acredita que o Joaquim é o Manoel. Joaquim é Joaquim, Manoel é Manoel. É ilusão o PT imaginar que, com a candidatura impedida, transfira votos para qualquer nome que o Lula indique. Não é assim que funciona. Eu não acredito. Se fosse assim, a Dilma teria 80% das intenções de voto.
Quem é o principal adversário do Ciro?
Não acredito no Bolsonaro (no segundo turno). A direita saiu do armário, essa direita, mas é 8%, 10%. Essa direita, de “arma!”, “mata!” nunca foi 20%. Tem muito do voto protesto, o voto cacareco, que não vai ficar ali. O Bolsonaro não concatena as ideias, a fala dele é fraca, são jargões para agradar a direita que saiu do armário. Não dura. O Alckmin eu tenho como um homem sério. Está do outro lado do Rio Amazonas em relação à gente, mas um debate do Ciro com ele é um debate sério. Acho que o establishment não vai apostar no Meirelles, e não confia no Bolsonaro. Acredita e aposta no Alckmin, mas, se ele não se viabilizar, pode puxar da cartola o Álvaro Dias. Ele pode surpreender. Já o Meirelles vai acabar a eleição devendo voto. Vai ter precatório eleitoral. Já ouviu ele falar? É um terror. Carisma zero.
Também tem a Marina…
Ela é uma figura humana maravilhosa. Mas tem uma imagem muito frágil. Ela gera em todo mundo o sentimento de solidariedade. Daí a achar que vai se votar nela para presidente da República…
Ciro tentará se aliar a partidos do Centrão ou vai focar na esquerda?
Há dois tipos de alianças possíveis. Uma que não precisa de explicação: o PSB, o PCdoB, que têm décadas de aproximação ideológica. As outras são as possíveis alianças eleitorais que se dão pela viabilidade do candidato. Se o Ciro for subindo degrau a degrau, outros partidos virão. Os partidos do centrão vão ser a favor de qualquer governo que entre. A disputa deles agora é outra. DEM, PP, PSD, PR, PRB, PTB… Todos só pensam numa coisa: fazer deputado. Como fazer deputado depende muito das alianças regionais, não dá para ficarem todos eles no mesmo bloco. Então, esse pessoal vai se dividir (na eleição presidencial). Não é impossível inclusive sair candidatura própria daí.
Fala-se no nome do Josué Alencar (PR), que ainda teria a vantagem bancar a própria campanha…
Pode ser o Josué, que inclusive há um ano eu chamo para ser vice do Ciro. Mas isso de botar dinheiro, esquece! Se falar que ele tem de botar a mão no bolso, ele nem entra na sala de reunião. Não fica 15 segundos! Conheço a peça há 20 anos. Almocei várias vezes com ele, nunca pagou um almoço. Nem ameaça. Num gesto maior de generosidade, dividiu a conta. Com ele, só tomo água.
E a aliança com o PSB?
Estamos tendo essa conversa há mais de um ano. O problema são os estados, estamos resolvendo. Já estamos juntos em quase todo o Nordeste, no Espírito Santo. Tem estados em que o líder do PDT não se mistura com o do PSB, é azeite e água. Ou casos como o de São Paulo, onde o Márcio França (PSB) tem um compromisso com o Alckmin. É difícil, mas não é impossível. São Paulo e Rio Grande do Sul são as maiores dificuldades. Uma coisa é certa: o PSB não irá com o PT. É impossível essa aliança formal nacional. Ou vem com a gente ou libera os estados.
Mauro Benevides, economista da campanha de Ciro, fala em recriar a CPMF. Não é impopular anunciar aumento de impostos?
E daí que é impopular? Se você quiser mentir para a população, que minta. Eu não vou enganar ninguém. Um dos compromissos é (criar) um imposto socialmente justo. E este é o mais justo, cobra movimentação de dinheiro na conta. Quem movimenta mil, paga menos; quem movimenta milhão, paga mais. Não terá o nome CPMF, e não será o mesmo percentual de antes. Além disso, pretendemos aumentar a taxação das heranças.
E na eleição estadual? O senhor convidou Eduardo Paes para o PDT?
Sim. Mas o Eduardo estava querendo fazer um método, que ele aprendeu dentro do PMDB, que é ganhar por W.O. Ou seja, fazer aliança com todo mundo e disputar sem adversários. Mas você não agrada a Deus e ao diabo ao mesmo tempo. Quando ele vai pro DEM, como é que eu vou olhar pros meus netos e dizer “estou apoiando o DEM no meu estado”? Aí acabou. O Eduardo justificou para mim que escolheu o novo partido para evitar a candidatura do Cesar (Maia). Disse que, se o Cesar saísse candidato, poderia entrar no eleitorado dele. Em tese, pode ter razão, embora eu ache que o Cesar é bananeira que já deu cacho.
O PDT terá nome próprio a governador?
Seria a (delegada e deputada estadual) Martha Rocha. No início do ano, fizemos uma pesquisa em que ela aparecia ate à frente do Eduardo Paes. Ela viu e disse “ai, meu Deus, e se eu ganhar?”. Ali perdemos a candidata. Foi melhor, porque escolhemos o (deputado estadual) Pedro Fernandes, que vai surpreender. Tem só 35 anos, tem voto para caramba na cidade do Rio. Vai disputar com Eduardo e com Índio (da Costa). O Romário não acredito que saia candidato. Ele não tem estrutura para aguentar o que vai aparecer de erros durante uma campanha. O (Anthony) Garotinho também acho que não sai, deve tentar ser deputado estadual.
O senhor é lotado no gabinete de um vereador do PDT no Rio mas nunca vai à Câmara. Não é errado?
É comum em todo gabinete de líder de bancada ter um cargo destinado a um assessor que faz atividades partidárias, que são inerentes ao mandato. Sou servidor da prefeitura do Rio, cedido à Câmara, e já pedi minha aposentadoria. Quando sair, vou deixar o gabinete.
Com informações do Jornal O Globo